Fiquei estarrecido ao ler, neste belíssimo post do Menon, a notícia da demissão do decano dos comentaristas esportivos em atividade no Brasil, Claudio Carsughi.
Italiano de Arezzo, Carsughi tem 82 anos, radicou-se no Brasil em 1946 e quatro anos depois já estava cobrindo o Mundial da Fifa para o Corrière dello Sport. Segundo ele próprio, só na Jovem Pan trabalhou quase 60 anos.
Ele atribui sua saída à direitização da JP:
“A rádio está passando por uma mudança de perfil. Ela assumiu uma postura de direita, que nunca tinha tido. Sempre se ouvia os dois lados. Hoje tem uma posição frontalmente contrária ao PT, à Dilma, ao Lula. Talvez com isso espere o retorno publicitário com empresas do mesmo perfil“.
Faz sentido, se levarmos em conta, p. ex., o artigo que reproduzi aqui, de enorme dignidade, que me levou a prestar um merecido tributo ao velho mestre.
Carsughi e o falecido Aluani Neto entrevistando Fittipaldi |
Meu recado a ele é: não ligue para a pequenez desses mimadinhos que passam a vida inteira tentando provar-se merecedores do que meramente herdaram e quase sempre fazem encolher de ano a ano, até as empresas falirem ou tornarem-se nanicas. Eles têm inveja dos titãs porque dinheiro nenhum do mundo os colocará no nível dos verdadeiramente grandes.
Do clã, Paulo Machado de Carvalho é o único que deixou sua marca na história do esporte e do jornalismo. O filho é aquele que pode ter destruído um vídeo do Geraldo Vandré por mera pirraça (hipótese que levantei aqui). E o neto foi quem conseguiu ofender todos os jornalistas dignos deste nome com uma atitude de estultice e ingratidão inqualificáveis.
Tomara que a antipatia que ele está granjeando seja a pá de cal para uma emissora que há muito perdeu a identidade e o rumo.
Vandré se destaca também, à época, pela extraordinária trilha musical do filme A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, na qual pontificam “Réquiem para Matraga”, “Modinha” (“Rosa, Hortência e Margarida”) e a vigorosa “Cantiga Brava”.
E confirma a boa fase com “Disparada”, dele e Théo de Barros, uma das vencedoras do 2º Festival da Música Popular Brasileira que a TV Record promoveu em setembro/outubro de 1966.
Épico sertanejo, “Disparada” coroa as pesquisas de Vandré no sentido de definir um idioma musical comum ao Centro-Nordeste e às pessoas egressas dessas regiões que se estabeleceram no chamado Sul Maravilha, mas ainda traziam as marcas do êxodo rural.
É a saga do peão que, após longo tempo cumprindo tarefas subalternas (“na boiada já fui boi”), ascende a boiadeiro, “por necessidade do dono de uma boiada/ cujo vaqueiro morreu”.
Contar com uma montaria é uma verdadeira realização para aquele homem simples (“mas, o mundo foi rodando/ nas patas do meu cavalo”), até que, de repente, ele acorda de sua euforia e se descobre “valente lugar-tenente/ de dono de gado e gente”.
E recusa a condição de braço-direito do latifundiário, “porque gado a gente marca,/ tange, ferra, engorda e mata,/ mas, com gente é diferente”.
A interpretação foi de Jair Rodrigues, que abria um largo sorriso no trecho mais dramático da música.
Chamou a atenção o uso da queixada-de-burro, na verdade mais uma atração exótica do que qualquer outra coisa.
“Disparada” dividiu o primeiro lugar com “A Banda”, de Chico Buarque, cantada pelo autor e Nara Leão. O público praticamente se dividiu meio na torcida por essas canções, atribuindo aos adversários, com muito humor, a alcunha de bandidos e disparatados…
Carioca radicado em São Pulo, Chico em pouco tempo saltou da boêmia universitária para a consagração nacional, apontado como um novo Noel Rosa.
As letras de precoce desencanto faziam a delícia das mocinhas românticas, como também sua timidez e os paparicadíssimos olhos verdes. Suas composições mais características eram do tipo “Meu Refrão”, “Olê Olá” e “A Banda”, com lirismo, tristeza, nostalgia e rimas certinhas. PARA LER O RESTANTE DESTE TEXTO E ASSISTIR A 4 VÍDEOS RELATIVOS AOS GRANDES FESTIVAIS DE MPB, CLIQUE AQUI. A SÉRIE DE 5 ARTIGOS CONTINUA NO PRÓXIMO DIA 22.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.