Exercitar a esperança com responsabilidade
Percebemos no Ocidente, mas não só nele, que há décadas temos o sinal dominante da crise. De vários pólos este nosso tempo é lido como tempo do fim: fim da civilização ocidental (Jacques Derrida), fim da modernidade (Gianni Vattimo).
Dominam a precariedade do presente e a incerteza do futuro, e sobretudo para as novas gerações, há uma incógnita que desperta medos por causa da sua imprevisibilidade e pelos horizontes asfixiantes que a caracterizam: vivemos num mundo em fuga, que parece escapar ao nosso controle e impedir-nos de compreender para onde estamos andando. Por isso, no seu ensaio Os novos medos, Marc Augé chega a denunciar que hoje se teme mais o viver do que o morrer. Em particular, os nossos jovens deixam-se vencer por algo que não sabem sequer nomear e olhar no rosto, experimentando-o, todavia, como destrutivo: o niilismo, que muitas vezes lhes impede toda a procura de sentido e, portanto, de felicidade.
Por estas razões, hoje, mais do que nunca, seria necessário voltar a escutar a pergunta: O que posso esperar? E também: O que podemos esperar juntos? É uma pergunta por vezes muda, que se sente em muitas pessoas e ambientes. É a pergunta mais profunda, que eles não sabem tampouco articular facilmente. A esperança, de fato, não é uma atitude a assumir ou a recusar de imediato, mas é o fruto de um discernimento, de uma espera fundada no pensar, no refletir, no escutar, no confrontar-se, e é também um exercício de grande responsabilidade.
O ser humano não é dado de uma vez por todas, mas é uma transformação que precisa de uma orientação, de um projeto, de um propósito pelo qual agir, de maneira a encontrar um sentido.
Tem razão Dostoiévski (1821-1881) quando afirma que: “viver sem esperança é impossível”, porque as pessoas às quais é subtraída a esperança tornam-se agressivas, violentas, apáticas, até caírem numa espécie de angústia autodestrutiva.
No entanto, há uma errada compreensão da esperança da qual é preciso resguardar-se: aquela de quem tende constantemente para além do presente, sem o colher na sua irrepetibilidade, constrangendo-se assim a uma existência vivida ao futuro anterior. Não, não se vive esperando viver, preparando-se sempre, e em vão, para uma felicidade que nunca chega…
Esperar é uma arte, é o estar prontos àquilo que ainda não nasceu, é um ato de fé e uma adesão convicta a uma promessa: é uma luta contra o desespero, e é por isso que é capaz de esperar em profundidade só quem conheceu a tentação de desesperar. A esperança, por fim, é o fruto de relações vivas, alimenta-se do estar juntos: nunca sem o outro! E não esquecemos: só se pode esperar por todos, nunca apenas por si próprio.
Prof. José Pereira da Silva
13.11.2020
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024