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De Angola para o ROL, o professor Venâncio Chambumba!

Venâncio Chambumba traz para as páginas do ROL as letras educacionais e literárias de Angola!

Venâncio Chambumba
Venâncio Chambumba

Venâncio Domingos Sicana Chambumba, natural de Luanda (Angola) e residindo em Lisboa (Portugal), mais conhecido no meio educacional e literário como Venâncio Chambumba,  é Mestre em Terminologia e Gestão de Informação de Especialidade, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Licenciado em Ensino do Português, pelo ISCED/Luanda.

Professor de Língua Portuguesa e Metodologia do Ensino de Português, revisor linguístico e coorientador de trabalhos de pesquisa científica ligados à Língua Portuguesa.

Coautor do livro ‘O que o Professor de Português não Ensina’, sob a chancela da Imprensa Nacional e jornalista freelancer.

Áreas de Investigação:

a.         Terminologia da Lexicologia e áreas afins;

b.         Metodologia de Ensino do Português- Língua Materna e Língua não Materna;

c.         Terminologia de documentos administrativos e/ ou oficiais.

O professor Venâncio Latim inaugura sua participação no ROL com uma minuciosa exposição sobre o objetivo das aulas de Língua Portuguesa, abordando o conjunto de competências que os professores devem desenvolver no aluno de modo o processo de aprendizagem ser proveitoso, e, em especial, uma reflexão em torno da dimensão escrita do processo de ensino-aprendizagem e, particularmente, no quesito ‘cópia’.

A Cópia na Aula de Língua Portuguesa

A cópia na aula de Língua Portuguesa
Imagem gerada pela IA do Bing - 24 de setembro de 2024 às 6:03 PM
A cópia na aula de Língua Portuguesa
Imagem gerada pela IA do Bing – 24 de setembro de 2024 às 6:03 PM

  1. Introdução

As aulas de Língua Portuguesa têm como objectivo, de forma geral, abrir a mente do aluno, ou seja, levar a que o aluno, por meio das palavras, reflicta sobre determinado assunto.

E, para se dar conta dessa situação de reflexão, há um conjunto de competências que os professores devem desenvolver no aluno de modo o processo de aprendizagem ser profícuo. Tais competências são as seguintes:

  • Oralidade: compreensão do oral

  • expressão oral

  • Leitura

  • Escrita

  • Conhecimento da língua

  • Aspectos ligados à educação literária

Do conjunto de competências apontadas e que devem obviamente ser presentes em sala de aulas, poucas se verificam com a acutilância que deveriam merecer.

Todavia, para o contexto em causa, importa proceder a uma reflexão em torno da dimensão escrita do processo de ensino-aprendizagem e, particularmente, no quesito «cópia», uma actividade frequentemente feita, sobretudo, por alunos do Ensino Primário[1], a partir da 2.ª classe,  e do I Ciclo do  Ensino Secundário[2].

Para tal, abordamos a questão com professores de escolas de convénio, de escolas particulares, de instituições públicas, bem como professores e alunos de escolas do Ensino Secundário Pedagógico, todos de Luanda.

Em primeiro lugar, importa referir que a actividade em referência tem sido presente nas aulas de leitura e aplicada na última fase didáctica, que é a tarefa. Ou seja, grande parte dos professores, depois de uma aula sobre «leitura e interpretação escrita de um texto», deixa uma tarefa sobre a feitura de uma cópia da página x ou y do manual da classe.


[1] Da 1.ª à 6.ª classe.

[2] Da 7.ª à 9.ª classe

Em segundo lugar, têm reflectido tais professores sobre a necessidade ou importância de se mandar tal tipo de trabalho? Ou seja, para que é que depois de o aluno ter analisado ideologicamente um texto tem de se lhe mandar fazer cópia? Para mudar a letra? Para que ele aprenda a escrever correctamente do ponto de vista ortográfico? Ou haverá outro motivo que leva a que se mande isso ao aluno?

Em terceiro lugar, o que é a cópia? Sabemos que consiste numa reprodução (manuscrita ou por outro meio) do texto original.

Como podemos vislumbrar na definição acima, a cópia não leva o aluno à produção, mas sim à reprodução textual, por isso é que, ao copiarmos um texto, um número de telefone, ou outra coisa, não é permitido extrapolar o que nele encontramos, tais como: frases, letras, pontos, vírgulas etc.

  1. A cópia: um pouco de história

De acordo com Paulina (2010: 3), antes da invenção da tipografia, em 1449, pelo mestre gráfico alemão Johannes Gutenberg (1400-1468), a cópia era uma actividade imprescindível. Era graças aos manuscritos, feitos por monges e frades, chamados copistas ou escribas, que os livros se difundiam.

Segundo Terezinha Oliveira, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), citada por Paulina (ibidem), “se hoje conhecemos os escritos de grandes pensadores, como o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), foi porque os copistas os conservaram”. No mesmo diapasão, Oliveira afirma que “eles não precisavam ser necessariamente grandes leitores, [apesar disso], eram considerados artistas, pois para os homens medievais a preservação do livro era vital para difundir o conhecimento e a sabedoria.”

Outrossim, Paulina (2010:4) diz que o ofício de copista, tal como relatam os historiadores Guglielmo Cavallo e Roger Chartier, no livro História da Leitura no Mundo Ocidental, era extenuante. O referido livro descreve que o escriba lia em voz alta o texto para activar a memória imediata, enquanto transcrevia.

Entretanto, segundo a autora, por volta do século XIII, começaram a surgir equipamentos e móveis feitos para ajudá-los a reproduzir as páginas dos livros de maneira mais mecânica, sem terem de recorrer à leitura em voz alta.

A autora faz ainda referência de que, no livro atrás referido, “iluminuras e gravuras de madeira, com scriptoria da fase medieval tardia, mostram copistas com a boca fechada, sentados em mesas equipadas com apoios para livros e utilizando uma variedade de novos marcadores de linha operados mecanicamente para guiar os olhos na acção de seguir o texto a ser copiado”.

  • Funções da cópia nas nossas escolas

Das conversas mantidas com professores dos ciclos referenciados, bem como com professores, alunos pré-finalistas e finalistas do Secundário Pedagógico em Luanda, tem sido reiterada a feitura da cópia por parte do aluno, cumprindo as seguintes funções:

  • Melhorar a letra/ grafia. Os professores admitem que, por meio dela, o aluno melhora a sua performance no que toca à disgrafia e/ou disortografia.

  • Memorização da grafia correcta de uma palavra. Por meio da cópia, os professores crêem que os alunos vão passar a escrever correctamente.

  • Recurso por meio do qual o professor transmite e faz circular diversos géneros textuais. Por isso, em certas escolas, de acordo com os nossos interlocutores, os professores mandam fazer cópia como prenúncio do texto a ser estudado na semana seguinte, no dizer desses professores “ é para que o aluno se familiarize com o texto”, embora o aluno tenha o manual no qual se encontra tal texto.

  • Preenchimento de tempo. Neste caso, a cópia ocorre na situação em que o professor vai, por exemplo, para uma reunião emergente ou mesmo não tenha preparado a aula e de modo os alunos não fazerem barulho o professor escreve algo no quadro ou pede para abrirem o manual de leitura numa determinada página para aqueles copiarem o conteúdo.

  •  Asseguramento da prática de escrita. Os professores foram unânimes em afirmar que, de modo o aluno não perder a prática da escrita durante as férias, é necessário mandar um número considerável de cópias. Mas, no dizer desses agentes de ensino, é preciso não exagerar.

  • Meio de punição. Neste contexto, a cópia serve para disciplinar e /ou castigar o aluno prevaricador de qualquer situação em sala de aulas. Como não se faz recurso ao “chicote”, então, os professores tendem a aplicar esse tipo de correctivo.

De acordo ainda com aqueles agentes do ensino, por meio da cópia, avalia-se a grafia, a incorrecção ortográfica, o respeito à margem e à abertura de parágrafo.

Convém fazer˗se algumas considerações em torno do argumento segundo o qual a cópia « ajuda a melhorar a competência  de leitura do aluno.»

 A leitura implica a decifração e a compreensão, ou seja, é necessário que o aluno saiba em primeira instância descortinar fonologicamente cada palavra de um texto para as poder compreender a seguir. Para tal, tem de existir estratégias próprias e na aula de leitura para que o aluno possa colmatar o problema da leitura nos níveis acima apresentados.

Portanto, uma avaliação rigorosa e habitual da leitura, através de uma grelha de observação, com critérios previamente delineados pode ser a solução do problema da leitura em si e não propriamente a cópia.

Esses agentes de ensino acham que uma simples cópia muda imediatamente a letra do aluno. Porém, na prática de ensino do português, tem˗se estado a verificar dificuldades específicas de aprendizagem[1], tais como a disgrafia[2] e disortografia[3].

Por isso, devia haver da parte dos professores de português a utilização do método preventivo[4], no sentido de, conhecendo os tipos, as causas, os sinais de alerta e o modo de intervenção das dificuldades suprarreferidas, se poder debelar os problemas dos alunos nessa questão. 

Como consequência da avaliação suprarreferidas, os alunos não conseguem aplicar noutras situações de escrita o que é corrigido numa cópia porque o fazem mecanicamente. Associado a isso, está o facto de o professor não explicitar a regra ortográfica de uma palavra ou levar o aluno a fazê-lo por meio de comparação ou outro método.

Por isso, há alunos que, mesmo copiando um texto três ou mais vezes, se repararmos com atenção, cometem diversos erros ortográficos. Ora, o aluno está num processo de reprodução fiel daquilo que se encontra no livro, ainda assim comete erros. Então, por que comete tais erros?

O aluno tem gravado no seu subconsciente a escrita de determinada palavra e ao realizá-lo, ou seja, ao copiar tal palavra, reproduz aquilo se encontra no seu subconsciente. Dando erros como: «atensão*, simeira* etc.». Ou seja, não é meter o aluno a copiar páginas e páginas que se vai elevar a sua competência ortográfica. É necessário intervir de outra maneira para acabar com o problema de escrita na dimensão ortográfica, dominando-se as diversas formas do alfabeto, a fim de se utilizar uma grafia legível, para além da disgrafia e disortografia, aspectos já referenciados acima.

Uma análise aos manuais do Ensino Primário e do I Ciclo do Secundário evidenciou que nenhum deles explicita a actividade em estudo. O que se verifica em sala de aula é que os professores orientam os alunos a procederem à cópia do texto lido ou do texto a ser lido.

Uma possibilidade de tirar partido desta actividade é inseri-la numa situação em que essa reprodução cumpra uma função clara para o aluno.

  • Elevar a competência ortográfica por meio da cópia funcional

Proposta 1- (Baptista, Viana & Barbeiro, 2011)

 A atribuição de uma função ao texto copiado responsabilizará o aluno pela correcção do produto final, levando-o a realizar mais frequentemente o confronto com o original.

[1] De acordo com Coelho, Diana Tereso.

[2] Perturbação de tipo funcional  que afeta  a qualidade  da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado  ou à grafia(Torres e Fernández, 2001: 127); prende-se  com  a “ codificação  escrita(…), com problemas  de execução gráfica e de escrita das palavras.”(Cruz, 2009: 180).

[3] Dificuldade manifestada por um conjunto de erros da escrita que afetam  a palavra , mas não o seu  traçado ou grafia (Vidal, 1989, citado  por Torres e Fernández , 2001:76), pois uma criança  disortográfica  não é forçosamente  disgráfica.

[4] Também conhecido como Método Dom Bosco.

Se, por exemplo, os alunos tiverem um tema ligada à saúde ou ao meio ambiente, deverão efectuar cópias relativamente a esses temas, a fim de serem afixados em cartazes. Isto levará a que se preste atenção à maneira como se escrevem as palavras, pois, caso se verifiquem incorrecções, vai ser necessário copiar de novo o texto.

Proposta 2 (Teberosky citada por Paulina, 2010)

O professor pode integrar a cópia numa perspectiva em que o aluno dita parte do texto com o qual se está a trabalhar na semana. E a professora deixa claro que vai anotar tudo quanto se disser.

À medida que o aluno vai ditando, a professora escreve no quadro e ao fazê-lo introduz de forma propositada erros, como neste enunciado: “As sete cabrinhas era uma vez uma mãe ai que comprido a mãe foi embora”.

Após isso, procede à leitura e deixe que os alunos se manifeste a ver se terão percebido o que se leu.

Em função da contestação dos alunos, o professor pergunta o que deve ser retirado e porquê. Depois de justificarem, então pode pedir-lhes para copiar do quadro o que eles corrigiram.

Nessa situação, a cópia tem razão de ser porque conserva um fragmento de uma história que vai ser retomada noutra ocasião e as crianças produziram o texto copiado. Ademais, não o copiaram de forma mecânica, pois activaram o sentido reflexivo.

Proposta 3 – Cópia e reescrita (Baptista,  Viana & Barbeiro, 2011)

A actividade de cópia, em vez de se limitar à reprodução do texto, pode ser combinada com a intervenção sobre o texto, designadamente através da reescrita.

Deste modo, entrega-se aos alunos um texto para efectuarem a cópia, mas em vez de se limitarem a fazer a sua reprodução, deverão realizar algumas intervenções de reescrita, segundo as indicações previamente preparadas pelo professor e que se adeqúem ao texto em causa e às capacidades dos alunos. Essas intervenções poderão incluir, entre outras propostas:

1.       – substituir os nomes das personagens por nomes de pessoas conhecidas do

aluno: familiares, amigos, etc.;

        – substituir as palavras assinaladas, pelo professor, por sinónimos;

        – substituir as palavras assinaladas, pelo professor, por antónimos;

        – acrescentar um adjectivo para caracterizar os nomes assinalados;

        -substituir um conector por outro de sentido equivalente.

Após a realização da tarefa, as soluções encontradas por cada aluno poderão ser confrontadas e partilhadas na turma.

A verificação ortográfica poderá ser realizada pelo professor e pelos colegas, em hetero-correcção ou então o professor regista os erros ortográficos de cada aluno numa tabela ou grelha  para este os corrigir.

Outrossim, a realização da cópia poderá também ser feita em articulação com o estudo do funcionamento da língua, designadamente as classes de palavras. Ao efectuarem a cópia, escrevendo a base textual a azul, os alunos poderão escrever os nomes a verde e os adjectivos a vermelho; também, no mesmo texto ou noutras ocasiões, os verbos poderão ser destacados, sendo escritos a preto.

  • Conclusão

Os professores do Ensino Primário, a partir da 2.ª classe, bem como os do I Ciclo Ensino Secundário, podem apropriar-se das propostas acima apresentadas e, de acordo com a realidade de ensino de cada um, introduzirem emendas de modo que o processo de ensino e aprendizagem surta em evolução não só para os professores como também para os alunos.

Bibliografia

Azevedo, F. (2000). Ensinar e aprender a escrever – Através e para além do erro. Porto: Porto Editora.

Baptista, A; Viana, F & Barbeiro, L. (2011). O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica e Ortográfica. Lisboa: DGIDC.

Carbonari, R. & Silva A. (2001). Cópia e leitura oral: estratégias para ensinar? In: Chiappini, L. (coord.). Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez.

Cavallo, G & Chartier, R.(s/a). História da Leitura no Mundo Ocidental– Volume 1,Ed. Ática.

Coelho, T. (2013). Dificuldades de aprendizagem específicas (dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia). Porto: areal editores.

Cruz, V. (2009). Dificuldades de Aprendizagem Específicas. Lisboa: LIDEL-Edições Técnicas, Lda.

Horta, I. & Martins, M. A. (2004). Desenvolvimento e aprendizagem da ortografia: Implicações educacionais. Análise Psicológica, I (XXII), 213-223.

Paulina, I. (2010).Cópia: tempo perdido. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/1515/copiatempo-perdido. Acesso em 13 de Novembro de 2020.

Torres, R. & Fernández, P. (2001). Dislexia, Disortografia e Disgrafia. Amadora: McGraw-Hill.



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