“Raulzito ainda não era o notório Maluco Beleza, o pai do rock brasileiro, o nosso Raul Seixas. Mas foi justamente a condição de produtor musical que propiciou a oportunidade de ele e seus parceiros poderem gravar o tão sonhado e ansiado álbum conceitual, tendo a banda assumido o nome de ‘Sociedade da Grã-Ordem Kavernista’”.
Lá pelos idos de 1971, quatro músicos acharam por bem reunirem forças no sentido de gravarem um disco. Pretenciosos que eram, queriam gravar um álbum conceitual, nos moldes de álbuns como Freak Out! (1966) do Frank Zappa & The Mothers of Invention; Tommy (1969), a ópera-rock do The Who; o album divisor de águas do Pop/Rock: Sgt. Peppers Lonely Heart Club Band de um grupinho chamado The Beatles e, também, do genérico nacional Tropicália (1968), de Caetano e Gil, mais a troupe tropicalista composta por: Mutantes, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, os poetas Capinan e Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat.
Pois é, esses visionários que queriam, porque queriam lançar, já no primeiro disco, uma ópera-rock, formavam uma banda que era constituída por: Sérgio Sampaio, cantor e compositor, nascido em 13 de abril de 1947, em Cachoeiro de Itapemirim/ES, que era primo do compositor Raul Sampaio, autor de sucessos, na voz de outro famoso conterrâneo, Roberto Carlos.
Outro era Edivaldo Souza, mais conhecido como Edy, nascido em Salvador/BA, em 10 de janeiro de 1938, cantor e artista performático que, após esse disco, passou a adotar o nome de Edy Star.
Também fazia parte, a cantora de samba, Miriam Ângela Lavechia, nascida em São Paulo/SP, em 1º de janeiro de 1947, seu nome artístico era Miriam Batucada. Ela ficava batucando um pandeiro imaginário com as mãos. O quarto componente era um produtor musical, da Gravadora CBS, um tal de Raul Santos Seixas, que nasceu em 28 de junho de1945, em Salvador/BA, cantor, compositor e um dos pioneiros do rock brasileiro.
Em 1968, Raul com o seu conjunto Os Panteras, vieram ao Rio de janeiro, para gravar o seu primeiro disco, ‘Raulzito e Os Panteras’, na EMI-Odeon. Infelizmente, o disco não vendeu e Raulzito e os seus Panteras acabaram passando por sérias necessidades e, até mesmo, fome, no Rio de Janeiro. Com isso voltaram para Salvador.
Mas, Raulzito teve uma segunda chance, seu amigo Jerry Adriani, convenceu o então Diretor-Presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar a ele o emprego de produtor musical.
Raulzito ainda não era o notório Maluco Beleza, o pai do rock brasileiro, o nosso Raul Seixas. Mas foi justamente a condição de produtor musical que propiciou a oportunidade de ele e seus parceiros poderem gravar o tão sonhado e ansiado álbum conceitual, tendo a banda assumido o nome de “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”.
Muitas lendas cercam esse disco, cujo projeto inicial era o de uma ópera-rock. A principal delas reza que Raul, sendo o produtor musical da gravadora, teria aproveitado a ausência do Diretor-Presidente, que estava em férias, usando de todos os equipamentos, aparatos e recursos do estúdio, para gravar o tão almejado disco. Eles teriam gravado à noite, e ninguém da CBS ficara sabendo disso.
Quando o Diretor-Presidente voltou, suspendeu o projeto, e Raul foi demitido do cargo. Então, o disco que era composto de onze faixas, intercaladas por vinhetas, mas cujas letras já haviam sido mutiladas pela censura do Regime Militar e, ficando também sem o apoio da gravadora para a divulgação do trabalho junto às rádios e programas musicais, redundou em um enorme fracasso, não obtendo sucesso de público e, muito menos, de crítica.
Em face disso, o disco, que tinha o pomposo nome de SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA APRESENTA “SESSÃO DAS 10” foi abandonado à própria sorte pelos executivos da matriz, nos Estados Unidos, que não haviam gostado do resultado final.
O projeto foi levado a cabo, em conjunto, pelos quatro kavernistas. Cada um cantou, sozinho, duas canções; Raul e Sérgio cantaram, juntos, outras três. Raul tocou praticamente todos os instrumentos. As composições são todas de Raul e Sérgio, exceto “Soul Tabaroa” de Antônio Carlos e Jocafi e “Chorinho Inconsequente”, parceria de Sérgio Sampaio com Edy Star.
Os kavernistas utilizaram vários estilos em suas composições, desde uma seresta (Sessão das Dez), cantada por Edy Star; um chorinho (Chorinho Inconsequente) interpretado por Miriam Batucada e, até mesmo, um samba, composto e gravado por Raul Seixas, “Aos Trancos e Barrancos”, o único samba composto em toda a sua carreira.
Miriam Batucada não foi a primeira opção de voz feminina no grupo. A prioridade era de Diana, esposa de Odair José, mas como ela já era contratada da CBS, e estava gravando ‘jovem guarda’, foi descartada. Pensou-se, então, em Lena Rios que estava iniciando na gravadora, por indicação de Torquato Neto. Nesse interim, apareceu nos estúdios, Miriam Batucada que, com sua voz rouca e um incrível bom humor, conquistou a todos ganhando a vaga.
Depois de muito tempo condenado ao ostracismo, por ter ficado fora de catálogo, esse disco acabou assumindo o status de Cult. Somente em 1995 voltou às lojas, no formato de CD, primeiro, numa edição limitada da Rock Company e, depois, pela Sony (2000 e 2010). A edição de 2000 foi muito criticada por não trazer as letras, nem a ficha técnica e fotos. Já, a de 2010 veio completa, inclusive com o som remasterizado.
As edições de 1995 e de 2000 são difíceis de ser encontradas. Os LPs originais (vinil), então, nem se fala, são itens de colecionador, chegando a valer pequenas fortunas.
Gonçalves Viana – viana.gaparecido@gmail.com
SESSÃO DAS DEZ
EU COMPREI UMA TELEVISÃO À PRESTAÇÃO,
À PRESTAÇÃO Vinheta
EU COMPREI UMA TELEVISÃO, QUE DISTRAÇÃO,
QUE DISTRAÇÃO, QUE DISTRAÇÃO.
“A nossa homenagem aos boêmios da velha guarda.”
Ao chegar do interior,
Inocente, puro e besta,
Fui morar em Ipanema.
Ver teatro e ver cinema
Era minha distração.
Foi numa sessão das dez
Que você me apareceu,
Me ofereceu pipoca.
Eu aceitei e logo em troca
Eu contigo me casei.
Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos
E depois de tal engano
Foi você quem me deixou.
Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos
E foi tamanho desengano
Que o cinema incendiou
Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos
E depois de tal engano
Foi você quem me deixou.
“Foi demais, rapaz, aliás esta seresta está demais”
(RAUL SEIXAS)
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024