Carlos Carvalho Cavalheiro:
‘Mapa da Violência no Brasil’
Dados alarmantes sobre mortes violentas no Brasil foram divulgadas nesta semana. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública que divulgaram na segunda-feira, dia 5, que no Brasil ocorreram mais de 59 mil mortes por assassinato no Brasil. Comparativamente, a ocorrência de homicídios no Brasil contabiliza um número de vítimas maior do que a soma de todas as que ocorreram em todos os ataques terrorista deste ano.
De acordo com o site “Último Segundo”, em publicação on line na segunda-feira, “A crescente onda de atentados terroristas ao redor do mundo já matou um total de 3.314 pessoas em 2017, segundo levantamento realizado pelas empresas Esri Story Maps e PeaceTech Lab. O trágico saldo de 498 ataques ocorridos neste ano, no entanto, não consegue superar o número de mortes violentas registradas no Brasil em apenas três semanas. Por aqui, cerca de 3,4 mil pessoas foram assassinadas a cada 21 dias em 2015, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (Fonte: Último Segundo – iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2017-06-05/mortes.html)
O que chama a atenção na divulgação desses números é que nos últimos anos a violência tem crescido de forma absurda neste país. Estima-se que 10% dos homicídios no mundo são de vítimas no Brasil. Esse número não somente é preocupante, quanto também escancara uma política que não tem dado resultado em termos de segurança pública.
Em 2005 foi realizado um referendo popular acerca da proibição da comercialização de armas no Brasil. Sob o argumento de que as pessoas tinham direito a se armar como forma de defesa diante do crescimento da violência, o resultado da votação teve 63,94% de pessoas a favor da comercialização de armas contra 36,06% contra. Ao contrário do que dizia o “lobby” das empresas de armas, representados pelos políticos da chamada “bancada da bala”, a livre comercialização de armas não somente seria desastrosa como também não resolveria o problema do aumento de homicídios. Ao contrário, a tendência seria aumentar.
Primeiro, porque se todos estão armados, a tendência é que a violência aumente, uma vez que as contendas tenderiam a se resolver na troca de tiros. Um retorno ao “faroeste”, mas sem xerife. Segundo, deve-se levar em consideração que os bandidos, suspeitando da possibilidade de as vítimas estarem armadas, seriam mais violentos em suas ações. Por último, o policial em trabalho de abordagens suspeitaria sempre de que o averiguado pudesse portar uma arma. Se não tiver o treinamento necessário é bem possível que esse mesmo policial cometesse equívocos durante as abordagens, atirando antes como forma de se auto-proteger de uma possível agressão por arma de fogo.
Atribui-se a Mahatma Gandhi uma frase que diz mais ou menos assim: “Se continuarmos a viver pelo “olho por olho”, terminaremos todos cegos”. Armando todo e qualquer cidadão, as possibilidades de violência serão ampliadas e o problema não será resolvido. Ademais, ao tirar o monopólio estatal da violência legítima, transferindo-o ao cidadão comum, o que ocorrerá é uma lesão ao já fragilizado Estado Democrático de Direito. Não é à toa que propostas de armamento da população civil partem, em geral, de políticos favoráveis a Estados centralizadores e autoritários, um eufemismo aqui para ditadura.
Um pretenso candidato a presidente da República para as eleições de 2018 (se é que existirá Brasil até lá) apresenta como “programa” de seu governo justamente o armamento de “pessoas do bem” (quem serão?), o fechamento do Congresso Nacional e a instituição de uma Guerra Civil com a intenção de eliminar 30 mil pessoas das que “o governo militar não foi capaz de matar”.
O resultado das pesquisas sobre o mapa da violência no Brasil demonstra não somente que esse político está absurdamente equivocado, como também gigantescamente desatualizado. A Guerra Civil que ele pretende já existe e mata muito mais do que 30 mil pessoas. O mapa da violência demonstra que morreram no Brasil de forma violenta mais de 59 mil brasileiros. A maioria desses homicídios foi perpetrada contra pessoas pobres e negras. Como dizia Caetano Veloso em “Haiti”: “E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos”.
E essa triste realidade brasileira só pode ser transformada por meio da educação, da mudança de consciência e da criação de uma nova cultura que trate o outro como um igual (porque simplesmente é). Não precisamos de mais violência. Afinal, disso já estamos tão cheios que nos envergonhamos diante do resto do mundo.
Carlos Carvalho Cavalheiro
06.06.2017
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024