Esculpindo um texto

Sergio Diniz da Costa: Crônica ‘Esculpindo um texto’

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Imagem gerada pela IA do Bing30 de agosto de 2024 às 11:01 AM

Estou diante do meu computador, instigado, mais uma vez, por um lampejo de criatividade. É o momento de dar à luz mais uma crônica.

Dou o primeiro e imprescindível passo: colocar um fundo musical. Numa altura que não se sobreponha à ebulição dos pensamentos. 

 Abro o editor de textos Word. Uma alvíssima página virtual em branco se descortina à minha frente. E, imediatamente, e sem aparente explicação, me vem à mente a imagem de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, mais conhecido simplesmente como Michelangelo, pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano do século XV, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente e conhecido como ‘O Divino’, autor, dentre tantas esculturas e pinturas célebres, da escultura ‘Moisés’, esculpida entre 1512 e 1515.

         A associação da imagem de Michelangelo à da tela em branco, num primeiro momento me intriga. Entretanto, aos poucos a associação ganha contornos definidos. E concluo que o escritor também é um escultor. Seus dedos sobre o teclado, o martelo; a soma de conhecimentos, seu cabedal cultural e a inspiração, o cinzel. A página em branco, a matéria-prima.

Em vez de uma peça bruta de mármore, tridimensional, porém, esculpe seu texto numa página em branco, bidimensional. Em duas dimensões físicas, no entanto, o escritor esculpe ideias, mundos de tantas dimensões quantas são as do espírito humano.

Conta-se que Michelangelo, após terminar de esculpir a estátua de Moisés, passou por um momento de alucinação diante da beleza da escultura. Bateu com um martelo na estátua e começou a gritar: “Per ché non par li?” (Por que não falas?)* 

Tanto um ‘Moisés’ quanto um texto (em forma de poemas, crônicas, romances), porém, são fontes torrenciais de diálogos, imagens e sentimentos mudos que cabe ao seu admirador, ao seu leitor, ver e ouvir. E, acima de tudo, sentir!

Estatuárias e outras formas de arte, bem como livros, são a alma e o pensamento humano que se manifestam e ecoam pela eternidade. E, certamente, são estas manifestações do espírito que nos galardoam, verdadeiramente, com a transcendência da palavra HUMANIDADE!

* Wikipédia: a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mois%C3%A9s_(Michelangelo) >. Acesso em: 20/08/2016.

Sergio Diniz da Costa

Voltar

Facebook

 




Verônica Moreira: 'O Grande Navio da Vida'

Verônica Moreira

O Grande Navio da Vida

Parece muito mais simples quando a dor não é sua, quando não é você quem precisa superar algo ou simplesmente tomar decisões definitivas. Não é fácil sobreviver a uma tempestade que deixou grandes sequelas e viver como se a tempestade nunca tivesse acontecido. Dizem que o bom marinheiro nunca abandona o navio; de fato, por isso muitas pessoas boas morrem defendendo uma causa que não é responsabilidade apenas delas.

Havendo buracos no navio, um marinheiro por mais hábil que seja, dificilmente conduzirá o navio sem que haja um naufrágio antes de chegar ao destino. Caso o navio afunde, não é culpa apenas do marinheiro, mas daquele que permitiu que o navio saísse do porto de embarcação sem nenhuma manutenção, ou mesmo, daquelas pessoas que, sabendo dos buracos, decidem navegar assim mesmo e contar com a sorte.

Quando passamos a viver em prol dos outros e esquecemos de nós, nos tornamos um navio cheio de buracos que deposita toda confiança no marinheiro, que pode ser seu cônjuge, amigo, pai, mãe, irmão, ou simplesmente alguém no qual você depositou sua confiança.
Para termos sucesso em nossas vidas, em nossos relacionamentos e na sociedade, é preciso que haja uma consciência e maturidade psicológica, para não acharmos  que todo mundo ao nosso  redor é responsável por nossos tropeços e fracassos. Ninguém conduz um navio sem tripulantes e trabalhadores profissionais; torna-se extremamente importante um trabalho em equipe  para que tudo corra bem durante a viagem neste grande navio da vida…

É muito simples e fácil encontrar falhas no outro, quando na verdade  somos tão imperfeitos quanto os outros. É um erro culpar alguém pela desordem que muitas vezes é causada por nós mesmos. Que possamos aprender a amar as pessoas sem comparações e cobranças,  pois cada um de nós enfrenta no dia a dia  algo que muitas vezes ninguém nem imagina a extensão e o estrago que muitas  situações  podem causar na vida das pessoas. Mesmo as aparentemente felizes e sorridentes, levam escondido por detrás de um sorriso dores que muitos não viveram.

Ame as pessoas, mesmo com suas cicatrizes, suas feridas e sua ignorância. Um dia, com certeza, você enfrentará algo semelhante e entenderá a importância de estar de mãos dadas durante uma forte tempestade. Saberá também o quanto o perdão liberta e cura a alma, nos tornando pessoas mais capacitadas a enfrentar as grandes tempestades que se puserem em nossos caminhos e, ainda, nos permitindo ver e compreender o quanto é importante sermos benevolentes com os outros irmãos.

Sejamos mais solidários com todos!




Verônica Moreira: Mulheres são mesmo difíceis?

Verônica Moreira

Mulheres são mesmo difíceis?

imagem de própria autoria

Mulheres são mesmo difíceis?
Quantas vezes você já ouviu essa frase?
Se você é mulher, ouve com frequência, deveria observar quem está dizendo isso pra você diariamente. Pois, com certeza, é alguém que não sabe se relacionar contigo, alguém que não merece sequer sua atenção e que, certamente, não poderá segurar sua mão quando a mudança hormonal lhe fizer pirar, quando seus nervos estiverem à flor da pele ao ponto de nem você mesma se suportar…

Para muitos homens, não generalizando, a mulher perfeita é aquela que vive facilmente, a do tipo Amélia, aquela que vai passar fome ao seu lado, aquela que não lhe cobra presença e nem atenção, aquela que estará sempre disposta quando o amorzão quiser carinho. Quantas Amélias estão por aí sozinhas porque o amorzão a quem elas tanto amam e respeitam, está de chamego com outra na balada, nas noitadas por aí.

Não deve ser fácil ser a mulher da música, aquela que não tinha a menor vaidade e que era denominada pelo compositor como “mulher de verdade”.
De fato, essa inspiração do cantor dizia respeito a uma mulher da qual ele sonhava possuir. Era assim o perfil de mulher de verdade que ele considerava perfeito.

Mas, com este texto, não quero subjugar a Amélia,  porque, se ela existiu, com certeza ela era mulher de verdade! Assim como todas nós somos…
Somos inspiração para poetas, compositores, cantores e artistas plásticos, gráficos etc.

Digo isso porque todas somos mulheres de verdade, o problema é que, infelizmente, vivemos debaixo de um jugo machista e desumano que pensa que mulher nasceu apenas para submissão e para servir.

Mulher não é difícil não, meu amigo, difícil é você, que não sabe amá-la, que não sabe ser abraço que aconchega, que não sabe o momento de calar-se diante dela durante uma crise de ansiedade.

Difícil é você, que, mesmo notando o cansaço e a tristeza no  semblante dela,  continua exigindo  aquilo que está ao seu alcance, simplesmente porque tem preguiça de desgrudar o traseiro do sofá.

Difícil é ela ter que dormir ao lado de alguém que está pouco se lixando quando ela perde uma noite de sono e a deixa ali, enfrentar seus dragões noturnos sozinha. Difícil é ela acordar de manhã e se sentir sozinha.




Sergio Diniz da Costa: 'Texto: uma caixa de lápis de cor e um jogo de quebra-cabeça'

Sergio Diniz

“A pobreza, em relação ao conhecimento e à cultura geral, aliados à falta de criatividade, representa uma caixa de cor de apenas seis cores e lápis pequenos. E a um jogo de quebra-cabeças com poucas peças.”

 

“Quando eu era criança, adorava colorir desenhos em preto e branco,

com meus lápis de cor. E, de tanto fazer isso, quando adulto passei a colorir

papéis brancos com palavras de cor.”

(COSTA, Sergio Diniz da. Pensamentos soltos na brisa das tardes. Vol. 1.

Sorocaba/SP: Crearte Editora, 2018)

 

Escrever um texto para quem é alfabetizado é um ato relativamente simples. Ou deveria ser. O desafio mesmo é escrever um grande, um ótimo texto!

Textos comuns e mal escritos, desde simples manifestações, comentários no Facebook e até mesmo trabalhos acadêmicos, vemos pululando, enxameando, infestando por todo lugar e a toda hora.

Curiosamente, o problema não está tão somente na falta de escolaridade para quem a teve ou a tem. Utilizando uma linguagem popular, o “buraco é mais embaixo”. Pelo menos aparentemente, parece faltar às novas gerações, mais do que a necessidade, o gosto, o prazer pelo conhecimento, o encantamento com a cultura geral.

Não bastasse a falta de um mínimo de domínio das regras de Português, falta imaginação, criatividade, qualidade que o cultivo da leitura de obras universais consagradas nos impregna, semelhante a um processo de osmose.

Um texto é análogo a uma caixa de lápis de cor e um jogo de quebra-cabeças.

A pobreza, em relação ao conhecimento e à cultura geral, aliados à falta de criatividade, representa uma caixa de cor de apenas seis cores e lápis pequenos. E a um jogo de quebra-cabeças com poucas peças.

Quando eu era criança, apesar de gostar de desenhar e colorir desenhos, a condição financeira dos meus pais não permitia que eu e meus irmãos tivéssemos material escolar de boa qualidade, e, menos ainda, em quantidade.

Por todo o período dos primeiros anos escolares nutri a insatisfação, a tristeza de não poder ter uma caixa de lápis de cor de 12, 24 e, menos ainda, 48 cores!

Tal se dava, também, com os jogos de quebra-cabeça. Jogos com poucas peças e poucas imagens a serem reproduzidas.

O hábito da leitura, no entanto, aguçou minha imaginação e levou-me a ser, na fase adulta, um escritor. E indo mais longe, revisor de textos e livros.

Um texto mal escrito é semelhante a uma caixa de cor de apenas 6 cores. E a um jogo de quebra-cabeça com poucas peças.

As ‘cores’, no caso, representam o vocabulário pobre e a falta de intimidade com o significado das palavras. E as palavras, às vezes, parecem sacis nos enrodilhando em seus redemoinhos de significados e sentimentos.

O desconhecimento básico das regras de pontuação, por sua vez, contribui para a elaboração de textos de redação paupérrima. E a pontuação, na urdidura de um texto, é como uma espada nas mãos de um bárbaro ou de um espadachim.

Algumas pessoas se apropriam das palavras feitos ladrões noturnos, enquanto que, na qualidade de um simples comentarista a um escritor, devem (e podem) ser artesãos que, com elas, tecem longos tecidos de sonhos.

Com um vocabulário pobre, uma visão cultural deficiente e desconhecendo as regras da boa redação, as palavras para essas pessoas são poucas peças com as quais, desordenadamente, montam quebra-cabeças que exibem paisagens áridas, ou figuras distorcidas, dantescas.

Se o problema dos textos mal escritos está devidamente posto, o ‘nó górdio’* a ser desatado pelos modernos Alexandres o seria por meio de um mergulho à base do problema em si; base que tem raiz nos primeiros anos de vida, talvez mesmo no período de gestação, em uma futura mamãe lendo em voz alta para um filho ainda sem um rosto definido, contudo, com uma alma presente e já preparada para começar a receber as sementes da leitura e da escrita.

Esse filho, desta forma, receberia de sua mamãe uma caixa de lápis de cor etérea com infinitas cores. E um jogo de quebra-cabeças com o qual montaria paisagens transcendentais!

 

*  O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia (Ásia Menor) e Alexandre, o Grande. É comumente usada como metáfora de um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente por ardil astuto ou por “pensar fora da caixa”.

Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria todo o mundo.

Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que em 334 a.C. Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

É daí também que deriva a expressão “cortar o nó górdio”, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz. (Wikipédia, a enciclopédia livre.)