Ventos a soprar

Irene Rocha: Poema ‘Ventos a soprar’

Irene Rocha
Irene Rocha
Ventos a soprar
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Nos ventos a soprar, encontro minha voz,
Coragem e fé, na jornada sem repousar.

Estrelas guiam, estradas se revelam,
E no mar sereno, o brilho que se espelha.

Sol e Lua, eternos guardiões da emoção,
Ao meu lado, a vibração da inspiração.

Pássaros, pedras, seres em harmonia,
Na terra e ar, a vida em sinfonia.

Amor em cada batida, em cada olhar,
Dias cavalgados, horas a navegar.

Sonhos que tecem cada instante fluente,
A vida dança, poesia eloquente.

Irene Rocha

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Vi e senti amor em meio à dor

Edna Froede: ‘Vi e senti amor em meio à dor’

Edna Froede
Edna Froede

Testemunhei a fúria da natureza em um único Estado, onde chuvas torrenciais, enchentes, rios transbordando e ventos violentos isolavam pessoas, derrubavam casas e levavam consigo vidas inocentes. Vi a devastação sem piedade, levando tudo em seu caminho, das casas às árvores, dos carros às esperanças.

Ouvi os gritos de desespero, a fome, a sede, o pavor ecoando por todos os lados. E nesse caos, como um lamento coletivo, vi algo surpreendente: uma força protetora, como se a própria terra estivesse defendendo-se da ganância humana que busca desenraizá-la.

Nesse cenário desolador, vi poderosos e simples, justos e ímpios, todos compartilhando da mesma angústia. Mas mesmo na adversidade, uma presença divina parecia guiar os destinos. Aqueles que mantinham a fé permaneciam firmes, enquanto os descrentes lançavam suas blasfêmias.

Contudo, em meio à desolação, vi algo ainda mais poderoso emergir: o amor. Vi pessoas se unindo em solidariedade, estendendo mãos amigas para salvar os desamparados. Vi, ouvi e senti a essência humana se elevar acima do terror, revelando a beleza da compaixão em tempos sombrios.

Assim, vi em meio ao caos e ao terror, a beleza e a harmonia do amor.

Edna Froede

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Paradoxo de um caule

Ella Dominici: Conto ‘Paradoxo de um caule’

Ella Dominici
Ella Dominici
Paradoxo de um caule
Paradoxo de um caule
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Sobre angústias e conflitos da própria aceitação de como se é, se apercebe o jovem num jardim desértico sem se julgar um cravo, sem saber ser rosa.

     Agarrando-se ao tédio havia espinhos afiados, por baixo das folhas e aderido ao caule. Enquanto todos viam floradas, a música tocava o som ambiente à preferência da maioria que a ouvia absortos.

    Somente ele sabia que era um caracol que perdera sua concha, onde se encontrava a concha que o abrigara durante trinta anos?

    Mera caixa de correio, simples caixa de sapatos alheios, onde seu pé não cabia, ou talvez uma forte caixa torácica que se despedaçara desalmada, para ressurgir em inusitadas expressões de si e do outro em si.

    Sabia que dia mais, dia menos, se descobriria nu como um molusco.

      Fora, a chuva caia de cabeça para baixo, soprada pelos ventos como fitas de pipas.Pela janela um pobre gambá de listras pretas e brancas se dizia feliz assim molhado por águas que não voltam como chuvas, mas evaporadas podem levar aos ares seus odores, os que não agradam e quem sabe, metamorfoseados tais olores de brisas.

    Com quanta preocupação vivia Rafaello, tão admirado pela sociedade purista, ele que houvera conseguido tantos êxitos para um jovem estrangeiro de classe média para baixa, aquilatado pelos dons musicais em seu piano, pela língua francesa e alguma graduação e pós-graduações.

     Ele, o culto, sentia-se a ver-se verme sem pátria nem corpo, oculto, para se instalar em algum conforto.

     Paradoxal o posicionamento entre êxitos e seu fracasso triunfal.

       A consciência era um tropeço em seu céu de estrelas ofuscadas, e cintilavam pífias como  vergonha celeste.

       O negrume do céu era um ‘eu’ ameaçado por todos os espectadores boquiabertos, como peixes impactados por secas águas. Estes peixes nunca se apaixonaram por sereias nem acreditavam em paixão por algum ser incrivelmente marítimo.

        Eram os peixes-esqueleto e espada, abjetos, confiando e convivendo apenas em nados planejados.

       E a água do mar é furada por majestosas ondas de adagas.

      As águas do jovem desaguam em semelhante jovem.

      O nado é um desagrado às humanidades que rejeitam a chuva que chove para todos os lados.

     Engano é o murmúrio aceito aos preconceitos, enquanto a verdade doída aos alheios imbrica-se em duas vidas de anseios de olhos, encontros daquelas conchas perdidas, brilho lume daquelas estrelas ofuscadas.

    O vapor do hálito das almas conjugadas se decide no primeiro beijo.

    Como driblar as cartas que chegam no correio da vida real, a família, os enredos morais que sempre foram panos de tanta admiração e respeito pessoais.E nos rituais de desespero buscando reconciliação consigo, com suas promessas descumpridas, com seus laços atados em detrimento dos rompidos.

    Até quando Rafaello? Até quando o recostar em escarpas de convicções. Até quando amar enquanto se colhe cactos com mãos descobertas sangrando. Até quando deserto, água da miragem ou sede escaldante?

    Neste dia interminável o choro epifania lavava um ser em sofrida cidadania, longe de suas lembranças infantis, suas construções poéticas de vida, suas constatações individuais homéricas, seus gelatos italianos feitos com sal de oceano.

    Rafaello  em seu jardim platônico de paixão de sorriso-pálido, descobrira- se neste tête- à-tête de recusas aos espinhos, é quando as pétalas de rosa desabrocham em seu caule afetivo.

Ella Dominici

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Meu coração viajante

Eliana Hoenhe Pereira: Poema ‘Meu coração viajante’

Eliana Hoenhe Pereira
Eliana Hoenhe Pereira
Voei com sutileza pelas minhas profundezas, onde ninguém podia me encontrar
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Deixei-me levar pelos caminhos dos ventos.

Percorri intensos sentimentos,

Voei com sutileza

pelas minhas profundezas

onde ninguém podia me encontrar.

É preciso voar

E pela vida se apaixonar.

Flutuei por entre cores e flores

sem olhar para trás.

Fui de mansinho 

em busca de outros ninhos.

O vento assobiava uma doce melodia

e me fez companhia.

Meu coração viajante,

ainda que por alguns instantes,

vi o seu olhar refletido no mar.

Eliana Hoenhe Pereira

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