Lutando para não perder minha essência
Trabalho com artesanatos, mas também trabalho com as palavras e, como escritora, tenho refletido muito nas últimas semanas sobre o que escrever em um mundo onde as pessoas parecem não gostar mais de ler, de interagir com as palavras; onde elas estão preocupadas com as celebridades e o que elas andam fazendo. Às vezes dá uma tristeza quando penso assim… porque eu amo escrever na coluna do Jornal Rol, nos grupos, enfim. Amo ler, amo palavras; gosto de compartilhar meus textos, reflexões e pensamentos com muito carinho, mas tudo isso demanda meu tempo. Histórias não nascem da noite para o dia e, principalmente, depois da pandemia, tornou-se necessário me reinventar. Nada será como antigamente e, cada vez mais, a tecnologia chega a nos assustar, ainda que ela seja muito necessária. Existe uma enxurrada de informações que, se não soubermos filtrar, seremos envenenados e perderemos a pureza das nossas próprias palavras e da nossa essência. Ficaremos muito iguais; robóticos, entende?
Como eu não quero perder a minha identidade, luto diariamente contra o exagero e aquilo que não sou obrigada a copiar.
Sou artesã, comerciante e recentemente me descobri a mais nova ‘digital influencer’. Imagine que eu também sou obrigada a trabalhar no Instagram! Não é porque faço laços pra cachorro que irei fazer de qualquer jeito, então preciso caprichar na confecção dos mesmos, nas suas fotos, na iluminação, no filtro; tudo precisa ser pensado: a imagem, o fundo, o tom, o ‘feed’. Aí vem ‘a bonita’ e me diz: ‘Nossa, que laços caros!”; como se esses artigos nascessem num piscar de olhos ou numa simples mexida de nariz igual aquele filme beeeeeem antigo da ‘Feiticeira’…
Imagine então confeccionar um livro, o trabalhão que dá! Às vezes bate um desânimo, justamente porque a sensação que a gente tem é a de que ninguém mais quer ler. É como se desperdiçássemos nosso precioso tempo. Mas, em seguida, aquela voz maravilhosa de Deus me diz: ‘Você está errada! Sonhos não são besteiras!’. E é justamente nisso que tenho pensado; se eu gosto de escrever, vou continuar escrevendo e ponto! Sem a preocupação de ser mais um livro. Vou deixar as coisas fluirem e sem perder a minha essência. Acredito que muitos escritores se sintam assim como eu, lutando incansáveis para continuar levando as palavras para as pessoas, em um mundo cada dia mais artificial; que acreditam que ainda existam pessoas que gostem de ler e que apreciarão seus escritos, ou, quem sabe, que comprarão algum laço ou gravata para seu cachorro.
Não sei se sou uma artesã que virou escritora ou uma escritora que virou artesã, ou, como meu amigo Diniz me definiu, ‘uma artesã das letras’. O que eu sei é que não posso deixar meus dons morrerem.
Andreia Caires
andreiacairesrodrigues@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024