O elo
Se te amo, o que seria capaz de nos separar?
Não importa o tipo de amor: de parentes, namorados ou amigos. A questão é: ele existe?
O amor perdura, subsiste ao tempo. Transpõe obstáculos. Podem passar os anos, as décadas, ele permanece. O amor das mães pelos filhos, por exemplo, é assim.
Existem amores que ultrapassam as barreiras até mesmo da própria vida. Minha mãe, por exemplo, ficou viúva bem jovem, com 39 anos, e ama o meu pai, falecido há décadas, até hoje. Ela jamais relacionou-se com qualquer outro homem.
Uma mãe pode ter dez filhos presentes. Mas qual deles é capaz de substituir o ausente ou o que já não está mais nesse plano? Ninguém é capaz. O elo sempre existirá. É indestrutível.
Como explicar uma pessoa casar-se tantas vezes e fracassar? Talvez não seja nem isso, pois de psicologia não compreendo, mas pode ser que exista alguém que ela jamais tenha esquecido, aquele sentimento encruado, aprisionado. E como poderia ser feliz em algum outro relacionamento, se daquele amor jamais se desvencilhou? O elo…Sabe aquela velha frase clichê, “um amor cura-se com um novo amor.”? Será?
O amor rompe a barreira da distância, do isolamento social. O vírus tenta, a todo custo, esfriar aquele amor de outrora. Impedir apertos de mãos, beijos e abraços. O vírus impede encontros, antigos e novos. Ele impede que conheçamos rostos novos, já que, na nossa realidade atual, só vemos cabelos e olhos. Porém, se eu sei quem você é, e se você sabe quem eu sou e se você conhece o meu interior, e eu conheço o seu, não importa que estejamos mascarados. Se nos amamos, nada é capaz de nos separar, e nem de mudar o que existe em nós.
Eu não posso te tocar, mas posso te amar. Como parente, como amigo. Eu posso conversar contigo, até mesmo ver o seu rosto, porque a tecnologia me permite. Posso sentir a tua dor e tomar como minha. Sou capaz de ler sua mensagem, te escrever; ouvir os teus áudios, e te falar. Até através de meios mais rudimentares podemos nos comunicar. Posso te escrever uma carta e você, me responder. Eu sei, eu queria muito te ver. Através das telas. Tocar tua pele, ter certeza de que és de verdade. Mas eu sei que és.
O amor até cego sente, mesmo sem ter jamais enxergado. Mesmo os mudos, sem nunca ter dito “eu te amo” a alguém. Aquele que não se move ama como qualquer um de nós, ainda que não seja capaz de abraçar, beijar, ou tocar alguém.
É bom tocar? É! É bom estar junto? Claro! Mas , como isso é relativo…! Afinal, nem todo aquele que te toca, te ama. Lembra dos tempos da adolescência, onde existia aquele menino assanhado que arrastava “as asas” para o seu lado. Pois é…mas era aquele menino quietinho que sentava no fundo da sala que te amava.
Amor é algo transcendental. Algo que se sente. E de alguma maneira, apesar do tempo, ou mesmo estando longe, se amamos, estamos perto. Os anos se passaram, eu envelheci, mas para a minha mãe continuo a mesma criança querendo colo. E eu preciso. Ainda que seja um colo distanciado.
E se te amo, mesmo não te vendo, não te ouvindo, não te lendo, nem mesmo através da tecnologia, mesmo esgotando-se qualquer possibilidade de contato, te trago no pensamento.
Nunca esteve tão na moda o amor a distância.
Claudia Lundgren
tiaclaudia5@gmail.com
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Claudia Lundgren, natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.