setembro 16, 2024
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Eliana Hoenhe Pereira: 'Uma perfeccionista desastrada – viagem à Itália'

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Eliana Hoenhe Pereira

Uma perfeccionista desastrada – viagem à Itália

Hoje estou iniciando meu projeto de contos referentes às histórias inusitadas e engraçadas que vivenciei ao longo da minha vida. E foram muitas!

Desde criança fui desatenta, esquecida e estabanada. Por onde passo fica um acontecimento. Confesso que, com treinamento e autopoliciamento, tenho melhorado. Nunca me aconteceram prejuízos graves, pois, na medida do possível, tento contorná-los.

Meu marido faleceu em 2007 devido a um mal súbito. Tinha 52 anos na época. João Felipe, nosso único filho, estava com 18 anos e o vínculo entre eles era muito forte. Foi uma fase difícil. Por ocasião do acontecimento recebi um pequeno seguro de vida. Entendi que foi um presente dos céus e que deveria ser usado para nos trazer alegrias especialmente ao João Felipe. A ideia de viajar logo brotou em minha cabeça. Conversei com ele a respeito e sugeri que escolhesse um país, pois sempre foi apaixonado por História. Optou pelo Norte da Itália.

Convidamos uma amiga para ir conosco: ‘Celestinha’ (era assim que a chamávamos). Passei em uma agência e fiz um pacote para 16 dias. Não economizei, incluindo todos os ‘tours’ e alimentação. O dinheiro foi a conta. A felicidade era intensa e aguardávamos contando os dias do embarque.  E foi então que partimos para a bela Itália! Era a primeira viagem internacional que fazíamos. Tudo correu maravilhosamente bem até o último dia, ou melhor, até a última noite no hotel em Milão. Dessa vez os incidentes ocorreram na saída.

Talvez pelo fato de eu  já ter viajado para outros lugares, a confiança deles em mim era total e eu sempre tentando passá-la. As passagens ficaram guardadas comigo  dentro da  bolsa. Eles nem ficaram preocupados com o horário do voo, pois eu tinha deixado o relógio para despertar. As malas estavam praticamente arrumadas e tudo parecia estar dentro dos conformes. Fomos dormir um pouco mais cedo.

Provavelmente, por volta das três horas, o interfone tocou e atendi:

– Senhora, por favor, desça! O carro já está esperando para levar-nos ao aeroporto!

Após 10 minutos o interfone tocou novamente. Atendi:

– Senhora, por favor, desça, pois o carro não pode mais esperar. Já estamos atrasados!

Irritada, respondi:

– O senhor está ligando para o número errado. Nosso voo é mais tarde. Deixe-nos dormir!

Desliguei o interfone. Tanto meu filho como a amiga acharam estranha tamanha insistência. Comentei que o guia era mesmo um chato.

E, após cinco minutos, novamente o interfone tocou:

– Senhora, o carro já foi. Não pudemos esperá-los. Virem-se!

Foi então que acordei, dei um baita pulo e fui verificar as passagens; ao me certificar de que estava completamente errada,  levei um susto enorme:  o voo não era às oito horas conforme eu havia colocado na cabeça; eu havia cometido um tremendo  equívoco.

– Crianças, levantem-se! Ainda dá tempo de pegarmos o voo se corrermos! Vamos com pijamas por baixo pois não dá tempo de nada. Deixem para lavar o rosto e escovar os dentes no aeroporto. Peguem as malas e lá a gente vai ter tempo.

Gritei e saímos apressados pelo corredor do hotel, abotoando as calças e tentando fechar as malas.

Ficaram para trás o casaco de frio da Celeste, meias, chinelos e sabe lá o que mais.

O João Felipe esperneava e xingava; a Celeste reclamava. Enfim, tomamos o elevador do décimo segundo andar ao térreo. Eram mais ou menos 3h, e, para dizer a verdade, eu nem sabia mais o horário real do voo. Sabia somente que tínhamos que correr muito para alcançar o grupo, que já deveria estar no aeroporto.

Na sala do hotel o gerente nos disse:

– Eles já se foram há cerca de meia hora atrás. Peguem um táxi e corram!

– Jesus! Como?! – falei para ele – Estamos em Milão. Quanto tempo de táxi?

– Uma hora – disse o gerente.

– Nós não temos esse dinheiro. Deve ficar muito caro!

Realmente, se fôssemos contabilizar tudo o que havia sobrado em dólares não seria suficiente para pagar a corrida. O gerente deve ter entendido o meu desespero e logo comentou:

– Fiquem tranquilos! Vou pedir um táxi imediatamente.

E não demorou nada para que o taxista chegasse. Muito gentil, o gerente despediu-se com um sorriso, desejando-nos boa sorte. Sempre acreditei em anjos.

Durante todo o percurso pedia para o motorista correr. Ele alegava que já havia ultrapassado os limites, com cara de bravo.

Chegamos ao aeroporto e fomos direto à fila do ‘check-in’. Foi então que fiquei nela para que cada um pudesse rapidamente usar o sanitário.   E, finalmente, pudemos relaxar e tomar um cafezinho antes de embarcarmos.

 

Eliana Hoenhe Pereira

eliana.hoenhe1@hotmail.com

 

 

Eliana Hoenhe Pereira
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