novembro 22, 2024
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Celso Lungaretti: 'Compensa assumirmos…. no totalitarismo?'

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Celso Lungaretti: ‘DEPOIS DA PRISÃO DO LULA, O DILÚVIO: É O ROTEIRO DA CARAVANA DOS INSENSATOS?’

É perigosa e irresponsável a provocação que os dirigentes do PT levam a cabo, apostando na turbulência como a talvez última possibilidade de salvar o ex-presidente Lula das grades.

Neste exato momento, Lula não passa de um político profissional que a Lei da Ficha-Limpa impedirá de disputar a próxima eleição presidencial e uma sentença por corrupção deverá, mais dia, menos dia, conduzir ao cativeiro.

caravana dos insensatos que percorre o país seria, em princípio, apenas inútil, pois é característica de candidatos a alguma coisa e ele já deixou de ser candidato a seja lá o que for.

Mas, constitui-se num multiplicador de tensões, cujo efeito tóxico aumenta ainda mais por termos um governo fraco como o de Michel Temer, uma corte suprema que adia o inadiável por medo de decidir e um Congresso que se omite quando a temperatura política se aproxima da fervura.

A decisão de visitar estados onde Deus e o mundo sabiam que Lula seria mal recebido é, no mínimo, suspeita. E, como suas consequências podem ser desastrosas, tem de ser incisivamente repudiada.

Os disparos ocorridos nesta 3ª feira (27) foram, evidentemente, uma iniciativa de amadores desmiolados e fanáticos; profissionais jamais atirariam daquela forma, a esmo, com chance infinitesimal de atingir o suposto alvo (o Lula nem estava lá!).

Algo assim só serve como alerta, levando as forças de segurança a montarem esquemas de proteção que funcionem. As chances de êxito numa tentativa seguinte se tornam irrisórias.

Posso afirmar, sem qualquer receio de queimar a língua, que, caso sejam presos os autores de ambos os atentados, vai se constatar que os assassinos de Marielle Franco são realmente perigosos e os alvejadores de lataria de ônibus, trapalhões metidos a bestas…

Mas, a escalada de chamamentos ao caos acabará mesmo atraindo o caos, se não a detivermos.

Para os grãos petistas e sua obsessão extremada pelo poder ilusório de um presidente da República sob a democracia burguesa, na qual quem manda mesmo é o poder econômico, parece não importar que, depois de Lula (ser preso) venha o dilúvio.

Mas é também sobre todos nós, os explorados e os que lutamos contra a exploração, que tal dilúvio desabará. Então, temos o dever de refletir sobre se compensa assumirmos neste momento, com o povo desmobilizado e desesperançado como está, o risco de submergirmos de novo no totalitarismo sob o qual padecemos 36 anos no século passado.

As principais lições a extrairmos dos três mandatos presidenciais e um terço do PT são:

  • a de que o reformismo e a conciliação de classe não trazem conquistas permanentes para os trabalhadores e os excluídos, apenas melhoras fugazes e meros paliativos, sem, p. ex., fazerem recuar 0,1% que seja a dantesca desigualdade econômica no Brasil;
  • a de que, à medida que a crise insolúvel do capitalismo se agrava e marcha para o desfecho, as instituições brasileiras estão derretendo a tal ponto que as soluções, percebe-se claramente, têm de ser buscadas muito além das ilusões eleitoreiras;

  • a de que os tais valores republicanos só são respeitados pela classe dominante enquanto isto lhe convém, podendo os mandatos conquistados nas urnas ser deletados mediante meros piparotes parlamentares.

Então, como o PT até agora não propôs absolutamente nada que nos desse a mais tênue esperança de que um terceiro mandato do Lula seria diferente dos dois anteriores (os quais já pontavam para o beco sem saída no qual Dilma se aprofundou até bater com a cara no muro), a pergunta a ser feita é: vale a pena investirmos na radicalização num momento em que nem sequer saberíamos o que fazer com o poder caso ele nos caísse na mão, além de ser enorme a chance de levantarmos a bola para a extrema-direita marcar o ponto?

Bem melhor será começarmos a fazer a lição de casa pendente desde o dia 31 de agosto de 2016, quando era imperativo discernirmos quais erros nos levaram a uma derrota tão acachapante como o impeachment de Dilma; e, a partir daí, adotarmos estratégia, tática, posturas e valores alternativos, para substituírem os que historicamente caducaram, bem como abrirmos espaço para a renovação de lideranças, pois salta aos olhos que foram muitas as que se descredenciaram nos últimos anos.

Helio Rubens
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