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No Quadro de Colunistas do ROL, a Caneta de Ouro de Rafael Mendes!

Rafael Mendes

Empresário, produtor cultural, estudioso da Filosofia e do Direito, escritor, poeta e amante da linguagem, Rafael Mendes abrilhanta ainda mais o Quadro do ROL! 

Rafael Mendes, natural do Rio de Janeiro/RJ, é empresário, produtor cultural, estudioso da Filosofia e do Direito, escritor, poeta e amante da linguagem e, em particular, das línguas portuguesa e latina nas quais empreende estudos autodidatas.

Com o compromisso pessoal com a busca da Verdade e difusão da cultura, é autor de três livros: ‘Aspectos da transcendência a partir de uma análise despretensiosa’, ‘Reflexões sobre espiritualidade concreta’ e ‘Autores Clássicos e suas obras’, além de ter escrito inúmeros artigos focados no estudo da Filosofia, da Espiritualidade e da Cultura Clássica.

Desde 2020 mantém um website (rafaelmendes.org) e um canal do Youtube (Rafael Mendes).

É sócio do Real Gabinete Português de Leitura e Acadêmico Nacional de Grande Honra da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes – FEBACLA, ocupando a cadeira de número 92, tendo como patrono: Pontes de Miranda. E recebeu dessa Augusta Federação o título honorífico de Comendador Guanabara, a Comenda Sete Maravilhas do Mundo Moderno, a Medalha Anita Garibaldi, o título de Honorável Mestre da Literatura Brasileira e o Diploma Caneta de Ouro – 2020.

Este é mais um culto e brilhante colaborador que ora o ROL apresenta a seus leitores e que, com seus textos escorreitos e revisados, certamente valorizará ainda mais o nosso jornal e ainda homenageará a língua portuguesa!

Abaixo, sua primeira contribuição, com o artigo ‘Classes Gramaticais’,

CLASSES GRAMATICAIS

Dos mecanismos que o ensino formal provê ao indivíduo, um deles é o conhecimento através do qual se podem classificar as palavras da língua a partir da forma que apresentam e, consequentemente, das funções que estas exercem na construção da cadeia da fala. A possibilidade de dividir metalinguisticamente as palavras em classes gramaticais pode parecer descontextualizada no ensino formal, mas é uma prática dos estudos linguísticos que remonta à Antiguidade Clássica, quando os questionamentos a respeito da língua e seu caráter estranhamente estrutural, regular e ainda assim expressivo dos pensamentos mais subjetivos começaram a aparecer. Foi a partir das gramáticas gregas que surgiu a ideia normativa de gramática, que consiste nos estudos e análises da língua em sua versão culta e polida, dita “canônica”, muito semelhante com o que se aprende nas aulas de língua portuguesa em nossas escolas até os dias de hoje.

Platão e Aristóteles, para além de suas contribuições filosóficas, foram os precursores do que se entende atualmente por classes gramaticais (os famosos verbos, advérbios, substantivos, adjetivos, entre outros). Segundo a apresentação de Elisa Figueira de Sousa Corrêa (2010), foi Aristóteles que fez as primeiras “divisões das partes do discurso”, ou seja, as primeiras separações das palavras em substantivos e verbos, desenvolvidas a partir das “divisões dos enunciados” em sujeito e predicado empreendidas por Platão. Como as classes gramaticais dizem respeito à morfologia das palavras, enquanto as denominações “sujeito” e “predicado” estão mais relacionadas com a sintaxe, pode inferir-se que, ao propor as divisões das partes do discurso, Aristóteles já partia da ideia de que as áreas que viriam a ser chamadas de morfologia e sintaxe se tocam constantemente nas línguas humanas. A autora também mostra que, na confecção da primeira gramática pelos alexandrinos, Dionísio, o Trácio, também seguiu a mesma linha de raciocínio para definir as classes gramaticais – de cunho morfológico – a partir de funções sintáticas: “(…) trocou o nome do advérbio para epirrhema, i.e., o definiu em função do rhema (verbo)” (SOUSA CORRÊA, 2010). A gramática alexandrina e o molde grego de estudo normativo da língua ainda se refletem nas classificações e no ensino escolar.

Estas são as classes gramaticais geralmente referenciadas, tanto nos estudos em linguística quanto nas aulas de língua portuguesa: substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Para além de seu ensino formal, é interessante observar sua aplicação e – por que não? – suas limitações como método de classificação padrão em línguas cujo modo de formação de palavras difere daquele das línguas de base grega e latina. Tomemos como exemplo a língua indígena brasileira laklãnõ, falada pelo povo xokleng.

​O laklãnõ se comporta de maneira muito diferente do português, o que implica que a classificação e a formação de suas palavras passe por processos diferentes. Conforme aponta GAKRAN (2015, p. 75), ao falar de uma subclasse dos substantivos da língua, “há nomes que se combinam com um determinante, seja este nome ou pronome, mas há nomes que só combinam com outros nomes, restringindo a sua combinação com pronomes (…)”. Por “nomes”, o autor quer dizer “substantivos”. As palavras às quais o autor se refere, quando combinadas com pronomes pessoais, dão origem a uma forma possessiva, como nos exemplos que seguem:

(1) ẽhn (eu) kónã (olho) = meus olhos
(2) ãg (nós) kónã (olho) = nossos olhos

​Esse tipo de combinação não acontece em línguas como o português. Este dispõe da classe gramatical dos pronomes possessivos, que engloba palavras como meu, minha, nosso, nossa etc., que são diferentes dos pronomes pessoais, que encerram palavras como eu e nós. Nota-se claramente que o português e o laklãnõ são línguas cujos sistemas linguísticos diferem entre si, de modo que esta última acaba por ser uma das várias línguas que “questionam” a divisão das classes gramaticais herdada dos gregos e ensinada nas escolas.

Michèle Kail, em seu livro sobre a aquisição de linguagem, apresenta perspectivas segundo as quais essas diferentes organizações morfológicas das línguas podem ter influência no modo como as crianças entenderão as classes de palavras e como estas se combinam na formação das frases. A autora, ao tratar brevemente da morfologia das palavras e sua aquisição pelas crianças em diferentes línguas, menciona como o sueco se comporta a partir do seguinte exemplo: “(…) o artigo indefinido ‘en’ é livre e anteposto ao substantivo, ao passo que o artigo definido é realizado pelo sufixo ‘en’ no fim do substantivo no caso dos substantivos comuns (…)” (KAIL, 2013, p. 50). Os dados que Kail apresenta são os seguintes:

​(1) uma tigela = en kopp
(2) a tigela = koppen

​O que esses dados do sueco nos sugerem sobre a divisão em classes gramaticais? Que, nessa língua, uma mesma partícula pode se encaixar tanto na classe dos artigos definidos quanto na dos artigos indefinidos, e o que a tornará uma ou outra é a posição que ela ocupa em relação ao substantivo que acompanha. Em contrapartida, sabemos que, na língua portuguesa, um, uma, uns e umas pertencem à classe gramatical dos artigos indefinidos, enquanto o, a, os e as, à dos artigos definidos, todos ocupando a posição que antecede o substantivo. No sueco, o que estabelece um mesmo artigo como definido ou indefinido é justamente isto: onde ele se coloca.

Outra questão que se pode levantar diante de línguas dessa natureza diz respeito à ideia e ao conceito de palavra. Ora, na língua sueca, en figura, por vezes, como uma palavra da classe dos artigos indefinidos, enquanto em outras aparece como um sufixo, perfeitamente unido ao substantivo para formar “uma coisa só” e expressar o que, no português, seria um artigo definido. Os exemplos aqui apresentados servem de ilustração para as limitações que as classes gramaticais propostas pelos antigos, cujo mérito não questionamos, podem apresentar quando aplicadas a línguas menos conhecidas.

 

BIBLIOGRAFIA

​1. CORRÊA, E. Socrates currit bene: um breve passeio pela história da gramática. SOLETRAS, Ano X, Nº 19, jan./jun. 2010. São Gonçalo: UERJ, 2010.
2. GAKRAN, N. Elementos fundamentais da gramática laklãnõ. Instituto de Letras da Universidade de Brasília. Brasília: Universidade de Brasília, 2015.
3. GONÇALVES, C. Linguística para o ensino superior: Morfologia. 1 ed. São Paulo: Editora Parábola, 2019.
4. KAIL, M. Aquisição de Linguagem. Trad.: Marcos Marcionilo. 1ª ed. São Paulo: Editora Parábola, 2013.

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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