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Cláudia Lundgren: Entre cristais e muranos'

Cláudia Lundgren

Entre cristais e muranos

Há 16 anos atrás nascia meu filho caçula, e eu ainda era casada. O pai desempregado e eu recebendo Seguro-Desemprego do contrato que havia terminado.

Meu menino nasceu grande, com 51 cm e 3,400 kg. Mamava bastante. Eu sempre fui totalmente favorável à amamentação exclusiva, e nisso felizmente minha filha também é igual, segue meus passos em relação aos meus netos.

No último mês do seguro, começou a bater o desespero! O que seria de nós com três crianças, sem dinheiro?

Um amigo meu me ofereceu a gerência do seu comércio. Embora eu jamais tenha compreendido a dinâmica de um comércio e, muito menos, gerenciá-lo, abriu-se essa porta e eu entrei. Na verdade, a função que eu exercia estava longe de ser a de gerente; estava mais para um ‘faz-tudo’.

A responsabilidade da casa ficou para o pai dos meus filhos, e eu, com as contas. Os papéis se inverteram por muito tempo. Fiquei feliz em parte, pois o problema financeiro estaria resolvido, mas o que me afligia mesmo era ter que dar fórmula ao meu filho durante as minhas horas trabalhadas. O organismo dele, que era habituado somente com o leite materno, não se adaptou bem; passou a ter constipação intestinal e a emagrecer.

Sentamos, eu e o pai dele, para tentamos resolver toda essa problemática. Quem sabe, de alguma forma, sermos nossos próprios patrões, fazermos nossos horários, a fim de não privar nosso bebê de ser amamentado. Resolvemos então assistir a um curso de artesanato em bijuterias. Compramos alguns materiais e as peças ficaram boas. Pedi demissão do comércio e a sorte foi lançada.

Nós produzirmos colares, pulseiras, brincos, chaveiros e eu ia vender de casa em casa, de loja em loja. Lembro que uma vez até alugamos um stand numa galeria, mas a coisa era boa mesmo na rua, ir até o cliente. Passamos a viver de nossas vendas e tínhamos muitas encomendas.  Eu buscava material na Capital, coisas lindas, que não se via aqui no interior. Virávamos a noite, vendíamos de dia. Participei de feiras de artesanato. Realmente a arte, de uma ou de outra forma, sempre foi a minha praia.

E assim as crianças foram crescendo. Entre contas e miçangas; correntes e alfinetes; entre cristais e muranos; argolas e tulipas. Sem jamais colocarem uma bolinha sequer na boca ou no nariz, pois, para eles, aquela montoeira de material era rotineira, e meu quarto, um ateliê. Sem ter que privar meu filho de ser amamentado. Eu saía para vender, mas de três em três horas eu estava ali para alimentá-lo.

Depois surgiram as lojas de R$ 3,99; as bijuterias industrializadas deram lugar às artesanais. Mas, felizmente, nessa fase eu já havia sido aprovada em um concurso público, e lá estou até hoje.

Agora, dedicando-me à literatura como ofício, perguntei: “O que poderia eu fazer para presentear os leitores que, amorosamente, acreditam no meu trabalho literário? Afinal, quem não gosta de um mimo? O que, além da poesia, eu teria de melhor para oferecer?” Aquele amontoado de cores e formas, o dourado e o prateado, o brilho e o fosco bateram à minha porta! “- Estamos aqui!”

E eis-me aqui, novamente, e nostalgicamente, revivendo momentos da minha história e produzindo peças do meu presente. E como dizia Beethoven: “A arte me amparou.”

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com

 

 

 

 

 

Claudia Lundgren
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