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Erica Matias, a jovem alagoana colunista do ROL, teve o conto 'Reencontro' premiado no V Concurso de Contos Arriete Vilela

O conto ‘Reencontro’ foi premiado no V CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA, promovido na Universidade Federal de Alagoas – UFAL durante a X Semana de Letras Linguagem e(m) diálogos, que aconteceu no período de 08 a 22 de setembro de 2017

 

O primeiro conto e uma premiação

Algumas pessoas parecem predestinadas ao reconhecimento imediato de seu talento natural.

Foi o que aconteceu com Erica Matias, a jovem alagoana de 24 anos, que enriquece o Quadro de Colunistas do jornal ROL – Região On Line!

Em agosto deste ano, Erica classificou-se em 1.º lugar no 13.º Concurso Literário Nacional ‘Prof. Armando Oliveira Lima’. Em setembro, teve poema selecionado no projeto ‘Doce Poesia Doce’, de Salvador/BA e, agora, premiada no V Concurso de Contos Arriete Vilela!

‘Reencontro’ foi o primeiro conto escrito por ela. E, com ele, Erica foi premiada no concurso  promovido na Universidade Federal de alagoas – UFAL durante a X Semana de Letras Linguagem e(m) diálogos, que aconteceu no período de 8 a 22 de setembro de 2017.

A premiação teve um efeito impactante em Erica! Tanto que uma ‘onda’ de inspiração a cobriu e ela está escrevendo outros contos, a fim de publicar um livro!

A jovem poetisa se diz apreciadora das obras de Arriete e afirma que ela, como pessoa e escritora, lhe é  uma fonte de inspiração.

 

Arriete Vilela

Não é sem motivo que Erica se diz inspirada por Arriete Vilela, alagoana de Marechal Deodoro, autora de mais de 30 prêmios, dentre eles onze nacionais, concedidos pela União Brasileira de Escritores/UBE/Rio e recebidos na Academia Brasileira de Letras.

Poetisa,  contista e romancista, a partir de 1980, publicou livros de contos (Farpa; Maria Flor etc; Tardios Afetos; Grande Baú, a Infância), editados em Contos Reunidos (2011), e de poemas (A Rede do Anjo; Vadios Afetos; O Ócio dos Anjos Ignorados; Frêmitos; A Palavra sem Âncora; Ávidas Paixões, Áridos Amores), reunidos em um único volume: Obra Poética Reunida (2011).

Em 2012, publicou Luares para o Amor não Naufragar (poemas) e Alzirinha (infantojuvenil), e, em 2015, Teço-me (poemas) e Abraços (poemas).

‘Fantasia e avesso’, uma prosa poética pontuada pelo discurso erótico-amoroso e pela paixão ao fazer literário, atualmente na 5.ª edição, foi adotado no vestibular da UFAL por 3 anos e proporcionou à autora vários prêmios, inclusive nacionais.

‘Grande baú, a infância’ é considerado outro grande sucesso de Arriete Vilela e está na 5.ª edição (Edufal, 2015); em março de 2007, foi lançado, pela Edufal, em linguagem braille.

Em 2002, a biblioteca setorial do programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Ufal passou a chamar-se Biblioteca Escritora Arriete Vilela, por iniciativa da profa. dra. Belmira Magalhães.

Em 2005, foi editado o primeiro romance de Arriete Vilela, ‘Lãs ao vento’, que recebeu o Prêmio Lúcia Aizim, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e o Prêmio Internacional de Literatura, da Academia Feminina Mineira de Letras.

Em 2005, recebeu a Comenda Nise da Silveira, concedida pelo Governo do Estado, em reconhecimento à sua atuação na cultura alagoana.

Em 2007, a Construtora Colil lançou o Condomínio Praça dos Poetas, que conta com três prédios residenciais: Edifício Jorge de Lima, Edifício Arriete Vilela e Edifício Lêdo Ivo.

Em 2011, Arriete Vilela teve cinco poemas traduzidos para o espanhol e publicados na Antologia de poetas brasileños actuales (edição bilíngue), pela Paralelo Sur Ediciones, Barcelona, Espanha.

O livro ‘Maria Flor etc.’ foi adaptado pela PANAM Filmes, produtora alagoana, e exibido em 3 de outubro de 2012 com o título ‘Farpa’.

Em 2013, foi instituído o I Concurso de Contos Arriete Vilela, pela Faculdade de Letras e o Programa de Educação Tutorial do Curso de Letras da Universidade Federal de Alagoas (Pet/Letras).

Sobre sua obra, que é reconhecida e estudada nos meios acadêmicos, há inúmeros artigos de professores universitários, críticos literários e escritores, tanto de Alagoas como de outros Estados.

Aposentada da Ufal, Arriete Vilela divide-se entre os Cursos de Leitura e Escrita Criativa, que ministra sistematicamente, e as palestras em escolas e faculdades para as quais é convidada com bastante frequência.

 

  A jovem contista, ao lado de sua ‘Musa Literária Inspiradora’, Arriete Vilela’, no momento da premiação

 

O conto ‘Reencontro’

Com uma inspiração de tal magnitude literária, Erica  Matias iniciou sua prosa em contos com uma honrosa premiação.

E vale a pena conhecer sua primeiro produção nesse gênero!

 

                                                                  REENCONTRO

 

No inverno de 1985 em uma tarde chuvosa, às 16h50mim, encontrava-se Cecília, mal agasalhada, tremia de frio, tinha consigo apenas um livro que cuidadosamente entre os braços tentava protegê-lo dos pingos d’água. Contava incessantemente os segundos no relógio da estação do Centro na cidade do Recife, onde ela estava esperando ansiosamente o trem das 17h para retornar a sua casa.

Poucos minutos depois, com o pensamento distanciado, os olhos que estavam rodeados de olheiras avistaram o trem, que como sempre chegava pontualmente e aos poucos ele aproximava-se daquela menina, ela nem imaginava que dentro dele havia alguém pré destinado a mudar sua vida completamente.

Logo, o trem parou na estação. Desceram uma, duas, três, … oito pessoas. Ela fez questão de contar uma por uma de tão ansiosa que estava, pois mal via a hora de entrar, sentar-se e sentir-se um pouco aquecida. Naquele ano teve início a circulação dos primeiros trens, ainda eram poucas as pessoas que usavam esse meio de transporte.

Quando o trem parou Cecília entrou, procurou entre os vagões um assento preferencialmente ao lado de uma janela, lugar preferido dela, pois gostava de viajar olhando as paisagens, as quais o caminho de casa presenteava àqueles olhos que de tão azuis pareciam o mar.

O trem levava poucos passageiros e Cecília ao entrar, avistou o assento onde costumava sentar-se na maioria de suas viagens. Até então foi mais um dia de sorte, ele estava vazio. Aproximou-se, sentou-se e pôs o livro no banco do lado. O apito soou e sem demora, o trem continuou a viagem.

Fixou os olhos na imagem do lado de fora que aos poucos ia ficando para trás. Os pingos da chuva molhavam o vidro da janela, escorriam como lágrimas, mas eles não impediam que ela deixasse de contemplar aquele fim de tarde nebuloso. E a cada minuto que o vento frio embalava seus lisos e longos cabelos ruivos, ela parecia mais fascinada. Era como se estivesse esquecida do mundo ao seu redor, e de fato estava. Vivia no auge dos 18 anos, lia muitos romances e preocupação era uma palavra desconhecida em seu vocabulário aprimorado. Sempre distraída, nem se quer deu importância para os olhares constantes de Lourenço, os quais eram direcionados a ela. Ele estava sentado na cadeira em frente à Cecília.  Era um rapaz jovem, alto, bem apresentável, ficou imediatamente encantado com a beleza singular daquela moça, dona de um pensamento alheio. Olhava-a repetidamente e só avistou o livro de Cecília quase meia hora depois que ela sentou-se.

Meio afastado, estava curioso para saber sobre a jovem que lhe prendia o olhar. Naquele momento qualquer informação era valiosa. Recém-chegado no Recife, ele pensou em puxar assunto, perguntar sobre a cidade a qual estava adaptando-se, mas Cecília estava tão concentrada e ao mesmo tempo distraída, que resolveu permanecer calado. Lourenço ergueu um pouco a cabeça e leu: O doce mistério de um olhar. Era o título do livro que estava escrito na capa grossa.

­– Uau! Parece-me interessante. Pensou ele.

O balanço e o barulho causado pelos trilhos, eram o que faziam lembrar a bela menina que ela estava na terra, no seu mundo real.

Era quase noite, a forte chuva amenizava e o apito do trem anunciou a próxima parada, Estação Werneck, um pouco menos movimentada do que a Estação do Centro.

Cecília esperou o trem parar e ajeitou os cabelos que entrelaçavam seu rosto. Nesse instante, os seus olhos avistaram os de Lourenço, duas luas negras a comparar-se com a cor do chapéu que ele usava. O jovem tinha um olhar profundo. Tímida, Cecília dirigiu-se à porta de saída e desceu. Meio hipnotizada com aquele olhar, andou alguns passos, mas ainda na Estação lembrou-se que deixou o livro no assento do lado que ela estava. De imediato desesperou-se, correu, gritou, mas o trem já havia partido. Era um livro de romance que tinha ganhado há poucos dias no seu aniversário.

– Adorei as dez primeiras páginas da história. Agora é tarde para saber o final. Disse ela.

Ao longe, o trem ia rumo à Estação Coqueiral, onde findava o destino de Lourenço. Após a descida de Cecília, Lourenço percebeu que o livro havia sido esquecido. Pela janela, tentou procurá-la, mas não a viu. A comunicação com o maquinista estava impossibilitada, pois uma cabina os separavam.  Em seguida o moço leu novamente o título do livro, segurou-o firme com as duas mãos e abriu a capa. Estava escrito com caneta azul a seguinte dedicatória:

Para Cecília,

Que este livro te mostre um novo horizonte.

Essa frase o deixou curioso para saber sobre o enredo, então leu as primeiras páginas, no máximo três, quantidade suficiente para chegar na Estação Coqueiral. As poucas palavras que os olhos avistaram, revelaram sobre o romance proibido de um jovem casal.

Recém-formado em Jornalismo, Lourenço morava com os pais no interior e resolveu ir para a casa de um tio na capital pernambucana com o intuito de conseguir um emprego na cidade grande.

No dia seguinte, terça-feira Cecília foi logo cedo para a Estação Central. Estava esperançosa, pois só havia um maquinista que fazia o percurso naquela cidade e em seu pensamento possivelmente ele estivesse com o livro. Às 07h, o trem chegou, mas o condutor não soube informá-la sobre o objeto perdido. Triste e sem esperanças, entrou em um dos vagões e voltou para casa. Dessa vez, pouco importava o local para sentar-se.

Na tarde daquele dia Lourenço dirigiu-se ao Centro do Recife, onde há duas semanas ia procurar emprego, levou o livro na bolsa para entrega-lo à Cecília, caso a encontrasse. Contava com frequência as horas no relógio da estação, eram 16h31min … e procurava atenciosamente aqueles olhos azuis que os deixaram encantado. Mas não os viam.

A mesma cena repetiu-se até a quinta-feira. Na sexta, já próximo das 17h, estava ele mais um dia na Estação, como sempre ansioso, mas meio sem esperança. Prestes a desistir da procura, aproximava-se a hora do trem chegar. Naquele dia fazia sol. Era entardecer, o céu transformou-se em uma aquarela e o sol timidamente despedia-se da tarde clara. Eis que surge, ainda ao longe, a confundir-se com o arrebol aqueles cabelos ruivos que diante de Lourenço foram oscilados pelo vento frio.

Aproximando-se da estação, com a cabeça baixa e distraída como sempre, Cecília

dirigia-se à plataforma. Sentado em um banco, Lourenço avistou uns longos cabelos arruivados e gritou eufórico:

– CECÍLIA!

Sem demora, ela levantou a cabeça, direcionou os olhos aos dele e os reconheceu. Com o coração palpitando aceleradamente, disse:

– Sim! Sou eu, e você como se chama?

– Sou Lourenço, estava a sua procura para entregar-te este livro.

Naquele momento, o coração que palpitava depressa, parecia estar prestes a sair pela boca e alçar voo de alegria.

– Muito agradecida! Disse ela.

Deram um forte e demorado abraço.

Piui! Piuiii!… O trem aproximava-se.

E assim, iniciou-se uma linda história de amor com o doce mistério de um olhar.

Sergio Diniz da Costa
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