História pitoresca
Eduardo era um sargento que se tornara muito popular entre os sargentos, estudava e lia muito, e, por causa disso, quase sempre estava sendo consultado por algum sargento ou até oficial sobre questões de Matemática.
Acontece que ele fizera um curso no exército de eletrônica, e durante o curso todos falavam que no Instituto Militar de Engenharia só havia gênios, e que todos lá eram pessoas dotadas de QI além do normal.
E, por coincidência, coube ao Eduardo, no final do referido curso, ser classificado logo no ‘IME – Instituto Militar de Engenharia’.
Acontece que Eduardo levava a vida militar muito a sério, e ficou preocupadíssimo em ter que servir entre os gênios, porque ele, a despeito de ser muito inteligente, se considerava uma pessoa normal, e servir em um local que era habitado somente por gênios estava tirando o seu sono.
Entretanto, junto com ele foram classificados, no mesmo local, mais dois sargentos que ele conhecia; todavia, não havia muita aproximação entre eles porque os cursos eram diferentes e também porque não havia relação de amizade entre eles, e assim que terminavam as aulas, cada um dos três tomava destinos diferentes.
E eis que o nosso herói pegou o ofício e foi fazer sua apresentação dez dias antes dos outros sargentos, que estavam na última semana do curso que faziam. Quando Eduardo se aproximou do local e viu aquele imponente edifício de 9 andares, começou a se lembrar do que as pessoas sempre diziam a respeito do IME e, quanto mais ele se aproximava, mais ele ia ficando nervoso; quando deu o primeiro passo na rampa de subida que leva à porta principal, ele parou e pensou: “O que estou fazendo aqui? Este local é para gênios e eu não sou isso”. Todavia, ele não podia voltar, porque toda uma vida atrás dele dependia especificamente do fruto de seu trabalho e ele, por ser nordestino, não iria agora voltar atrás.
Então, Eduardo disse bem alto para si mesmo: “Treme carcaça velha! Tremerias muito mais se soubesse para onde estou te levando!”
E imediatamente subiu a rampa, cheio de esperança na nova vida que se iniciava.
Dez dias depois chegaram os outros dois sargentos; então, na oportunidade, o comandante fez uma formatura para apresentar os mais novos componentes do IME e, após ele ter dado as boas-vindas, o comandante passou a palavra para um dos sargentos; então, Eduardo, por ser o mais antigo, tinha que dizer algumas palavras, e a tropa ficou na expectativa do que ele iria falar naquela oportunidade, e quando a pessoa é pega de surpresa, quase nada fala. Eduardo pegou o microfone e começou:
– Exmo. Sr. General Belizário, Ilmo. Sr. Sub Cmt Coronel Valdir, Ilmo. Srs. Oficiais Superiores, Ilmo. Srs. Oficiais, caríssimos sargentos, cabos e grandiosos soldados desse nosso Brasil. É para mim uma enorme fonte de satisfação e prazer vir conviver e trabalhar com pessoas de maravilhosas inteligências! – Nesse momento, as pessoas começaram a olhar para ver a quem ele se referia.
E Eduardo continuou:
– Quando aqui adentrei pela primeira vez, percebi de imediato que encontraria aqui a oportunidade de me aprimorar na vida profissional e intelectual, face ter que trabalhar com pessoas cuja grandiosidade de suas mentes é orgulho para o Brasil! – E novamente as pessoas se olharam.
– Fiquei de imediato absorto e contemplativo, e para não dizer, com um imenso medo de ter que ultrapassar aquela porta – E dizendo estas palavras, apontou para a porta. – Todavia, lembrei-me de um pensamento chinês que diz : “Treme carcaça velha! Tremerias muito mais se soubesse para onde estou te levando!”.
Aí todos sorriram e ele, em seguida, desejou boa sorte a todos e deu por encerrado seu discurso.
A partir de então ficou conhecido como carcaça velha.
Francisco Evandro (Farick)
jjkk47@hotmail.com
- Versões diferentes: Quem estará com a razão? - 1 de julho de 2024
- A palavra da era da imagem - 17 de junho de 2024
- Homenagem às mulheres - 10 de junho de 2024
Natural do Rio de Janeiro (RJ), é escritor e poeta, se apresentando sob o pseudônimo Farick; membro de várias academias nacionais e três internacionais e membro fundador da Academia Luminescente de Letra de Paris-França; vencedor de diversos certames literário nacionais e internacionais e foi agraciado com diversas comendas nacionais e internacionais. É autor de 24 livros, dentre os quais: Momentos Poéticos (2001), Reflexões do Amanhã (2002); A Voz do Coração (2004); O Galo de Bombaim (2008); O Pavão Ioe Queria Ser rei (infantojuvenil) e O ganso era verde (infantil), ambos de 2020. E tem mais 34 títulos para publicações vindouras. Em 2016 recebeu o Prêmio Destaque Brasil, em Taubaté. E no mesmo ano, a Medalha Luiz Vaz de Camões, pela Editora Mágico de Oz, por ter sido considerado um dos melhores escritores da língua portuguesa de 2015. Em 2017 foi agraciado pela OMDDH com vários títulos, dentre os quais: Embaixador da Paz, Prêmio Machado de Assis, Doutor Honoris Causa em Direitos Humanos e a Medalha Ruy Barbosa. No mesmo ano, recebeu a Comenda Pablo Neruda, em Santiago do Chile, por ser destaque na cultura nacional literária. Em 2020 recebeu troféu da Editora Mágico de Oz por ter sido considerado um dos 100 melhor poetas e contistas de 2019.