setembro 16, 2024
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Marcelo Paiva Pereira: 'Cidades Medievais'

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Marcelo Augusto Paiva Pereira

CIDADES MEDIEVAIS

 

Modelo de cidade da Baixa Idade Média.
Desenho de autoria de Marcelo A. Paiva Pereira.

As cidades medievais tem diversas origens, das quais as invasões germânicas (século V), árabes (século VIII) e normandas (século IX) são causas externas, enquanto o renascimento comercial e urbano são causas internas. Todas tiveram influência, na razão dos interesses econômicos e sociais. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, as origens dessas cidades, como abaixo segue.

 

Surgiram as cidades medievais do esvaziamento das cidades (“cités”) romanas e das “granjas capitalistas”, quando das invasões bárbaras do Império Romano (476), conduzidas por Odoacro, e o êxodo urbano. Posteriormente, surgiram das cidades de adesão e das bastides (ou da bastida).

Ao ocuparem as cidades romanas, ergueram os castelos dos conquistadores e as muralhas, inicialmente de madeira ou de terra com rochas. Essas cidades tinham plano urbano organizado em quadrículas.

Ao ocuparem as “granjas capitalistas”, transformaram-nas nos primeiros feudos, cujos senhores feudais implantaram seus castelos e as habitações dos castelões (serviçais dos castelos) e as cercaram por muralhas – de pedra para os castelos – de madeira para a área ocupada pelas outras habitações. Referidas eram implantadas desordenadamente, porque tinham natureza de vila campesina e não de cidade (“cité”).

As cidades de adesão tem origem em castelos ou mosteiros que, pela proximidade com núcleos urbanos maiores ou mais poderosos, a eles aderiram e formaram uma só cidade; podiam ser amuralhadas ou não.

Na Alta Idade Média os elementos da cidade medieval eram o castelo, a muralha (muro, torres e portões), cinturões externos e internos e pontes levadiças. Tinham natureza defensiva.

Ao surgir a cidade de bastida, na comuna de “Aigues Mortes” no século XII (Baixa Idade Média), as cidades medievais adquiriram outra configuração: deixaram de ser campesinas para serem urbanas e se separaram das áreas rurais pelas muralhas, que reordenou a urbanização delas.

Bastida é uma cidade de natureza defensiva, planejada com padrão urbano romano (organizada em quadrículas) e cercada com muralhas de pedras. Erguida ao S da França, próxima de “Montpellier”, serviu de paradigma às novas cidades medievais.

A organização social e urbana das cidades medievais teve transformações ao longo do tempo, resultantes do crescimento demográfico experimentado nos séculos XII ao XV. De um inicial conjunto de habitações aos castelões, distribuídas num emaranhado de caminhos (dédalo urbano), adquiriram planejamento em quadrículas, muralhas de pedras e no período da Baixa Idade Média acolheram artesãos, comerciantes, ordens mendicantes (dominicanos, franciscanos, carmelitas e agostinianos), Igrejas, praças, mercados, hospitais e universidades.

Ao longo do período medieval os senhores feudais admitiam alguma mobilidade mercantil ao redor do lado externo dos burgos (muros), na região dos seus feudos. Assim faziam para tributar a mercancia desses aldeões e aumentar o tesouro do senhor feudal.

O surgimento das cidades acolheu a mercancia pelos citadinos (habitantes); mas, as que eram muito fortificadas retardaram o desenvolvimento da mercancia, porque as defesas obstaram as vias de transporte das mercadorias.

As muralhas, construídas para a defesa dos castelos e dos castelões, inicialmente de madeira, foram substituídas por pedras, como as de bastida e as de Paris – estas erguidas por Filipe Augusto – ambas no século XII. Excepcionalmente, Londres (“Longinium”) foi amuralhada com pedras pelos romanos em 60 d.C. (século I) após ser destruída pelos bretões. Os romanos a abandonaram em 410 (século V) e no século XI tornou-se capital da Inglaterra.

A cidade de Èze foi construída ao S da França, próxima de “Nice”, na região mediterrânea de “Côte D’Azur” e seguiu a natureza defensiva das outras cidades. Mas, diferentemente delas, foi camuflada para enganar os árabes, no período de expansão do Islã.

A tessitura urbana das cidades da Baixa Idade Média passou a ter espaço ordenado e dependente das funções religiosa, econômica e política exercidas nos pontos de referência, que orientavam a distribuição das ruas, construções e a circulação de pessoas, bens e serviços, como segue:

  1. Função religiosa: Igrejas, paróquias e conventos de ordens mendicantes;
  2. Função econômica: praça central, mercados, moinhos, canais e rios;
  3. Função política: castelo, paço municipal, pelourinho e patíbulo.

Os principais pontos de referência a todas eram a Igreja, a praça central e o mercado. As cidades medievais também acolhiam, no interior de suas muralhas, pedaços de campo, terrenos cultivados, prados, espaços vazios e camponeses refugiados.

As ruas mais importantes eram denominadas ruas públicas e a intersecção delas era conhecida por cruz. Daí o cruzamento entre elas era importante ponto de referência. Os ofícios eram fontes de nomeação das ruas ou dos locais onde se concentravam, como a rua dos sapateiros ou a da selaria. Também separavam as ruas dos mercadores das atividades de menor importância, como a rua das tendeiras e das mostardeiras.

Prostitutas e judeus eram mal vistos pelos citadinos medievais. Mesmo assim, nomeavam as ruas ou locais de concentração de suas comunidades, os quais eram afastados das porções centrais das cidades e se embrenhavam pela periferia intramuros. Eram as ruas da putaria e da judiaria, das quais as primeiras ficavam mais próximas de alguma das portas das cidades.

O açougue era uma atividade restrita a local recatado e a edifício próprio, distintos dos locais dos demais ofícios, devido aos cheiros e insalubridade que nele havia. Mesmo dentro das muralhas, ficava afastado dos núcleos urbanos.

As portas das cidades eram pontos de ruptura das defesas e por isso recebiam nomes que invocavam a fraqueza desse ponto ou a proteção celestial ou divina. São exemplos a Porta da Traição e a Porta de Santa Luzia.

CONCLUSÃO

As cidades medievais experimentaram várias origens e causas, que culminaram na elaboração urbana mais ordenada a partir do século XII, quando do surgimento da bastida, cidade planejada para ser de defesa e com plano urbano organizado em quadrículas, que ordenava a distribuição dos locais de referência urbana e das atividades intramuros.

De pequenas cidades campesinas e organizadas em dédalo urbano, o crescimento demográfico dos séculos XII ao XV as transformaram em cidades, cujas muralhas de pedras as separaram das áreas rurais, organizadas em quadrículas e com mais elementos de urbanização, representados pelas paróquias (Igrejas, praças e mercados), hospitais e universidades, além do acolhimento de diversos artesãos e ofícios.

A distribuição dos ambientes urbanos era definido pelas funções religiosa, econômica e política, e também pelos ofícios, a insalubridade do açougue e a identidade dos citadinos. A distribuição das classes se fazia pela ordem social (clero, aristocracia e povo), base dos três estados ou estamentos da sociedade medieval e da moderna, extinta pela Revolução Francesa (1789). Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira

(o autor é arquiteto e urbanista)

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, A. A. Horizontes Urbanos Medievais, p. 83 a 96. Editora Livros Horizonte, Lisboa, 2003.

LE GOFF, J. O Apogeu da Cidade Medieval. Crescimento e tomada de consciência urbana, p. 3 a 54. Editora Martins Fontes, SP, 1992.

SENNET, R. Carne e Pedra: o corpo e a cidade da civilização ocidental. O Medo do Contato, p. 180 a 210. Editora Record, São Paulo, 2001.

PASTERNAK, S. BUENO, B. P. S. Estudos de Urbanização I. FAUUSP. De 03.08 a 28.11.2011. Não publicadas.

GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, editora Delta S.A., Rio de Janeiro, 1971, volume 2, p. 791;

GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, editora Delta S.A., Rio de Janeiro, 1971, volume 6, p. 2646.

Helio Rubens
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