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Celso Lungaretti: 'Quem adivinharia que o menino que não parava de ler e hoje é lido nos mais importantes veículos financeiros do planeta viria, aos 88 anos de idade, confessar sua descrença definitiva no predomínio econômico dos capitais?!

APOLLO NATALI

LAMENTO, ADAM SMITH, NÃO DEU CERTO…

 
Delfim Netto em 1968, já ministro da Fazenda aos 40 anos

Eu tinha 6 aninhos. Escapulia do meu cortiço na rua Coronel Cintra, na Mooca,  cruzava a velha ponte de taboas largas do rio Tamanduateí e regressava com um enorme cesto de vime nas costas, abarrotado de tocos de madeira da formidável marcenaria do meu tio, na rua dos Alpes, no Cambuci. Nosso fogão era a lenha.
Ao lado da marcenaria morava um menino que não saia de casa. Uma casa pequena e pobre. A vida dele é ler, dizia meu primo, afundando os pés na serragem da oficina. Na casa modesta viviam ele, a mãe e a irmã. A mãe faz um sacrifício danado para ele estudar, ainda meu primo falando.
Esse menino, preclaro leitor, se chamava Antonio Delfim Neto e – quem diria? – se tornaria um dia um luminar da economia, oráculo procurado por bandos de fieis em busca de revelações salvadoras provenientes dessa ciência que jamais amenizou as aflições vitais dos humanos.  A ponto de inspirar nos italianos esta definição jocosa: uma ciência tal que, com a qual ou sem a tal, a situação permanece tal e qual.
Quem adivinharia que o menino que não parava de ler e hoje é lido nos mais importantes veículos financeiros do planeta viria, aos 88 anos de idade, confessar sua descrença definitiva no predomínio econômico dos capitais (modo de vida adotado pela humanidade, intitulado de sistema capitalista)?! Tantas rugas no rosto experiente… para nada!
Delfim ora acredita que nem mesmo a extinção do sistema chamado de excludente, apontado como culpado pelo desfilar do rico com trajes palacianos ao lado do pobre esfarrapado, salvaria a humanidade.
Os críticos do capitalismo sonham com o fim desse sistema e o consequente surgimento de uma sociedade mundial fraterna, livre do devorai-vos uns aos outros!. Nem nisto Delfim acredita.
Com sistema capitalista ou sem sistema capitalista, uma montanha de livros depois, o menino vizinho da marcenaria de outrora não vê salvação. O culpado é o homem. Não se iludam, o ser humano não presta, dizia em classe um meu professor de Direito na USP.
Quando um bando de cachorros vislumbra um semelhante  no canto do um beco, acuadinho, pequenininho, pobre dele, é atacado covardemente em avalanche pelos valentões. Teremos lucidez para uma comparação? O cãozinho capitalista merece ser atacado e culpado por todas as dores da humanidade? O que virá depois que todos nós, raivosos com o sistema, o destruirmos em seu beco hoje sem saída? Estaria garantida uma nova sociedade boazinha, boazinha? Para Delfim, não.

A história do capitalismo guarda em seu arquivo um fluir implacável de desumanidades geradas no mui interno do homem. Quem nasceu primeiro, o foro íntimo desairoso do ser humano ou o seu filhote, o sistema capitalista?

Este final de elucubrações é pura elucubração: todos os impérios e sistemas de vida caíram, então deve ser ordem natural das coisas que o sistema capitalista um dia se torne obsoleto e seja substituído gradativamente por modo de vida feliz.  Na marra, de improviso, não acredito.

Os sermões dos religiosos em suas apregoações de fim de mundo anunciam uma era pós-capitalista, o surgimento de uma sociedade em que o leão circula pacificamente com o carneiro em meio a uma exuberante natureza preservada. Há até pinturas religiosas do leão e do carneiro sobre um gramado impecável antevendo o paraíso.
O jeito é esperar.

CELSO LUNGARETTI

SE O FIM DO CAPITALISMO TARDAR,
NÃO HAVERÁ MAIS HUMANOS

Numa coluna surpreendente (vide aqui), intitulada Fim do capitalismo não tornaria o homem mais ‘humano’, Delfim Netto reduz o homem a “um animal territorial, dotado pela evolução biológica de um terrível e perigoso instrumento — a sua inteligência”; afirma que não se descobriu ainda como evitar que continue exterminando seus iguais (uma tendência que, lembra ele, o diferencia de todos os outros animais); e diz ser duvidosa a hipótese de que se humanizará antes que “produza sua própria destruição”.

Parece estar abalado com o advento da era Trump, quando o capitalismo volta a se mostrar tão desumano quanto o era na fase mais selvagem, além de ter elevado sua iniquidade intrínseca à enésima potência.

Enfim, aos 88 anos, Delfim chega finalmente à idade da razão. E deve estar contemplando a obra de sua vida com a mesma perplexidade do dr. Frankenstein face à criatura: terá sido para isso que serviu caninamente aos piores ditadores e acumpliciou-se com o festival de horrores resultante das 15 assinaturas de ministros (uma delas a sua) aprovando a instituição do AI-5?!

Numa provável tentativa de exorcizar os fantasmas que lhe tiram o sono, escreveu um texto na linha de que, se o capitalismo conduziu a humanidade a “uma desigualdade insuportável”, o fim do capitalismo também não conseguiria civilizar os homens.

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A desigualdade aumentou de tal maneira que uma 

ínfima minoria acumulou poder suficiente para impor 

sua vontade à imensa maioria dos seres humanos” 

                        (Celso Lungaretti)

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Quer acreditar que, numa encruzilhada do destino, a opção existente era entre dois caminhos igualmente ruinosos. Isto o aliviaria um pouco de sua culpa por ter escolhido a via que levou a resultados catastróficos, a ponto de o Brasil estar em frangalhos e a própria sobrevivência da humanidade encontrar-se gravemente ameaçada.

Deixa, contudo, de considerar um dado fundamental da equação que tenta montar: o de que os animais brigam com outros animais e defendem com unhas e dentes seu território por uma questão de sobrevivência. Precisam garantir alimentação e abrigo para si e para o grupo a que pertencem, caso contrário sucumbirão à fome, ao frio, às intempéries, etc.

Foi também devido à escassez que os homens passaram milênios competindo encarniçadamente uns com os outros. Inexistindo o suficiente para todos terem tudo de que necessitavam para uma existência digna, o quero mais a que alude Delfim forneceu o impulso decisivo para irem, pouco a pouco, desenvolvendo as forças produtivas. A motivação egoísta acabava sendo uma espécie de motor do progresso, ainda que obtido graças ao enorme sofrimento e mazelas terríveis que desabavam sobre os mais fracos.

 

O fantasma da escassez deixou de nos assombrar

Era. Não é mais, pois a barreira da necessidade foi afinal transposta e hoje já dispomos de conhecimento científico e meios tecnológicos para a produção do que é realmente preciso para todos vivermos sem privações e sem o estresse que a competição exacerbada causa.

O que ainda nos impede de alcançarmos uma existência feliz e plena, em lugar do atual pesadelo globalizado?
O capitalismo, claro! Ou, mais precisamente, o fato de que ele fez a desigualdade aumentar de tal maneira que uma ínfima minoria acumulou poder suficiente para impor sua vontade à imensa maioria dos seres humanos.

E, em nome da perpetuação de um status quo que só a ela beneficia, arrasta a humanidade a uma crise econômica que se prenuncia avassaladora e à destruição do equilíbrio ecológico sem o qual nossa espécie se extinguirá.

Só sobreviveremos se nos unirmos para deter a atual marcha da insensatez, fazendo com que o bem comum prevaleça sobre os interesses mesquinhos que nos estão levando à beira do abismo.

E, se formos capazes disto, certamente também o seremos para, em seguida, construirmos uma sociedade verdadeiramente humana.

DALTON ROSADO

DELFIM NETTO NOS VÊ COMO CONDENADOS ETERNOS AO FRATRICÍDIO.

Segundo Delfim Netto (vide aqui), a barbárie, hoje em curso mundialmente, é comportamento inerente ao caráter concomitantemente racional e irracional da humanidade; estaríamos, portanto, condenados eternamente ao fratricídio.
Delfim Neto elabora a sua dúvida de que tais comportamentos sejam naturais, e não uma resultante da debacle e irracionalidade capitalista.

O capitalismo é um modo de relação social histórico, não ontológico, irracional, dotado de lógica ilógica (porque destrutiva) e, por isso mesmo, fadado à autodestruição, mas não sem antes tentar levar de roldão toda a humanidade, tangendo-a ao genocídio.

A evolução do ser humano passou, até agora, por duas naturezas distintas. Na primeira natureza, irracional, o ser humano era um animal frágil, diante das grandes feras que habitavam o planeta Terra.

Foi a natureza gregária e solidária dos humanoides o que contribuiu para que sobrevivesse como espécie no enfrentamento das outras feras, mais potentes fisicamente.  A ciência calcula que tal período tenha durado cerca de 3 milhões de anos.

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“A superação do capitalismo é o estágio limite 

entre a segunda natureza humana e a terceira 

que está por vir, devendo proporcionar a 

emancipação humana e um ser humano 

moralmente evoluído” (Dalton Rosado)

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Paulatinamente, o ser humano atingiu o estágio do homo sapiens (erecto e dotado de racionalidade) que se admite ter sido atingido há cerca de 300 mil anos, e que se considera como sendo a sua segunda natureza.
Entretanto, o desenvolvimento de sua racionalidade não está ainda concluído e os resquícios da irracionalidade, ainda existentes nessa segunda natureza, são o que caracteriza a bipolaridade comportamental, que o faz capaz de gestos altruísticos e outros desumanamente cruéis.

Acredito, portanto, na evolução do homem, bem como temo que tal estágio possa a ser interrompido pela letalidade da capacidade bélica das bombas atômicas, que podem vir a ser acionadas quando impulsionadas pela irracionalidade da guerra de mercado capitalista.

É conhecido o caráter civilizatório do capitalismo no campo tecnológico, mas isto não significa que ele seja um modo de relação social saudável. A bestialidade das guerras, p. ex., também contribuiu para avanços tecnológicos (a descoberta do radar e da energia atômica), e nem por isto se pode admitir a guerra como um ganho para a humanidade.

A evolução da humanidade caminha a passos lentos em termos de história cronológica. O o capitalismo deriva de um deformado embrião social gestado há cerca de 3 mil anos, quando na Grécia antiga se iniciou o processo de abandono das sociedades comunais primitivas (nas quais tudo se partilhava) e a adoção das trocas quantificadas como forma de obtenção de poder. Estava configurada, embrionariamente, a negativa e abstrata forma-valor.

Daí em diante as sociedades humanas foram marcadas pelo escravismo direto, como forma de obtenção de objetos servíveis ao consumo, agora transformados em mercadorias (com valor de uso e valor de troca), destinados à barganha de poder no incipiente mercado, até se chegar ao sub-reptício escravismo indireto do trabalho abstrato, fonte primária sofisticada da abstração da forma-valor, que é o instrumento de dominação sutil das modernas sociedades do capital com todos os seus construtos institucionais de apoio.

Diferentemente da dúvida de Delfim Netto, entendo que a superação do capitalismo é o estágio limite entre a segunda natureza humana e a terceira que está por vir, devendo proporcionar a emancipação humana e um ser humano moralmente evoluído.

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