Ricardo Hirata: ‘A DIFÍCIL TAREFA DE PENSAR O BRASIL DE HOJE’
A partir da análise que o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL) fez em Itapetininga, SP, no dia 22 de julho de 2017, é possível destacar algumas questões:
- A inspiração na revolução feita por Getúlio Vargas em 1930 onde o Brasil passa por um processo de industrialização. Ele defende o fortalecimento da nacionalização: um Brasil para os brasileiros, não para os mercados internacionais.
- Raul enfatiza que o território brasileiro é continental, tem quantidade suficiente de terras agricultáveis, recursos naturais, possui uma população de tamanho razoável e abriga institutos de pesquisas e universidades de referência, fatores estes que favorecem o desenvolvimento nacional. Aqui ele coloca um posicionamento político entre os nacionalistas e os entreguistas do território brasileiro.
- O Brasil enfrenta um problema sério de falta de saneamento básico que não chega às moradias de muitos brasileiros, e sem isso os gastos em saúde tendem a serem ainda maiores em face das doenças que grande parte da população carente está exposta.
- A força dos grandes bancos que continuam lucrando muito diante da crise política, econômica e social e que ditam o que deve ser feito no território brasileiro.
- O enfraquecimento ou mesmo o desmantelamento do setor industrial: o Brasil regride quando se vê diante da necessidade de depender exageradamente das importações. O agronegócio como motor da economia brasileira é frágil, pois gera poucos empregos e apenas moderniza uma situação do passado onde o Brasil era apenas um país agroexportador.
- Raul fala de algumas grandes famílias que formam a elite brasileira, que não querem pensar o Brasil e sim apenas lucrar com o uso do território. Elas mandam seus filhos estudarem nos EUA e na Europa. O professor Milton Santos (USP) dizia que o mundo está nas mãos de um punhado de grandes empresas multinacionais ou globais, e que elas detêm o controle da produção e da distribuição das informações.
- Outro ponto levantado é o enfrentamento que precisa ser feito dentro das cidades com relação ao domínio das agencias imobiliárias. O setor imobiliário se apropria do território urbano. O espaço se transforma em mercadoria cara. O distanciamento na produção de bairros novos, de conjuntos habitacionais e de condomínios fechados, obriga o setor público a ter gastos relevantes com a expansão do saneamento, da energia elétrica, do transporte público, etc., valorizando imensos terrenos vazios, entre o centro e a periferia expandida artificialmente.
- A ênfase dada é que o Brasil precisa de fato de um governo comprometido com a sua gente. Sem dúvida nenhuma a imensa maioria de deputados e de senadores movidos pelos seus próprios interesses e por interesses daqueles que os financiaram não está preocupada com aqueles e aquelas que se encontram mais fragilizados no território que por enquanto ainda é nacional.
- No mundo globalizado existe uma guerra entre os países. Aqueles que investem no conhecimento e no desenvolvimento científico, técnico e que defendem seus territórios, e aqueles que precarizam a sua educação, desmontam as suas indústrias e vendem os seus territórios aos mercados internacionalizados.
- O debate esta posto: de quem é o Brasil e de quem será o Brasil? A defesa de um território brasileiro forte diante do contexto de globalização é uma leitura geopolítica importante, mas um ponto ainda não fecha: a revolução será feita então novamente por dentro do capitalismo? Como fica o socialismo no contexto histórico e geográfico atual?
Ricardo Hirata
Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.