Os deuses eram astronautas?
Quando o escritor suíço Erich von Däniken publicou o livro “Eram os deuses astronautas?”, no ano de 1967, não estava apenas lançando um livro, mas também um novo paradigma na análise dos vestígios deixados pelos seres humanos do passado. Polêmico, o livro traz como hipótese a visitação de seres extraterrenos aos terráqueos de outrora.
O livro fascina pela temática e pela narrativa. Sem dúvida, trata-se de uma obra que a despeito da falta de parâmetros científicos, até certo ponto confessada pelo autor, tem a missão de gerar no leitor a dúvida, germe da própria ciência. O sucesso dessa obra se mede pelo número de edições: de dezembro de 1969 (a primeira edição brasileira) até maio de1975 foram 23 edições. Apenas no ano de 1970 foram 6 edições consecutivas. Em 2005 já se somavam 55 edições pela Melhoramentos. O livro foi publicado, mesmo no Brasil, por outras editoras como a Madras.
“Eram os deuses astronautas?” rendeu a Erich von Däniken fama, fãs e seguidores. Rendeu também adversários que buscavam desacreditar as suas teorias das mais diversas formas. Ainda na década de 1970, o professor brasileiro Carlos Jacchieri escreveu o livro “Os deuses não eram astronautas”, afirmando que os achados arqueológicos comprovavam que os vestígios dos povos antigos foram construídos por terráqueos, sem qualquer intervenção de seres alienígenas. Com o mesmo título, Vito Marino publicou um livro que também discute também a factualidade das teorias de Däniken.
Sobre o livro do professor Carlos Jacchieri, uma sinopse publicada na internet diz o seguinte: “Como professor de História da Cultura, Carlos Jacchieri teve oportunidade de constatar, nestes últimos anos, o profundo interesse das novas gerações e do público em geral por determinadas questões, tratadas literariamente bem, mas cientificamente mal, e geradoras de grandes impactos. Debruçou-se, assim, na análise culturológica de diversas obras qualificadas como de “realismo fantástico”, ou seja, situadas em plano intermediário entre Ciência e Fantasia, Filosofia e Ficção, surgindo, destarte, a sua convicção da necessidade de se dar, àquele mesmo público, a oportunidade para tomar contato com o reverso da medalha. O objetivo do autor é contribuir para que o extraordinário interesse, inegavelmente suscitado por aqueles livros, pudesse ser canalizado corretamente para fontes culturais autênticas”.
A bem da verdade, a sedução pelos temas abordados por Erich von Däniken, nesse e em outros livros como “O ouro dos deuses” e “Viagem à Kiribati” pode ser explicada em parte pelos enigmas que ainda perduram sobre o passado da humanidade. Ainda que as teorias de Däniken careçam de comprovações factuais – por exemplo, a suposição de que seres alienígenas realmente existem – ao menos servem para levantar inúmeros “mistérios” do passado e que, até então, não foram solucionados.
Um exemplo desses mistérios são as inscrições, possivelmente de algum idioma escrito, descobertas pelo frade franciscano Fidélis da Motta, na cidade de Bofete, não muito distante de Porto Feliz. O escritor Agostinho Minicucci, baseado nas descobertas de Fidélis da Motta, escreveu o livro “Os bruxos do Morro maldito e os filhos de Sumé”, um misto de “pesquisas reais, ficção, analogias e alegorias do autor”. As elevações de Bofete, de Torre de Pedra, da “Cuesta” de Botucatu há tempos são objetos de muitas conjecturas sobre a presença de sumérios na América e mesmo de personagens míticos como o Sumé.
Este, pelo que contam as lendas indígenas, aproxima-se de outros personagens similares das lendas e mitos dos indígenas americanos de todas as partes. Sumé é praticamente o mesmo Quetzalcoatl do México, ou Kukulkan da América Central, ou Viracocha do império inca. Trata-se de um homem branco, barbado, que possuía o controle das forças da natureza. Apareceu aos indígenas trazendo-lhes uma mensagem religiosa, mas ensinando também coisas como o cultivo de determinados alimentos. Contam as lendas antigas que vez ou outra Sumé pisava em rochas brutas, deixando o molde de suas pegadas, ao lado de uma cruz, símbolo usado por ele.
Alguns o consideram como o construtor do Caminho do Peabiru, uma estrada que supostamente atravessava o Brasil, a partir do atual litoral paulista, rumo à capital do império inca, a cidade de Cuzco. Um dos maiores pesquisadores do assunto é Luiz Galdino que defende a hipótese de que a palavra Peabiru tenha por significado “Caminho para o Peru”. Galdino escreveu um excelente trabalho sobre o assunto, pesquisa séria e fundamentada, intitulado “Peabiru – os Incas no Brasil”. Outro pesquisador, radicado em Cotia, cidade paulista, chamado João Barcellos, escreveu o livro “Piabiyu – a rota nativa”, também discorrendo sobre esse misterioso caminho.
Outro trabalho de pesquisa de Luiz Galdino, também com o mesmo rigor e seriedade, resultou no livro “A astronomia indígena”, em que comprova que os povos pré-históricos do Brasil construíram monumentos e marcas que assinalam pontos cardeais, posições do nascente e poente, constelações e outros fenômenos astronômicos, servindo para elaboração de calendários. Com qual finalidade?
A verdade é que o que sabemos sobre os povos antigos são insuficientes para responder a essa ou outras perguntas. Pode ser que a resposta não esteja ligada a alienígenas. O que não se pode negar, no entanto, é que a pergunta é legítima. E perguntar é o primeiro passo para o abandono da ignorância.
Carlos Carvalho Cavalheiro
06.08.2019
carlosccavalheiro@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024