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Ivan Fortunato: 'Particularmente, penso que o mesmo é um problema'

Particularmente, penso que o mesmo é um problema (*)

            Para introduzir este breve ensaio, devo esclarecer o leitor mais arguto, e os críticos de plantão, que não sou um escritor livre de erros – de qualquer natureza. Por isso, caro ledor, venho aqui contrapor não os erros de escrita que se dão na dubiedade da própria língua, na falta de atenção de quem publica um texto com uma palavra mal digitada, ou apresenta uma sentença com erros de concordância. Aqui, tenho a intenção de abordar erros de linguagem que surgem propositadamente na tessitura de uma ideia, escrita ou falada, quando se busca a erudição.

Um desses erros, que têm incorrido com certa frequência, é o uso da palavra mesmo(a). Claro que não me refiro à sua utilização como adjetivo, tendo o sentido de igual (p. ex.: eu quero o mesmo lanche que o meu amigo pediu) ou repetido (p. ex.: fui atendido pelo mesma funcionária de sempre).

O erro acontece quando o mesmo é utilizado como sujeito ou predicado, na intenção de substituir um desses termos utilizados na frase anterior. Raramente essa prática é falada, mas reiteradamente aparece na comunicação escrita. Os exemplos são facilmente encontrados: placas, comunicados, memorandos, ofícios, notícias, circulares, e-mails, e assim por diante. Da mesma forma, praticamente todos os trabalhos acadêmicos que recebo de meus estudantes para correção, carregam o mesmo erro em sua redação. Não raro, a justificativa pela opção do mesmo ou da mesma, é que a repetição do termo anterior deixaria a redação feia, empobrecida e/ou repetitiva. A explicação é válida, contudo, o mesmo não resolve o problema: piora.

Eis um pequeno exemplo:

  • Um cartaz manuscrito em letras garrafais tinha o nobre propósito de alertar que as vagas em frente a um condomínio de classe média não deveriam ser utilizadas. Isso porque o veículo correria risco de danos materiais, pois o prédio estava, naquele momento, sendo pintado. O cartaz dizia: Motorista, cuidado! Não estacione na frente do prédio, porque o mesmo está sendo pintado. Vê-se uma linguagem complicada, utilizada em uma mensagem que poderia e deveria ser simples: Motorista, cuidado! Não estacione na frente do prédio, porque o mesmo que está sendo pintado. Ou, ainda, mais simplificado: Motorista, não estacione. O prédio está sendo pintado.

O mesmo, além de reduzir a qualidade da escrita, dificulta a comunicação. Por isso, a saída é bem simples: deixar de escrever mesmo ou mesma para substituir termos já utilizados no texto.

Enquanto o mesmo é um problema da linguagem escrita, a linguagem oral tem sofrido com a combinação de duas palavras que incorrem num erro tautológico básico. Trata-se dos dizeres “eu, particularmente”. Ora, tanto o pronome eu, quanto o modo particular (particularmente), dizem respeito à pessoa que fala. Nesse sentido, “eu, particularmente”, é tão redundante (e errado) quanto dizer descer para baixo, ou subir para cima.

Em conclusão, eu, particularmente, tenho alertado meus estudantes e colegas a respeitos desses erros que, cada vez mais, se tornam comuns nos escritos e nas falas. Muitas vezes, os mesmos parecem penduricalhos, que somente atrapalham a compreensão e a comunicação. Ao fim e ao cabo, este último parágrafo apresenta dois erros. Que tal tentar reescrevê-lo?

 

(*) Ivan Fortunato é doutor em geografia pela UNESP, professor do Instituto Federal em Itapetininga, membro do IHGGI e secretário da Academia de Letras de Itapetininga (2017/2018). Contato: ivanfrt@yahoo.com.br

 

 

Helio Rubens
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