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Pedro Novaes: 'Eu, morto'

Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘EU, MORTO’

 Foi, de fato, um pesadelo.

Sonhei que havia morrido. Ao contrário de tantos, o velório contou com apenas uma viúva, que chorava copiosamente.

O idiota da funerária não retirou os espinhos, antes de lotar o caixão com ramos de roseira, e só não xinguei por estar morto. Os filhos sequer demonstraram qualquer interesse em herdar a botina, a piteira e o golzinho 2002.

Compareceram os abutres de sempre, dizendo à família que eram meus credores. Foram rechaçados pelo simples fato de que um finado tão pão-duro jamais contrairia tantas dívidas.

Faísca, em crise nervosa, acabou internada em uma clínica veterinária, até que a justiça resolva quem será seu novo tutor. Por testamento, tem direito a uma pensão, que mais parece hotel.

Notei a quase absoluta ausência de políticos, no velório. A família é pouco numerosa, e não estávamos em período eleitoral, indicativo de que jamais seria nome de rua.

Executivos sequer mandaram representantes. Temer, por estar ocupado tentando ficar, e Alckmin ocupado tentando ir.

Enquanto o velório seguia, com farta distribuição de café e água, fechamento de negócios e muitas fofocas, fui abduzido a uma nuvem, onde um velhinho barbudo olhava e sorria, sem fazer qualquer pergunta.  Tentei o diálogo, e disse que era oriundo do Brasil, tentando inspirar alguma comiseração ou até mesmo algum perdão.

O velhinho era, antes de tudo, um chato, e apenas sorria. Como sabia de tudo, nada tinha a perguntar ou a responder.

Surgiu, por entre nuvens, um sujeito de branco, com cara de comissionado, dizendo que eu deveria agradecer por não estar na terra, na campanha eleitoral de 2018. Avisou que não mais precisaria trabalhar, buscar inspiração para o sexo, discutir com o chefe, reclamar do salário, fumar, comer, beber, ir ao banheiro, e que não sentiria frio nem calor.

Jamais imaginei que o céu fosse tão monótono e entediante. Soubesse, teria aprontado poucas e boas.

Tentei, por entre nuvens, bisbilhotar a vida da viúva, ou sondar a intimidade da filha do vizinho, mas não permitiram. Tentei saber se os filhos haviam descoberto a caixinha onde guardava moedas, mas tudo era proibido.

O comissionado voava de nuvem a nuvem, aparentando estar trabalhando, mas era pouco convincente. Tentei perguntar da Lava Jato, da Coréia do Norte e da Venezuela, mas disseram que eu devia esquecer as coisas da terra, e ficar tranquilo, só vendo a paisagem.

Estava inconformado, já estudando alguma forma de ressuscitar, quando fui acordado pela ação certeira do diurético, obrigando a mais uma caminhada.  Feliz, voltei a dormir, e resolvi aproveitar a falta de assunto, na semana, para relatar o sonho, para infelicidade dos leitores.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.

 

Helio Rubens
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