novembro 22, 2024
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Artigo de Celso Lungaretti: 'Cabo Anselmo lança livro 'Minha Verdade'. Mas, o veredicto da história é bem diferente…'

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Do blogue Náufrago da Utopia

Cabo-Anselmo-Agente-infiltradoA História deu o veredicto sobre o antigo marinheiro de primeira classe José Anselmo dos Santos, erroneamente apelidado de Cabo Anselmo, em 2012, quando a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça negou seu pleito, decidindo que jamais fora vítima da ditadura mas sim um agente provocador a serviço dos golpistas desde a fase de preparação da quartelada de 1964.

Hoje com 74 anos, ele exercita seu direito de espernear contra a verdade histórica na autobiografia Minha Verdade, com prefácio de Olavo de Carvalho, que a editora Matrix começou a colocar nas livrarias neste sábado (27). Quantas árvores terão sido abatidas para fornecer o papel no qual foram impressos os 3 mil inúteis e repulsivos exemplares?

Anselmo sempre alegou só ter começado a colaborar com a repressão, armando ciladas nas quais os resistentes eram presos ou mortos, após ser preso em 1971 pelo delegado Sérgio Fleury, do Deops paulista. Já o PCB desde os anos 60 o vinha acusando de agente provocador.

A Comissão de Anistia chegou à verdadeira verdade a partir de documentação secreta do Serviço de Inteligência da Aeronáutica, de papéis recebidos do Arquivo Nacional e de um depoimento do ex-delegado Cecil Borer no sentido de que Anselmo era mesmo um infiltrado (ver aqui), comprovando de viva voz o que sempre se suspeitara: não passou de uma farsa a alegada fuga do marinheiro da delegacia carioca na qual estava detido em maio de 1966, pois ele foi simplesmente solto.

O MAIS NOTÓRIO “CACHORRO” DO FLEURY

metralhaAntes mesmo de definitivamente comprovada sua condição de agente duplo, Anselmo já tinha assegurado uma posição infame na História como o mais célebre dos militantes da luta armada que, presos, atuaram (segundo o jargão dos próprios órgãos de segurança) como cachorros da repressão.

De acordo com o amigo e protetor de Anselmo até hoje, o (antigo torturador) delegado Carlos Alberto Augusto, do 12º distrito de São Paulo, só no Deops/SP havia uns 50 deles.

Até 2012, perdurava, contudo, uma dúvida: Anselmo mudara de lado em 1971–o que obrigaria a União a atender seu pleito, apesar das abominações que cometeu, tendo até se vangloriado de haver causado a  morte de “cem, duzentos” opositores da ditadura que o tinham como companheiro–  ou era, desde o início, um agente infiltrado? A Comissão de Anistia deu o xeque-mate na questão.

Principal agitador da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil no período que antecedeu o golpe de 1964, Anselmo chegou a ser preso pelo novo regime mas escapou de forma inverossímil; passou vários anos foragido e chegou a treinar guerrilha em Cuba.

De regresso ao Brasil em 1970, militou na luta armada contra o regime militar, ao mesmo tempo em que colaborava com a repressão da ditadura, desgraçando seus companheiros.

Eis como Élio Gaspari relatou, em A Ditadura Escancarada, a mais lembrada de suas missões:

A última operação de Anselmo, na primeira semana de janeiro de 1973, (…) resultou numa das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura. Um combinado de oficiais do GTE e do DOPS paulista matou, no Recife, seis quadros da VPR. Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia.

Lá, segundo a versão oficial, deu-se um tiroteio (…). Os mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar um só. Receberam 26, catorze na cabeça. (…) A advogada Mércia de Albuquerque Ferreira viu os cadáveres no necrotério. Estavam brutalmente desfigurados.

Passou então a viver sob a proteção dos órgãos de segurança, que lhe proveram remuneração e fachada legal sob identidade falsa. De vez em quando, para aumentar os ganhos, concedia entrevistas que foram publicadas com destaque na grande imprensa e até viraram livros.

Vários dos ex-colegas de Anselmo na Armada há muito sustentavam que ele sempre serviu à comunidade de informações.

Primeiramente, porque ele tudo fez para radicalizar os movimentos dos subalternos das Forças Armadas – fator decisivo para que a oficialidade, sentindo-se afrontada, decidisse quebrar seu juramento de fidelidade à Constituição, passando a apoiar os conspiradores.

Após o golpe, Anselmo pediu asilo na embaixada mexicana. Mas logo mudou de ideia e, embora fosse uma das pessoas mais procuradas do País, saiu andando calmamente de lá, sem ser detido.

O HÓSPEDE SAÍRA E NÃO VOLTARA…

Algum tempo depois foi preso, exibido como troféu pela ditadura… e logo transferido para uma delegacia de bairro, na qual, diz Gaspari, “Anselmo fazia serviços de telefonista, escrivão e assistente do único detetive do lugar”.A situação carcerária do ex-marujo, continua Gaspari, não cessou de melhorar:

Com as regalias ampliadas, era-lhe permitido ir à cidade. Numa ocasião surpreendeu o ministro-conselheiro da embaixada do Chile, visitando-o no escritório e pedindo-lhe asilo. Quando o diplomata lhe perguntou o que fazia em liberdade, respondeu que tinha licença dos carcereiros. O chileno, estupefato, recusou-lhe o pedido.

Finalmente, sem nenhuma dificuldade, Anselmo deixou a cadeia em abril de 1966. Nada houve que caracterizasse uma fuga: apenas constataram que o hóspede saíra e não voltara.

O grande jornalista Jânio de Freitas assim comentou tal episódio:

O compreensível ódio da oficialidade desacatada pelos marinheiros, logo na mais classista das forças militares, transmudou-se em represália feroz quando o golpe possibilitou a prisão da marujada rebelde. Masmorras e prisão nas piores condições em navios foram o destino comum dos apanhados.

Não, porém, para o maior incitador da rebelião e das ameaças à oficialidade: Anselmo foi posto em um pequeno e pacato distrito policial na orla da floresta do Alto da Tijuca, sem vigilância especial, e disponível para seus visitantes.

Em poucos dias, não precisou de mais do que sair pela porta para a liberdade. Os visitantes perderam a sua nos dias seguintes.

E foi mais longe Jânio de Freitas, acrescentando uma informação não muito conhecida sobre Anselmo:

Também por aquelas alturas, um cartunista jovem e já famoso foi solicitado a ajudar ‘o caçado’ Anselmo, arranjando-lhe um abrigo por alguns dias. O rapaz deu-lhe a chave de um apartamento. Em troca, recebeu os efeitos habituais da repressão, e mais tarde viveu anos de exílio na Suíça.

Mas, de todas as ignomínias de Anselmo, nada se compara a haver causado a morte da companheira que engravidara (a Soledad Barret Viedma), tendo preferido propiciar o massacre de seis revolucionários do que salvar sua amante e a criança que ela concebia.

[Vale registrar que Anselmo incluiu no livro uma mensagem do irmão de Soledad, na qual este diz “não acreditar” que ela estivesse grávida ao ser entregue para os carrascos da ditadura. Além de isto não ser conclusivo, em nada diminuiria a torpeza de quem tinha um relacionamento íntimo com ela e traiu miseravelmente sua confiança.]

DILMA EM PARAFUSO: ELA AGORA ATRIBUI SUA IMPOPULARIDADE AO MACHISMO DOS BRASILEIROS!!!

Do blogue Náufrago da Utopia.

Está explicado: os 65% de brasileiros que consideram ruim ou péssima a gestão de Dilma Rousseff não chegaram a tal conclusão por causa do estelionato eleitoral de 2014; nem porque ela conduziu o País à pior crise econômica desde a megainflação do Sarney; muito menos por sua relutância em cumprir com os deveres do ofício, preferindo delegar o comando da economia ao neoliberal Joaquim Levy e a coordenação política ao eterno fisiológico Michel Temer.

Nada disso. O problema é, tão somente, o preconceito contra as mulheres, que inexistia nas duas vezes em que Dilma foi eleita, mas passou a existir agora (quando, por mera coincidência, nosso povo começa a sentir, em toda a sua extensão, os efeitos da estagflação)…

Foi a lorota que a Dilma tentou impingir numa entrevista ao Washington Post:

Eu acredito que há um pouco de preconceito sexual. Sou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo, e eu estou [me dizem] cercada por homens muito bonitos.

Se isto é tudo que ela tem para dizer a um dos jornais mais importantes do mundo, deveria ter ficado por aqui, ao invés de sair por aí nos envergonhando. Era só o que faltava: além de termos um governo desastroso, agora nos tornarmos motivo de chacota no exterior…

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Helio Rubens
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