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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'A escola sem partido'

“(…) Somente esse fato já sugere que a proposta, se acaso fosse boa e legítima, vem em péssima hora, quando os ânimos estão exaltados e a intolerância contamina o ar.”

 

Cresce de forma vertiginosa a proposta nas Casas Legislativas do Brasil da criação de leis que buscam coibir um suposto “caráter ideológico” das instituições escolares. Essa proposta recebeu o nome de “Escola sem partido” e não é criação brasileira, mas apenas uma cópia de ações similares ocorridas em outros países, em especial os Estados Unidos.

Em Sorocaba, cidade vizinha da região, um vereador apresentou projeto de lei nesse sentido. O desenrolar dos fatos desembocou na organização de duas audiências públicas: uma chamada pelo vereador postulante e a outra por vereadora que se opõe a tal medida.

Diferentemente do que ocorre em outros assuntos, o da discussão sobre a viabilidade da “Escola sem partido” teve de ser feita em duas etapas, separando-se praticamente os dois lados da questão. Somente esse fato já sugere que a proposta, se acaso fosse boa e legítima, vem em péssima hora, quando os ânimos estão exaltados e a intolerância contamina o ar. Em resumo, não é o momento adequado para um debate democrático, mas antes para um embate ideológico que não faz bem a ninguém.

Basta verificar que grupos organizados têm reforçado os estereótipos do conservadorismo versus progressismo, da “direita” contra a “esquerda”. O problema maior é que entre essas brechas o radicalismo cresce. Com isso, gritos histéricos e depoimentos extremamente apaixonados, cuja linguagem corporal permite perceber o reflexo sísmico das tremedeiras comuns nos debates calorosos carregados de fanatismo.

No entanto, o que se pergunta é: qual o benefício que a “Escola sem partido” traz para a educação? Durante as discussões sobre o projeto de lei sorocabano, os que defendem a aplicação dessa lei apresentaram como argumentos que os professores são, em sua esmagadora maioria, marxistas comunistas e que doutrinam os estudantes de forma a afastá-los dos princípios morais do cristianismo e dos bons costumes. Um dos participantes chegou a tirar da cartola a cifra de 80% dos professores como filiados ao “Partido Comunista do Brasil”!!!!

Creio que nem se juntar todos os filiados do PC do B não se alcança tal cifra entre os professores. Nem em Sorocaba, nem em Porto Feliz e em nenhuma cidade brasileira. Argumentos pífios, baseados em “nada”, recheados de suposições estereotipadas e intolerantes não oferecem qualidade ao debate. Seja de um lado, seja do outro.

               Entretanto, a mobilização de grupos organizados como “Direita São Paulo”, “São Paulo Conservador”, “MBL – Movimento Brasil Livre”, “Vem pra rua” entre outros, gastando energia e envenenando bílis, somente para pressionar professores a se converterem em simples transmissores de informação acrítica chega a ser estranho. Afinal, se ao professor não for permitido o trabalho do despertar crítico do estudante, formando verdadeiros cidadãos, conforme preconiza as diretrizes educacionais, a que se reduzirá essa profissão já tão desprestigiada socialmente? Porque, para ser um simples transmissor de informações “neutras” – o que não existe – a internet criou os buscadores como o Google.

Ademais, a obrigação de transmitir todas as versões e pontos de vista possíveis e imagináveis sobre determinado conteúdo programático é inexequível. Basta imaginar a seguinte situação: numa aula sobre o Evolucionismo. Ao professor cabe a tarefa de realizar a transposição didática de um conhecimento científico acumulado pelas gerações. Versões outras sobre o assunto sabemos existir. Porém, não faz parte de nossa formação enquanto professor aprofundar a visão bíblica sobre a origem humana. Isso porque, num país plural como o nosso, tal professor precisaria ser um profundo conhecedor de outras religiões – afinal, como pensam os candomblecistas, por exemplo, acerca do surgimento dos seres humanos – além de um exímio mitólogo, antropólogo, sociólogo, historiador, geógrafo… Enfim, levaria uma vida toda estudando, sem poder nunca exercer a sua profissão de educador.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro – 11.10.2017

carlosccavalheiro@gmail.com

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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