novembro 24, 2024
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Paulo Roberto Costa: 'Sonhos de um dia de verão'

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“(…) O som do motor da moto recém-adquirida lhe dava uma sensação inebriante não somente pela potência que transmitia, mas, muito mais, pelos olhares que recebia dos pedestres que o observavam com um misto de admiração e inveja.”

 

Domingo de manhã. O sol pálido e morno de um verão surpreendentemente ameno fornecia uma luminosidade suave e uma leve brisa transmitia uma tranquilidade que remetia ao murmúrio de riachos entre pedras em paisagens bucólicas.

O motociclista descia lentamente a avenida saboreando todo esse raro momento, propiciado pela ausência de carros e da poluição da semana. O som do motor da moto recém-adquirida lhe dava uma sensação inebriante não somente pela potência que transmitia, mas, muito mais, pelos olhares que recebia dos pedestres que o observavam com um misto de admiração e inveja.

Sentia-se grato e radiante por toda essa felicidade e pela expectativa de chegar ao local onde, aos domingos de manhã, jogava futebol com os amigos de infância que, certamente, também iriam sufocá-lo de perguntas sobre a nova aquisição.

A motocicleta e o futebol eram suas paixões, pois permitiam tanto exibir seu sucesso profissional quanto suas habilidades com as pernas, dignas de um promissor atleta.

A mente vagava por todo o labirinto de seu ego em um devaneio tal que somente se deu conta de que estava em um cruzamento de avenidas quando ouviu um barulho assustador de um carro em alta velocidade freando inutilmente e o som do choque inevitável de metais.

Por alguns instantes, que não soube precisar quanto, tudo desapareceu. Lentamente, porém, começou a recobrar os sentidos. Ouvia ao longe o som indistinto de vozes e percebia, mais do que via, a correria de pessoas. Não sentia dor alguma. Na verdade, não sentia nada e sentiu-se feliz apenas por não ter batido a cabeça. Não conseguia imaginar como, mas já estava sem o capacete que, ou fora arrancado pela batida ou havia sido retirado de sua cabeça por alguém. Não sabia dizer. Girou lentamente a cabeça e tentou focar em alguma coisa. Foi quando viu alguma coisa que lhe gelou o sangue. Ao lado de seu corpo, mas totalmente separado dele conseguia ver o que parecia ser uma de suas pernas ensanguentada, parecendo ter sido arrancada na altura da coxa. O pânico e o pavor lhe secaram a boca. Arregalou os olhos em total incredulidade. O horror tomou conta de todo o seu ser e começou a gritar, gritar, gritar e chorar com todas as suas forças.

Foi quando acordou! Ainda gritando. Não estava mais no chão da avenida no domingo de manhã! Estava em uma cama, no meio da noite, encharcado de suor e com o coração que parecia querer sair pela boca.

Meu Deus! Estivera sonhando! Graças a Deus! Graças a Deus! Sentiu um alívio tal que parecia ter se livrado do peso do mundo todo de suas costas. Com um suspiro profundo, tentou se localizar na escuridão do quarto enquanto repassava o enorme pesadelo do qual havia acordado.

Sentia o corpo pesado e tinha certa dificuldade de se mover. Não conseguia sequer raciocinar direito. Foi quando alguém, provavelmente alertado pelos seus gritos, entrou correndo no quarto e acendeu a luz. Uma enfermeira! Não estava em sua casa! Estava em um quarto de hospital! Enquanto a enfermeira corria atendê-lo, sentindo que o terror lhe assaltava novamente, reuniu todas as suas forças para levantar-se um pouco enquanto olhava desesperado para o final da cama. Puxou as cobertas e contemplou aturdido o vazio na cama onde deveriam estar suas pernas. Voltou a gritar e a chorar. Queria se levantar e fugir, fugir desse pesadelo. Gritou, gritou, gritou e, de repente, acordou….

Sergio Diniz da Costa
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