BAGUNÇA TOLERADA
As bagunças, palhaçadas e depredações, ocorridas em algumas universidades públicas, não envolvem todos os frequentadores dos ambientes.
A maioria dos estudantes, professores, funcionários e visitantes abomina atos de selvageria. Ocorre que os abusos e insanidades ocupam com especial relevo as paisagens universitárias, ensejando generalizações de toda ordem.
Os campus não constituem ambientes sem lei ou regras, onde tudo é permitido. O zelo pelo patrimônio público é obrigação universal.
Também é obrigação, a todos imposta, o respeito humano, não obstando o sagrado direito de ir e vir, e tampouco construindo cenas que chocam nossos padrões culturais e tradições.
Sair pelado campus afora pode parecer engraçado, quando algum participante olhar, décadas após, as imagens do absurdo. Contudo, tal prática é tão permitida quanto sair nu por praças, ruas e avenidas.
O ambiente universitário tem a tradição, odiosa, de abrir as portas a todo e qualquer procedimento e manifestação. Nada mais ridículo e falso.
A artificialidade e cinismo que envolvem os comportamentos no ambiente universitário são evidentes. Ninguém picha a própria casa, ou vai visitar a vó, pelado.
Ninguém atrai um bando de desocupados, incentivando-os a acampar no próprio jardim, e ninguém obriga os parentes a permanecerem fora da residência, quando de algum pleito não atendido.
A ingestão de bebidas alcoólicas e drogas tem sido comum em ambientes universitários, tido por alguns como franqueador universal de procedimentos. Na verdade, os campus possuem objetivos explícitos de ensino, pesquisa e extensão.
Existe, por parte dos órgãos universitários, irresponsável omissão, movida a censuras informais e comodidades pessoais. Sair pelado, pichar e depredar são atos de barbárie com tradição de impunidade.
Apesar de minoritários, os grupos selvagens que frequentam alguns campus persistem ditando regras e impondo omissões, facilitados por uma tradição tão aceita como o estupro e o tráfico de drogas. Em alguns ambientes, a simples e necessária passagem de uma viatura policial é vista como ofensiva à autonomia universitária, entidade artificialmente erigida e erroneamente cultuada, como absoluta.
Já é tempo, faz tempo, de civilizar nossos ambientes universitários, obrigando comportamentos respeitosos, permitindo tão somente atos e posturas não tipificados como crimes e contravenções, em qualquer outro ambiente coletivo. O mito de um contexto onde tudo é permitido, e toda regra é castradora de liberdades, deve ser demolido com urgência.
Selvageria, desrespeitos e depredações comprometem o atingimento dos objetivos das universidades, constituindo ainda fator de ineficiência na aplicação de verbas públicas, e deseducador geral.
Pedro Israel Novaes de Almeida
pedroinovaes@uol.com.br
O autor é engenheiro agrônomo e advogado. Aposentado.
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