Amor animal
Eu não tinha bonecas. Meus brinquedos preferidos eram sempre bichinhos de pelúcia. Tinha um cachorrinho pequinês igual ao verdadeiro que eu amarrava uma cordinha de varal e saía puxando. Do lado de minha cama era um verdadeiro zoológico. Eu tinha urso, coelho, girafa, elefante, macaco… bichinhos com os quais eu conversava e inventava brincadeiras.
Todos os meus amigos tinham um animalzinho de estimação. Uns tinham cachorro, outros tinham um gato, outros tinham peixinho, outros tartaruga e tinha um garoto na minha rua que tinha um lagarto! As pessoas achavam estranho, mas eu achava o máximo! Fiquei encantada quando ele certo dia levou o bicho verde na porta do colégio. Foi um alvoroço de alunos se aglomerando pra ver. Depois, vi uma menina na sala que tinha um rato branco. A maioria das meninas morriam de medo de ratos e eu, também tinha, mas a vontade de ter um ratinho branco era maior e minha mãe só de pensar apavorava-se com a ideia e também porque tinha nojo.
Resolvi pedir um cachorro para os meus pais. Minha mãe protestou e, resultado: não aceitaram!
Chorei litros e me senti a criança mais azarada do mundo. Eu não entendia porquê as outras crianças que eu conhecia tinham um bichinho, mas menos eu! Até os personagens das histórias em quadrinho que eu lia tinham um animalzinho de estimação: o Cebolinha tinha o cachorro Floquinho, a Magali tinha o gatinho Mingau, o Franjinha tinha o famoso Bidú, o Mickey tinha o Pluto e ( apesar de até hoje eu não entender como um rato tinha um cachorro de estimação ) o Charlie Brown tinha o Snoopy…
Resolvi então criar uma joaninha que capturei enquanto brincava no terreno ao lado de minha casa. Coloquei-a num pote com tampa transparente, fiz pequenos furos para que ela pudesse respirar, algumas folhas que trocava sempre que secavam e água numa tampinha de garrafa. Pronto, eu tinha o meu bichinho de estimação!
Às vezes dava a impressão de que o pequeno besouro estava se acostumando comigo, pois eu o soltava quase todos os dias dentro de casa e o inseto voava pela sala e voltava muitas vezes sozinho para dentro do pote. Eu achava incrível e amava aquele bichinho cor de abóbora com pintinhas pretas.
Porém, depois de mais ou menos um mês a joaninha morreu e fiquei bastante entristecida. Perguntava pra Deus se era justo a minha joaninha ter morrido e ficava buscando respostas imaginando se, de repente, lhe faltou o ar ou os furos na tampa não haviam sido suficientes, ou se ela não estava bebendo água. As folhinhas colocadas dentro do pote estavam sempre picotadas e isso era sinal de que ela se alimentava bem. Jamais passara na minha cabeça de criança que ela pudesse ter morrido simplesmente porquê acabara seu ciclo de inseto. Apenas me restava a tristeza e um jeito de desfazer do seu corpinho redondo e empalhado.
Antes de atirá-la no meio do mato do terreno de casa, olhei uma ou duas vezes na esperança de que, de repente, ela se move-se mas, era inútil. Sua pequena carcaça seca e as perninhas encolhidas pra dentro dava a impressão de que era somente uma simples casquinha. Lembro que foi um domingo bastante triste para mim, pois eu ainda não era uma pessoa resolvida nesse assunto de morte. Tinha pouco mais de dez anos de idade.
Passado um tempo capturei um vagalume e tentei fazer a mesma coisa que havia feito com a joaninha. Coloquei o inseto num pote com tampa transparente e fiz alguns furos. Mas não deu certo, um belo dia fui pra escola e esqueci o pote meio aberto debaixo da cama. Minha mãe foi arrumar meu quarto e levou o maior susto da vida dela! O inseto piscante voando descontrolado batendo nas paredes do quarto e ela não pensou duas vezes e jogou fora o pote, deixando a porta aberta para o bicho sair. Ao chegar em casa, ainda levei um grande sermão. Minha mãe questionando o tempo inteiro sobre aquela minha loucura de capturar insetos e perguntando quando aquilo iria acabar.
Andreia Caires
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024