outubro 05, 2024
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Baile de Máscaras e homenagem aos professores marcam o final do 1º Concurso Literário de Crônicas ASPAMS 2018

O Baile de Máscaras coroou o 1º Concurso Literário de Crônicas ASPAMS 2018, com homenagem aos professores e divulgação das crônicas vencedoras

A ASPAMS – Associação dos Professores da Rede Municipal de Sorocaba prestou uma homenagem especial ao Dia do Professor, promovendo o 1º Concurso Literário de Crônicas ASPAMS 2018.

O concurso foi uma iniciativa que visou proporcionar aos associados a oportunidade de dar uma voz autoral à suas experiências reais e manifestar fisicamente seu imaginário. Com tema livre, o concurso de crônicas pretendeu dar luz a fatos do cotidiano pela ótica dos docentes da Rede Municipal de Sorocaba, associados da ASPAMS.

A Comissão Julgadora foi composta pelos seguintes membros: Cíntia Croco (psicanalista e hipnoterapeuta), Aparecido Gonçalves Viana (poeta e presidente do Grupo Coesão Poética de Sorocaba) e Sergio Diniz da Costa (escritor, poeta, membro da Academia Sorocabana de Letras e editor do jornal cultural ROL.

Coroando o concurso, a Associação realizou um Baile de Máscaras, no qual foram divulgadas as crônicas vencedoras.

O Cerimonial de Premiação foi conduzido pelo diretor da ASPAMS Adriano dos Santos Ribeiro e pela jurada Cíntia Croco, os quais destacaram que, com 07 anos de fundação, a ASPAMS pode se orgulhar de proporcionar aos seus associados um atendimento diferenciado, seja com a atuação da diretoria junto ao poder público, o apoio oferecido pelo pessoal administrativo que está sempre à disposição na sede da ASPAMS, bem como pela assessoria jurídica oferecida a todos os associados, além de oferecer convênios, através de parcerias e serviços de terceiros, de profissionais da área de educação e saúde mental, como psicoterapia, psicopedagogia, dentre outros, e, sobretudo, a valorização profissional daqueles que, segundo a entidade, ‘ousam ser professores’!

Como síntese da filosofia de trabalho e o objetivo da Associação, lembraram o pensamento do educador Paulo Freire: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.

Destacaram, ainda, que “a vida não é feita para construir, mas para semear. Na ampla dança de roda, do início ao fim, passa-se e espalha-se a semente. Talvez nunca a vejamos nascer porque, quando despontar, já não existiremos. O que importa é deixarmos para as futuras gerações, coisas boas e positivas, capazes de germinar, crescer e dar frutos. Esse é o legado de um professor. Esse será o legado da ASPAMS”.

Quanto ao concurso de crônicas, enfatizaram que “a criação literária é enriquecedora para a vida de todos. Sejam autores ou leitores. Ela potencializa as habilidades de observação, imaginação, criação de imagens, trabalho rítmico e sonoro com a linguagem. E quem possui essas habilidades mais bem desenvolvidas do que o professor ou professora no exercício de sua profissão? O 1º CONCURSO LITERÁRIO DE CRÔNICAS ASPAMS é uma iniciativa que visa proporcionar a seus associados e associadas a oportunidade de dar uma voz autoral à suas experiências reais e manifestar fisicamente seu imaginário”.

A vice-presidente da ASPAMS, Érica Monteiro Nunes Bastida, representando a Associação, agradeceu o trabalho de seus pares da Diretoria, a presença do todos que prestigiaram o Baile de Máscaras, os componentes da Comissão Julgadora, as empresas que apoiaram o concurso e as professoras que concorreram, destacando a importância dessa participação.

Participantes do concurso

Vanessa Aparecida Marconato Negrão – Milene Cristine Martinez Batista – Ana Paula Libório Arruda – Cacilda Maria Moro de Mattos – Carla Karoline Moraes Oliveira Momber – Zenilda Oliveira Sousa – Andreia Cristina de Souza – Jaqueline Martins Barbero – Lucimara Aparecida Feliciano da Rocha – Francine Cristina da Silva – Rosângela de Vendi Vaz – Denise Santeli Santiago – Selma Ribeiro

Todas as participantes receberam um Certificado de Participação.

Classificação 

1º lugar  – Andreia Cristina de Souza – Flor de Giz – ‘200 degraus letivos’;

2º lugar – Jaqueline Martins Barbero – La Belle Chouette  – ‘Noite sem fim’;

3º lugar – Ana Paula Libório Arruda – Bibi – ‘Ensinar também é um ato de aprender’ (ver textos abaixo).

Premiação

Troféu para os três primeiros lugares e:

1º lugar – viagem, com direito a 01 acompanhante, para Camboriú/SC + passeio e ingressos para o Parque Temático Beto Carrero World, a ser realizado pela KM Viagens e Turismo.

2º lugar – jantar, com direito a 01 acompanhante, no restaurante Dinastia, em Sorocaba.

3º lugar – passagem e ingresso com direito a 01 acompanhante para assistir à peça Teatral ‘O Fantasma da Ópera’, a ser realizado pela KM Viagens e Turismo, em novembro de 2018.

Fotos da Cerimônia

A premiação

1º lugar – profª Andreia Cristina de Souza

 

2º lugar, profª Jaqueline Martins Barbero

 

3º lugar, profª Ana Paula Libório Arruda

 

Um mimo aos jurados: da direita para a esquerda, Sergio Diniz da Costa, Aparecido Gonçalves Viana e Cíntia Croco

 

Diretoras da ASPAMS: da direita para a esquerda, Vânia Érica Rodrigues do Nascimento, Érica Monteiro Nunes Bastida, Fabiana Spinard, Gisele Silveira Medeiros e Neide de Lourdes Leite

 

Entrega do Certificado de Participação às concorrentes

Flashes do Baile de Máscaras

        

 

        

        

        

        

        

        

        

AS CRÔNICAS VENCEDORAS 

1º lugar 

200 Degraus letivos

A cada manhã acordo com o cantar de um galo anunciando que um novo dia se inicia e que mais um degrau , dos 200 que compõem os dias letivos, será superado. Dirijo-me à escola com as atividades preparadas e com muitas ambições, almejando que o João aprenda novas palavras, a Ana consiga subtrair e somar, o Luís seja capaz de interpretar e resolver questões diversas e que o Pedro saia do seu mundinho e consiga partilhar com seus colegas…..Ah, quanta esperança anseia meu coração a cada dia!

Ouço tocar o sinal de entrada, saio da sala dos professores, observo as crianças no pátio. Vários rostos, alguns nunca notados, outros já bem conhecidos por todos. Sigo para a sala com minha turma, inicio a aula, realizando a rotina planejada até então.

Enquanto as crianças realizam as atividades, por um momento o pensamento voa até o pátio, observo algumas crianças passando, as cozinheiras que já preparam , com carinho, a merenda das crianças, e os inspetores sempre a postos em seus afazeres. Nesse momento sinto que algo está faltando, o que me chama a atenção. Puxo pela lembrança e o silêncio incomum que toma conta do pátio me faz recordar. Salta-me da memória… Pedro!!!!! Onde ele estará?

O Pedro é um aluno especial e marcante como muitos , e que tem uma rotina diferenciada dos demais alunos de sua turma, e sempre , no mesmo horário, dá voltas no entorno do jardim do pátio, extravasando sua alegria. Com sua revistinha do Sesinho em mãos, realiza sua autoleitura associada a sua caminhada, e nem percebe o que acontece à sua volta. Os pássaros que cantam alegrando a manhã, os pombos que pousam em busca de alimento, ou as crianças que estão próximas a ele, e passam despercebidas.

Transpõe , durante o período em que está na escola , várias vezes por minha sala, e em alguns desses momentos para em frente a porta e pede: – Sesinho?!. Pego, então, uma caixa onde guardo alguns gibis e revistas, e deixo que Pedro faça sua escolha, todo feliz, mas já sabendo qual seu preferido. Percebo que ele fica fascinado com a sua “leitura”, pois sai da sala e retorna ao pátio todo entusiasmado com seu prêmio.

Mas nem todos os dias são assim tão iluminados. O Pedro tem seus dias de fúria e se descontrola muito. Num desses momentos ele estava com uma professora diferente da qual ele estava acostumado, começou a gritar na aula: – Matar pro! – e a pobre, sem conhecer o aluno, saiu desesperada da sala. Os colegas de Pedro, logicamente, a seguiram num impulso desesperado, mesmo conhecendo o menino de outros momentos de descontrole. Nesse dia a generosidade foi além, pois professores e funcionários que já conhecem o aluno foram auxiliar a sala, tentando tranquilizá-lo. Após algum tempo o Pedro se acalmou e levaram-no para outra sala, até que terminasse o período e sua mãe viesse buscá-lo.

Daquela professora nunca mais ouvi falar, ao menos no meu período. Acredito que a experiência desse dia jamais será esquecida por ela.

Nós, educadores, a cada ano acolhemos alunos com potencialidades diferentes, cada um com sua particularidade especial, e percebemos a necessidade da união e esforço constantes. Buscamos e queremos sempre o melhor para nossos alunos , e para as pessoas que trabalham conosco. Somos incansáveis na tarefa de educar, somos desbravadores na busca da melhor estratégia para ensinar, somos professores… mas, antes de tudo , somos mães, pais e filhos…

E quanto ao Pedro… Ah… são muitos… Pedros… Anas…Luís… João, Serafim… uma infinidade de crianças que não tem fim… que a cada ano passam por nossas vidas em situações diversas e adversas. Se levam lembranças … talvez, mas deixam suas marcas em nós, estejamos dentro ou fora da sala de aula.

2º lugar

Noite sem fim

Hoje foi o dia de tentar me camuflar, disfarçar toda a dor, enganar-me, fazer que sou feliz sem assim estar. O riso fácil esconde alguma coisa, sim, ele esconde muitas coisas…

A manhã foi estimulada pela aula, à tarde não me furtei da fumaça e o riso tornou-se ainda mais fácil.

A noite chega, coração apertado, cabeça explodindo, estômago revirado. Que vontade de gritar! Quero correr, quero fugir, mas vou apenas chorar. Eu odeio estas quatro paredes. Aqui sinto-me presa, amarrada, acorrentada. Sinto-me personagem de “O Marinheiro”, mas já tomei as minhas providências e por isso farei a noite ser fugaz.

Eu a abreviei com três gotas, apenas três gotas e creio que essa quantia basta. Ou será que foram quatro? Não sei. Nada além de cinco…

Este quarto, se fosse somente meu, neste momento se encheria de neblina. Eu odeio este quarto. Sinto o estomago embrulhado, quero arrevessar sentimentos, quero estar isenta de quaisquer pensamentos. Nesta noite a repetição está impregnando meu quarto. Há horas escuto Moto-Contínuo, e minha cabeça quer desvencilhar-se de meu corpo, sinto minhas orelhas em ebulição, a euforia oscila com o esvaecimento e minha dor me faz egoísta. Não aspiro a falar com ninguém.

Quero a luz, o sol, o dia, quero tudo claro…. Talvez a noite seja mais curta do que suponho, já sinto minha mobilidade branda e minha cabeça está pesada, muito pesada. Quero fugir, quero dormir para esquecer, quero sonhar para poder viver. Sinto-me fisicamente combalida, minha cabeça dói.

Quarenta miligramas, alguma fumaça, cinco gotas, isso não é suficiente, isso não me bastou, preciso de mais. Não estou chorando, estou sozinha e em paz, eu não choro, eu dissimulo, eu disfarço, eu me engano (o tempo todo), eu me seguro e me asseguro que ninguém notará.

Quarenta miligramas, fumaça, cinco gotas, duas taças de vinho barato, não me sinto bem, sinto-me enjoada, minha cabeça dói e meu peito arde em lumes impalpáveis. Talvez esteja na hora de chegar “A Hora da Estrela”.

Acho que vou ao banheiro, o efeito se dá em duas horas, é início de noite ainda e minhas olheiras, assustadoramente evidenciadas, fazem mostrar que algo não vai bem, que preciso arrevessar e extirpar de mim tudo que odeio por aqui, estas paredes amarelas, a disposição destes móveis… Canto por horas, obstinadamente, “Tanto Amar”, do mesmo poeta e a noite parece ir chegando ao fim, acabando, mais duas taças de vinho barato, sinto-me bem, apagando…

3º lugar

Ensinar também é um ato de aprender

Quando me preparo para uma atribuição de aulas, tudo pode acontecer. E, no dia e hora marcados, segui ao encontro da nova possibilidade: ter uma sala de terceiro ano em uma nova escola.

Resistente a mudanças que sou, a primeira reação foi lamentar o fato que desestabilizaria meus horários e organização para o próximo ano. No primeiro dia letivo de 2016, lá estava eu diante de uma nova experiência – a turma do 3º ano A. Foi nesse dia que a conheci. A representante de classe, a aluna participativa e cheia de vitalidade, sempre responsável por todas as tarefas sociais. Seu nome era Emy.

Emy, com sua curiosidade perspicaz, se interessava por minha rotina de trabalho, por minha trajetória acadêmica e demais ambientes de atuação. Gostava sempre de se certificar de que era uma boa aluna, buscando sempre pela satisfação da resposta: ” Emy, você é minha melhor aluna!”

E foi numa dessas interrogativas que ela descobriu um de meus locais de trabalho: um hospital destinado para o tratamento de câncer infantil. Foram tantas e tantas perguntas…E, dentre elas, uma revelação. O sonho de Emy era doar seus cabelos. Passada a festa de formatura, em seus planos estava projetado o corte.

Cada vez mais, conscientizei-me de que aquela atribuição de aulas a princípio não favorável aos meus caprichos, proporcionou uma experiência única e especial. A sala era participava, crítica, produtiva. E nas brincadeiras de formandos, sempre presente o tão esperado trote, momento em que os formandos marcam um ritual de atuação social. E no 3o ano A não foi diferente. Emy, a cada dia mais interessada em saber sobre os alunos hospitalizados, contabilizando os meses para sua maioridade, com o intuito de, além de doar os cabelos, ser voluntária no setor de brincadeiras infantis do hospital. Pude contemplar em diversas oportunidades a sua alegria em marcar o calendário. E por falar em calendário, a sala se preparava para o trote do segundo bimestre quando Emy, na condição de representante de classe, propôs que a turma arrecadasse produtos de higiene pessoal, com o intuito de doá-los para o hospital. Um resultado exultante! Quanta satisfação observar jovens com dedicação e carinho, pensando no próximo!

Como professora, tive o privilégio de acompanhar cada resultado, observar o crescimento não só nas habilidades específicas do conhecimento de conceitos, mas na transformação humana, na vivência do protagonismo solidário.

Durante a chamada, uma surpresa: Emy estava ausente!E assim se sucedeu por muitas aulas, até o dia em que, ao adentrar a sala, todos conversavam com pesar sobre a novidade. Não demorou para que a notícia fosse comunicada: Emy estava doente!

No dia seguinte, ao chegar ao hospital no qual trabalhara no outro período, fui abordada pela assistente social, pedindo que me apresentasse no quarto 207 para a realização de um trabalho escolar, com urgência. Ao abrir a porta, uma mistura de alegria e tristeza invadiu meu coração. Deitada, prestes a iniciar o tratamento quimioterápico estava Emy, dizendo: – Prô, a senhora gostou da mentirinha que eu pedi para a Lurdes contar? Eu falei que era sua aluna e combinei que era um pedido de urgência! Sorrimos, juntas. Mas só nossos olhos souberam o quanto foi custoso os minutos de esconder atrás de sorrisos a vontade de chorar.

Diante daquela realidade, pude compreender os porquês daquela atribuição de aulas. Nada foi por acaso. E ela estava ali, duplamente na condição de aluna. Precisava dos estudos para fortalecer sua trajetória e eu precisava de sua existência para testemunhar o milagre.

Em certos momentos, fui mais aluna do que professora. Não existem limites para aprender o amor, a fé e a esperança na escola da vida.

Hoje, vendo a aluna Beatriz comemorar sua última quimioterapia, não posso me esquecer de Emy. Seus cabelos enfeitam a vida, numa bela peruca que ostenta sua vitória contra o câncer. Os cabelos de Emy.

E a vida continua. E um novo ano letivo nos aguarda.

 

 

Sergio Diniz da Costa
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