Professor, quais são seus maiores desafios?

Renata Barcellos

‘Professor, quais são seus maiores desafios?’

Renata Barcellos
Renata Barcellos
Imagem criada por IA do Grok
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Mês de outubro é de comemoração do professor. Antes de ser instituída a data foi criada a lei educacional do Brasil sancionada por Dom Pedro I em 15 de outubro de 1827. Entretanto, você sabia que foi uma mulher a criar a data em Santa Catarina, em 1948? Antonieta de Barros, uma das três primeiras mulheres eleitas no Brasil e a primeira parlamentar negra (apresentou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina o projeto de lei nº 145, de 12 de outubro de 1948), autora da lei que instituiu o dia do professor e o feriado escolar no estado.

Na época, Antonieta justificou a importância da criação da data, argumentando que “Não há quem não reconheça, à luz da civilização, o inestimável serviço do professor”. Em 1963, o presidente João Goulart assinou o decreto nº 52.682, de 14 de outubro de 1963, ratificando a criação do Dia do Professor e determinando-o como feriado escolar.    

Dos anos 60 até a contemporaneidade, quem está em sala de aula percebe a drástica mudança da figura do professor. De admirado a respeitado, considerado o “detentor do conhecimento”; hoje, ser desprezado, violentado. Na maioria das vezes, a sociedade e a família não reconhecem mais a função social do professor. Não o valoriza em termos financeiros e nem acadêmico. O cursinho presencial ou online é melhor do que a escola oferece.

Constantemente, ouve do aluno: “depois eu assisto ou eu assisti ao vídeo do professor X”. Na atualidade, a questão é: qual o papel do professor à frente de uma turma? Estamos falando com as paredes? De acordo com pesquisa realizada durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, menos de 40% dos estudantes nos anos finais do Fundamental (6º, 7°, 8º e 9 º anos) respeitam e valorizam seus professores. Por este índice, podemos imaginar a realidade do Ensino Médio.

O desafio inicial é quando se opta pela licenciatura. O que mais se ouve é: “você tem certeza?”, “vai passar fome”, “isso não é futuro para ninguém”… Quando se ingressa na graduação, eis um problema real: a inadequação das grades curriculares. No caso de Letras, quanto à oferta de Latim e das disciplinas de Literaturas africanas e indígenas,  a lei ainda não é uma realidade em muitas universidades públicas e privadas.                          

A “lei de ensino das literaturas africanas e indígenas” se refere à Lei nº 11.645/2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas do Ensino Fundamental e Médio. A lei ampliou a obrigatoriedade original da Lei nº 10.639/2003, que tratava apenas do tema afro-brasileiro. Essa legislação exige que os conteúdos sejam integrados ao currículo, com atenção especial a áreas como literatura, história e educação artística, para promover uma educação antirracista e multicultural.

Outro desafio inerente à formação é a questão de como lidar com alunos com necessidades educacionais especiais. Lidar com salas lotadas e com diferentes especificidades é missão impossível! Preparar atividades diversas e, no quotidiano, muitas vezes, administrar bullying com esses alunos e, pior, dos alunos com o professor… Sabemos que as consequências podem ser graves, incluindo problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, baixa autoestima e, em casos extremos, violência física grave ou suicídio. Com a Lei 14.811/2024, foi criminalizado no Brasil, podendo resultar em multas ou prisão.

Outra conscientização é quanto ao entendimento de como o conhecimento é construído. Definitivamente, a aula não é um espetáculo. E o espaço físico não é um teatro onde ao adentrar o professor encena um “personagem divertido”. Aprendizagem exige um ambiente acolhedor. É um processo solitário. Demanda foco. Atenção no conteúdo a ser estudado. Travar conexões…

Vamos pensar nossa rotina: muitos de nós saímos horas antes para estarmos no horário da aula. É um enorme desgaste físico e psicológico: congestionamentos, expostos à falta de segurança… E, quando se chega à instituição de ensino, muitas vezes, já se ouve de longe: “a senhora veio?” Se estamos passando mal, ouvimos: “Por que veio?”, “Por que não ficou em casa se estava passando mal?”. Ninguém merece ouvir isso! 

Nós, professores, precisamos conviver em harmonia. A sala de aula não deve ser um campo de batalha. Urge um ambiente harmonioso! As relações necessitam ser saudáveis! Jamais hostis – de constantes embates. Não estamos em um ringe! Alunos e responsáveis precisam se conscientizar de que o professor está ali para o desenvolvimento intelectual de cada aluno. No meu caso, das competências leitora e de escrita.                                                                                             

Outro desafio é a escolha (quando no setor público) do material didático. E, na rede privada, a IMPOSIÇÃO de material pronto para a rede. Pior ainda de avaliações já prontas. Fico me perguntando: neste caso, qual o papel do professor? Não tem liberdade para escolher seu material e elaborar suas avaliações? O profissional é monitorado o tempo todo: da câmera em sala de aula, supervisões para assistir às aulas, abordagem de conteúdos e utilização de material didático adotado pelas instituições. Ser professor está se tornando um reality show?

Na atualidade, um dos centros das atenções mundial é o uso do celular. A Lei nº 15.100/2025 restringe o uso de celulares por alunos em escolas públicas e privadas de educação básica, não sendo uma proibição total, pois permite a utilização para fins pedagógicos, em situações de segurança, para garantir acessibilidade, inclusão e para atender condições de saúde.

Sancionada em janeiro de 2025, visa melhorar a concentração, o aprendizado e a saúde mental dos estudantes, cabendo às escolas definir as estratégias de implementação. Hoje, uma das frases mais proferidas por nós é: “desliga ou guarda o celular”.

Nós, professores, estamos EXAUSTOS. Além desses desafios e de outros aqui não mencionados, há as constantes cobranças. Ainda mais neste período do ano: aprovação, índices de reprovados, metas…

Não poderia de deixar de abordar a violência física e ou psicológica e o assédio moral. Os índices só aumentam.  De acordo com uma pesquisa da Nova Escola e Instituto Ame Sua Mente, 8 em cada 10 educadores sofreram agressão em 2023, um aumento de 20% em relação a 2022. A maioria é verbal, mas outros tipos incluem assédio moral, bullying e agressões físicas. Em um estudo comparativo da OCDE, o Brasil apresentou o maior índice de agressões verbais ou intimidação de alunos por semana entre os países pesquisados. Lamentável!!!

E o reconhecimento daqueles que, apesar desses e de outros desafios, ainda fazem a diferença? É preciso valorizar os resilientes, os que vestem a camisa da EDUCAÇÃO, os que burlam o sistema e fazem a diferença na vida de cada um de seus alunos, os que consideram-nos protagonistas e não meros coadjuvantes da construção de seu conhecimento.

No que se refere à realidade da África, de países de Língua Portuguesa, de acordo com o angolano Celso Mariano Kahenda Praia (consultor linguístico e literário), um dos grandes desafios do professor hoje é “ter que ensinar um aluno que vai à escola apenas para cumprir formalidades familiar e social. O aluno vai à escola, mas não sabe o fundo da sua presença na escola, nem o para quê da sua formação.

A partir dali, percebemos o grandioso desinteresse na participação da construção de novos conhecimentos para si. Há alunos que nem sabem que disciplina terão num determinado dia, e ficam surpresos com a entrada do Professor. Portanto, não saber o porquê e o para quê ir e estar na escola é o motivo do insucesso de muitos alunos, e deve ser um dado fulcral na atenção não só dos Professores, mas também dos Pais e Encarregados de Educação”.

Já para Joaquim Einstein (professor de Matemática, Física e Química e escritor), os maiores desafios hoje para os professores estão “ligados a muitos aspectos como: falta de interesse nos estudos por parte dos estudantes, carência de materiais nas escolas, e rendimento débil dos estudantes. Como professores procuramos todos os dias mitigar estes problemas”. Podemos verificar que, apesar de continentes diferentes, os desafios são similares.

Nas literaturas brasileiras, há personagens que representam a figura do professor como:

-Antônio Conselheiro: Embora não seja um professor formal, ele é uma figura que transmite conhecimentos e tem um papel formador para a população do sertão, como aparece em obras de Euclides da Cunha e outros autores.

– Professora Maluquinha , criada por Ziraldo, é a protagonista de Uma Professora Muito Maluquinha. Ela se destaca por sua didática criativa e por ensinar com alegria e amor pela leitura.   

– Professor Heliseu do livro O Professor de Cristovão Tezza. É um professor aposentado que relembra sua carreira e os eventos políticos do Brasil enquanto prepara um discurso de homenagem. Além disso, muitos escritores brasileiros também foram professores.

Eis alguns exemplos: como   

– Ariano Suassuna: O autor de O Auto da Compadecida lecionou por mais de três décadas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde suas aulas de Estética eram consideradas espetaculares.   

– Cecília Meireles: além de ser uma das mais importantes poetisas modernistas, ela foi educadora da primeira infância. Fundou, em 1934, a primeira Biblioteca Infantil do Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1953, recebeu o título de Doutora Honoris Causa (entregue a personalidades que se destacaram por sua contribuição à cultura, à educação ou à Humanidade).

– Conceição Evaristo: a professora Evaristo se tornou uma das mais importantes escritoras brasileiras contemporâneas. Sua obra é marcada por temas relacionados à identidade, discriminação racial e o papel da mulher negra na sociedade. Um de seus trabalhos mais significativos é o romance “Ponciá Vicêncio”, onde narra a trajetória de uma mulher negra em busca de sua ancestralidade e liberdade.

-Consuelo Travassos: professora e escritora.

– Jorge Eduardo Magalhães: professor, escritor e diretor da harmonia da Sociedade Recreativa Escola de Samba Lins Imperial.   

– Maria Firmina dos Reis: considerada a primeira mulher romancista brasileira, escreveu também o primeiro livro do Brasil que abordava a questão abolicionista na obra Úrsula.  

– Otto Lara Resende: jornalista e escritor, também atuou como professor universitário.                                                                                                                                      

– Ray Brandão: professora, escritora e idealizadora do Coletivo de Escritores Maranhenses.                                                                                                                              

– Wanda Cunha: professora aposentada, trovadora, presidente da Academia Maranhense de Trovas.  

Urge sermos mais humanos, solidários… Amo minha profissão, sempre estou implementando algo novo, mas a falta de tudo é desolador. Por uma EDUCAÇÃO SEM OPRESSÃO. ABAIXO À VIOLÊNCIA! EDUCAR, para liberdade conquistar. E parabéns ao Sinpro-Rio pela a campanha “Educação Tem Nome, CPF e Impressão Digital”, #EducaçãoTemNome.

Renata Barcellos

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A desunião na classe dos professores

Fidel Fernando: ‘A desunião na classe dos professores
e os impactos na educação’

Fidel Fernando
Fidel Fernando
Imagem gerada por IA do Bing – 17 de Julho de 2025, às 16:38 AM
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às 16:38 AM

Celso Antunes, na obra aludida, argumenta que o sistema educacional muitas vezes falha por não estabelecer padrões claros, perpectuando uma cultura de improvisação e falta de critério.”

A desvalorização da classe docente é um problema amplamente discutido, mas um aspecto menos explorado é a desunião entre os próprios professores, que fragiliza ainda mais a autoridade pedagógica e a eficácia do ensino. Como observa a Dra. Simone Benedetti, essa desunião manifesta-se na falta de padrões comuns de conduta dentro da escola, gerando confusão nos alunos e minando a coesão necessária para um ambiente educativo eficiente. 

Esta falta de uniformidade nas regras e métodos de ensino pode ser analisada à luz das obras de Celso Antunes (‘Escola Mentirosa’), Mário Sérgio Cortella (‘Família: Urgências e Turbulências’) e Leandro Karnal (‘Conversas com um Jovem Professor’). Enquanto Antunes critica a incoerência do sistema educativo, Cortella discute a importância de limites claros, e Karnal reflecte sobre a prática docente e a necessidade de consistência na relação professor-aluno. 

Um dos exemplos mais evidentes da desunião docente é a divergência nos critérios de correcção de actividades, provas e avaliações. Enquanto alguns professores são rigorosos, assinalando e corrigindo erros ortográficos, concordância e pontuação, outros ignoram esses detalhes, atribuindo notas sem a devida análise. Essa disparidade confunde os alunos, que não sabem ao certo o que é exigido. 

Celso Antunes, na obra aludida, argumenta que o sistema educacional muitas vezes falha por não estabelecer padrões claros, perpectuando uma cultura de improvisação e falta de critério. Se a escola não define parâmetros comuns, os alunos recebem mensagens contraditórias, prejudicando seu desenvolvimento linguístico e cognitivo. 

Outro ponto crítico é a permissividade versus rigor ou, melhor, a variação na aplicação de regras. Alguns professores proíbem o uso de corrector, incentivando a escrita precisa das palavras; outros permitem, mas com restrições; há ainda os que não se importam. Essa falta de uniformidade transmite aos alunos a ideia de que as normas são flexíveis conforme o professor, o que periga a autoridade colectiva do corpo docente. 

Mário Sérgio Cortella, no livro mencionado acima, ressalta que limites claros são fundamentais para a formação do carácter. Se na família a ausência de regras gera jovens despreparados para a vida, na escola, a inconsistência nas normas prejudica a disciplina e o respeito. 

A forma como os alunos reagem a diferentes figuras de autoridade (professores, coordenadores, funcionários não docentes) também evidencia a falta de unidade na condução disciplinar. Enquanto alguns docentes conseguem impor respeito com métodos próprios, outros enfrentam resistência dos alunos. 

Karnal, na sua obra, defende que a postura do professor deve ser firme, mas sem autoritarismo. Ele relata que a eficácia na gestão da sala de aula não depende de gritos, mas de clareza nas expectativas e consistência nas acções. Quando os professores agem de forma coordenada, os alunos internalizam melhor as regras.

Ademais, a desunião entre os professores não apenas afecta a dinâmica da sala de aula, mas também impacta o comportamento dos alunos. Quando um estudante desrespeita um professor, por exemplo, é crucial que todos os educadores intervenham de forma semelhante, reforçando a ideia de que a responsabilidade e o respeito devem ser universais. Caso contrário, a mensagem que os alunos recebem é de que existem diferentes padrões de conduta, dependendo do professor em questão.

Em jeito de conclusão, a desunião entre professores é um problema estrutural que exige reflexão colectiva. Se, por um lado, a diversidade de métodos pode enriquecer o ensino, por outro, a falta de padrões mínimos gera insegurança e indisciplina. Como sugerem Antunes, Cortella e Karnal, a solução passa por:  i) estabelecer normas claras e consensuais entre o corpo docente; ii) promover a formação contínua, discutindo estratégias pedagógicas alinhadas; iii) fortalecer a autoridade colectiva, para que os alunos encarem os professores como uma equipa coesa. 

A educação só será verdadeiramente eficaz quando os professores falarem a mesma língua, não no sentido de uniformizar pensamentos, mas de garantir coerência nas acções. Se queremos alunos disciplinados e críticos, precisamos de começar por uma docência unida e consistente. 

Fidel Fernando

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Professor, a máscara caiu!

José Ngola Carlos: ‘Professor, a máscara caiu!’

Kamuenho Ngululia
Kamuenho Ngululia
Imagem criada por IA do Bing – 24 de março de 2025,
às 07:12 PM

À primeira vista, pode parecer estranho e ignorante a afirmação de que um Mestre não é um professor e um professor não é um Mestre. Mas, estimado leitor ou leitora, tenha em mente que esta é uma questão que deve ser compreendida tendo em conta o surgimento e o desenrolar histórico de cada um dos títulos em referência, nomeadamente: o Mestre e o professor.

Historicamente falando, quem eram os Mestres na antiguidade e quem são os mestres hoje?

Talvez não lhe tenha passado despercebido que, neste artigo, usou-se o título Mestre com a letra inicial maiúscula e mestre com a inicial minúscula. Essa distinção é proposital. A primeira designação é em referência aos Mestres do passado, e a segunda designação é uma referência aos mestres da nossa época.

Consideradas estas duas categorias de mestres, convém entendê-las por separado.

Os Mestres da primeira categoria compreendem todos os sábios ou pensadores da antiguidade que dedicavam as suas vidas para a emancipação intelectual de seus discípulos. Nesta primeira categoria, a relação existente era de Mestre e discípulos. Os Mestres da antiguidade possuíam suas próprias escolas nas quais os discípulos eram iniciados. E, por escola, convém sublinhar que não nos referimos a um edifício, antes, a um sistema de pensamento próprio. A título de exemplo, são dignos de menção como Mestres os seguintes pensadores: Sócrates, Heráclito, Jesus etc. Estes são os Mestres da vida, pela vida.

A segunda categoria de mestres compreende um grupo vasto de pessoas hoje que, possuindo algum poder financeiro e desejando algum status social, vão às universidades adquirir um certificado ou diploma de mestrado. Estes mestres, longe de serem comparados com os da primeira categoria, são o produto do poder económico e político, criado no esforço de se fazer a contínua manutenção dos dois poderes sociais já mencionados. Estes são os mestres do papel, no papel para a manutenção do poder.

Aqui, somos de ressaltar que, quando afirmamos que um Mestre não é um professor e um professor não é um Mestre, fazêmo-lo em referência aos Mestres da primeira categoria, que sempre foram poucos e que atualmente estão quase extintos e não aos mestres da segunda categoria que constituem a massa de gente equivocada e pouco ou nada producente hoje.

Quem é o professor?

Infelizmente, os professores são os sucessores em substituição aos Mestres, ou melhor, considerados uma ameaça pelo poder político, os Mestres da primeira categoria foram aos poucos combatidos por leis e força física até a sua quase extinção. De lembrar que muitos foram deportados, espancados e mortos, nomeadamente: Sorôkin, Diógenes e Sócrates, só para mencionar alguns. Pelo que, os professores são uma subclasse de políticos inferiores na educação.

Em síntese, um Mestre não é um professor e um professor não é um Mestre pelas seguintes razões:

  1. Um Mestre é um indivíduo autêntico, um professor é um produto social.
  2. Um Mestre é autónomo, um professor é dependente do poder político.
  3. Um Mestre é um ente produtor, um professor é um ente reprodutor.
  4. Um Mestre é um pensador livre, um professor está proibido de pensar.
  5. Um Mestre ensina a seus discípulos a pensar, um professor ensina a seus alunos a repetir o que já se pensou.
  6. Um Mestre ensina o que ele próprio conheceu, um professor ensina o que outros conheceram.
  7. Um Mestre é um ser humano, um professor é um papagaio.
  8. Um Mestre prepara os discípulos para os desafios da vida, um professor prepara os alunos para os exames.

Kamuenho Ngululia
Malanje, 24 de março de 2025

Como citar este artigo:  Ngululia, K. (2025:3). Professor, A Máscara Caiu! Brasil: Jornal Cultural ROL.

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Era uma vez

Evani Rocha: Poema ‘Era uma vez’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem gerada por IA do Gencraft, em 06 de março de 2025, às 8h.

Era uma vez um diário
Preenchido todo à mão
Caneta esferográfica
Com toda dedicação

Era aula após aula,
Era dia após dia
Era o bimestre inteiro
Sem rasura, sem borrão

Era uma vez uma escola
Feito campinho de bola
Das risadas no recreio
Da merenda saborosa

Era uma vez um estudante
Comprometido e educado
Sapato preto nos pés
E uniforme bem-passado

O livro encapado à mão
O caderno caprichado
Na memória a tabuada
E as respostas da lição.

Era uma vez um bom mestre
Experiente e exigente
Caxias ou mentor
Quadro negro e giz de pó

Era o mestre professor
Tabuada, cálculos e textos
Todos os tempos verbais
As quatro operações
Em aulas tradicionais?

Formavam-se outros mestres:
Professores, Advogados,
Engenheiros e médicos –
Competentes profissionais.

Era uma vez uma educação
Presenças, faltas e provas
Questionários e tarefas
Direito e obrigação?

Era uma vez um salário:
Da saliva ao pó de giz,
Do diário de papel,
Do ensino tradicional,
De valor profissional?

Evani Rocha




Professor

José Ngola Carlos

Professor: ‘uma subclasse de políticos inferiores na educação’

Kamuenho Ngululia
Kamuenho Ngululia
Imagem criada por IA no Bing – 25 de fevereiro de 2025,
às 15:24 PM

A história da educação revela que o processo educativo começou como um fenómeno comunal no qual a educação era ministrada pela comuna a todos os indivíduos pertencentes a ela. Nesta fase, a educação compreendia ensinar tudo a todos, uma educação para a vida e por meio da vida.

Passada esta fase, a educação se tornou um fenómeno social. Como fenómeno social, a educação se fez privilégio da classe alta, pelo que, já não se poderia ensinar tudo a todos, muito menos se poderia conceber uma educação para a vida e por meio da vida, antes, deu-se início à educação para a sobrevivência das classes baixas e a manutenção de poder para a classe alta.

Nas comunas, a educação era ministrada pelos mais velhos da comunidade em contexto de vida prática. Com o surgimento das sociedades, começam a surgir, na educação, figuras como o sacerdote, o mago, o mestre, etc. Porém, na sua gênese, o estado e a educação eram entidades não correlacionadas, o que quer dizer que, o estado não tinha nenhum controle sobre a educação, nem o manipulava para os seus fins.

Os mestres eram entidades independentes e autónomas. Estes concebiam seus próprios métodos e currículos educativos. Com o tempo, apercebendo-se da influência e do poder que os mestres ou educadores da época exerciam sobre as massas, conveio ao poder político regular o sistema educativo para evitar, diriam eles, anarquia e caos.

É com a presença do poder político na educação que surge a figura do professor e da professora.

Quem é o professor? Quem é a professora?

Os professores são uma subclasse de políticos inferiores, inseridos na educação pelo poder político como estratégia para conter a força e a influência dos mestres sobre a ordem social. Percebam ou não, os professores estão ao serviço da manutenção do poder político vigente, bem como a contínua subjugação das classes baixas.

Por que considerá-los uma subclasse de políticos inferiores inseridos na educação?

Os professores são uma subclasse de políticos inferiores inseridos na educação porque, dentre outras razões:

  1. O professor é um instrumento político e não um indivíduo pensante
  2. O professor não é autónomo, muito menos independente
  3. O professor está ao serviço da sociedade sob a direção do poder político e
  4. O professor não delibera sobre o que ensinar e como ensinar.

Kamuenho Ngululia
Malanje, 25 de fevereiro de 2025

Como citar este artigo: 
Ngululia, K. (2025:2). Professores: uma subclasse de políticos inferiores na educação.
Brasil: Jornal Cultural ROL

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O professor em desserviço

José Ngola Carlos: ‘O professor em desserviço’

Kamuenho Ngululia
Kamuenho Ngululia
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 21 de janeiro de 2025 às 8:25 AM
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 21 de janeiro de 2025
às 8:25 AM

Nenhum professor é autoexistente, ou melhor, nenhum professor existe por si. A existência do professor depende principalmente de que este tenha algo para ensinar e para quem ensinar.

A palavra professor deriva do verbo professar. Pelo que, um professor é alguém que professa, confessa, apregoa ou reconhece publicamente alguma coisa. Afinal, como podem existir professores sem terem algo para ensinar? Como podem existir professores sem que haja pessoas a quem professar?!

Queiramos ou não, a verdade é que todo professor está a serviço dos seus alunos. Estando a serviço dos alunos, é imperativo que este faça tudo ao seu alcance de modos a suprir as necessidades de aprendizagem de seus alunos no domínio cognitivo, afetivo e psicomotor em relação à vida e em relação ao seu meio envolvente.

Um professor a serviço dos alunos:

  1. Planifica as suas aulas;
  2. É assíduo e pontual;
  3. Ensina com destreza;
  4. Educa com paciência;
  5. Motiva com amor e
  6. Avalia sem preconceitos.

Estar a serviço dos estudantes é um dever por parte do professor, mas o anómalo, e não somente o inverso, pode ocorrer. Assim como o professor pode estar a serviço dos alunos, não pode fechar os olhos ao fato de que é possível, percebendo ou não, estar a desserviço da comunidade estudantil.

Um professor a desserviço dos estudantes:

  1. Não planifica as suas aulas ou planifica mal;
  2. Não é assíduo, muito menos pontual;
  3. Ensina sem nada ensinar de fato, antes atrapalha;
  4. Não educa, senão deseduca;
  5. Desmotiva e raramente motiva;
  6. Avalia como um fim em si;
  7. mesmo e não como um meio para alcançar a um fim.

No exercício das suas funções, por favor, diga não ao desserviço!


Kamuenho Ngululia

Malanje, 20 de janeiro de 2025

Como citar este artigo: Ngululia, K. (2025:1). O Professor em Desserviço. Brasil: Jornal Cultural ROL.

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Apostolado do professor/ formador

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo:

‘Apostolado do professor/ formador’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
Imagem gerada com IA do Bing - 2 de outubro de 2024 às 4:30 PM
Imagem gerada com IA do Bing – 2 de outubro de 2024 às 4:30 PM

Construir o magnífico e transcendente edifício denominado Cidadão do Mundo, não é a mesma coisa que fabricar bombas atómicas, elaborar teorias que poucos entendem, muitos ignoram e a ninguém beneficia.

A formação que se impõe para o futuro, deve surgir como um projeto estruturante de uma cultura profissional, assente na atitude metodológica reflexiva, tendo por objetivos: o rigor e o sentido dos valores humanistas.

Formar o cidadão do mundo, para a mudança que se vem operando, exige: professores, formadores e educadores, exclusivamente, ao serviço dos objetivos educacionais, em ordem à construção de um mundo mais civilizado, em todos os setores das diversas atividades das pessoas humanas.

A educação/formação, por meio dos seus currículos e procedimentos da vida escolar, tem um papel de grande importância e responsabilidade, no desenvolvimento das competências cívicas, profissionais e sociais dos indivíduos, o que é decisivo para o Estado de Direito Democrático.

O formador tem de se metamorfosear num orientador, num conselheiro, num organizador de aprendizagens, num colaborador, num colega e programador de saberes, em contextos de formação, também eles facilitadores de transformação.

A luta contra os valores irracionais, que imperam um pouco por todo o mundo, deve ser reforçada, não pela força das armas, sim pela: coerência, verdade e justeza dos argumentos, através do diálogo, assertivo, franco e frontal, pela harmonia das posições moderadas, pela compreensão das opiniões diferentes, quando razoáveis, lógicas e sensatas, pela tolerância com que devem ser interpretadas atitudes menos corretas e, finalmente, pela cooperação entre os povos.

 No processo de formação ao longo da vida, que a todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os processos de aprendizagem e projetos concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto ético-profissional justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.

Discute-se, atualmente, um pouco por todo o mundo, o sistema educativo ideal ou, pelo menos, o mais perfeito possível. Alteram-se processos de avaliação, introduzem-se novos conteúdos programáticos, exigem-se professores/formadores competentes, dedicados, em regime de exclusividade na escola onde estão colocados, e determina-se que executem tarefas que seriam melhor realizadas por outros profissionais, desde logo nos domínios burocrático-administrativos e financeiros.

A educação/formação, através da Escola, deve reforçar algumas qualidades, sem as quais não sobreviverá no mundo contemporâneo. Valorizar a autonomia pessoal, a busca do verdadeiro conhecimento (até onde for possível chegar à verdade), a generosidade e a coragem.

Como formar este professor/Formador? Trata-se de uma tarefa que se impõe aos Governos e também aos próprios, e que passa por um novo conceito: formação ao longo da vida, com a vida e para a vida; afinal, formação contínua.

Considera-se essencial, para a sociedade, aprofundar o mais possível toda uma estratégia e metodologias adequadas, em ordem à valorização da Educação/Formação para: o conhecimento, para a cidadania, direitos humanos, enfim, axiologia em todas as suas dimensões, tendo como objetivo a preparação da criança, do jovem e do adulto, para a participação responsável dos cidadãos na vida pública do país, através de processos de representação política e do empenhamento das Instituições da sociedade civil, tendo como base os princípios e valores fundamentais da democracia.

Também a formação científica e técnico-profissional, como: projeto de vida ativa, de inserção no mundo do trabalho, da constituição da família, da prevenção da saúde, da segurança e da velhice. O saber-fazer é, indiscutivelmente, essencial para a dignificação da pessoa humana, no sentido da exigência da melhor qualidade de vida a que tem, constitucional e legitimamente, direito.

Como é óbvio, esta participação implica um conjunto de conhecimentos, competências, capacidades e atitudes, voltadas para a intervenção ativa e que também cabe à escola transmitir aos cidadãos. No limite da construção deste novo cidadão, para o atual século XXI, os professores/formadores têm a inevitável responsabilidade de cada um em sua área, transmitirem e darem o exemplo dos saberes: ser, estar, fazer e conviver em sociedade.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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