dezembro 03, 2024
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Gonçalves Viana: 'Paulo César Pinheiro'

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Paulo, apesar da pouca idade, queria cada vez mais compor e a entender o processo musical. Conversando com o João de Aquino, disse-lhe que eles tinham que fazer música, e citava o exemplo do primo Baden.”

Paulo César Pinheiro e Baden Powell

Paulo César Pinheiro começou a compor música e a escrever versos aos treze anos. Nesse início era tudo muito simples, bem fraquinho mesmo. Foi um tempo de exercício e aprendizado. Ele rapidamente assimilou a habilidade poética e, um ano depois, já estava produzindo coisas mais sérias.

Mas ele ainda levava a vida de criança de subúrbio, jogando bola de gude, rodando pião e batendo bola.

João de Aquino

Acontece que Paulo, era vizinho, em São Cristóvão (Rio de Janeiro), de João de Aquino, um violonista e compositor primo de Baden Powell. O Baden, já nessa época, fazia muito sucesso no mundo musical. Ele tinha uma parceria sólida com Vinícius, tendo passado dois anos na França.

Paulo, apesar da pouca idade, queria cada vez mais a compor e a entender o processo musical. Conversando com o João de Aquino, disse-lhe que eles tinham que fazer música, e citava o exemplo do primo Baden.

Então, começaram a esboçar as primeiras músicas. De muitas, Paulo já tinha as ideias prontas, e assim, eles as desenvolviam. É dessa fase,  a música “Viagem”, talvez, a mais conhecida e mais gravada. João de Aquino foi seu primeiro parceiro, musicou aquele verdadeiro poema, João gravou numa fitinha e passou a Paulo. Este levou para casa, e passou a trabalhar na melodia, pois ele a julgava meio inexata e com um andamento muito rápido.

Na manhã seguinte, os seus coleguinhas de folguedos foram chamá-lo para a pelada tradicional, e ele nada, estava em seu quarto, completamente tomado, rabiscando as estrofes, querendo terminar logo, pra ir para o seu futebol.

Assim, Paulo foi deixando a canção mais lenta, até que acabou por transformá-la em valsa. Era meio-dia quando terminou. Seu pai acabava de chegar do trabalho para sua hora de almoço, passou por ele e deu a clássica balançada de cabeça, em sinal de reprovação, e partiu bravo para a mesa. Ele ainda não entendia o que significava aquilo, pois era contra o seu filho querer ser compositor. Achava coisa de vagabundo, que iria atrapalhar os seus estudos. – Isso não dá camisa a ninguém – dizia.

As pessoas ficavam assombradas e não queriam acreditar que o autor daquela letra, tinha apenas quatorze anos. Muitos músicos e críticos consideram Viagem, uma das letras mais bonitas da MPB.

 

VIAGEM

Oh! Tristeza me desculpe

Tô de malas prontas

Hoje a poesia

Veio ao meu encontro

Já raiou o dia

Vamos viajar

Vamos indo de carona

Na garupa leve

Do vento macio

Que vem caminhando

Desde muito longe

Lá do fim do mar

Vamos visitar a estrela

Da manhã raiada

Que pensei perdida

Pela madrugada

Mas que vai escondida

Querendo brincar

Senta nessa nuvem clara

Minha poesia

Anda se prepara

Traz uma cantiga

Vamos espalhando

Música no ar

Olha, quantas aves brancas

Minha poesia

Dançam nossa valsa

Pelo céu que o dia

Faz todo bordado

De raios de sol

Oh! Poesia me ajude

Vou colher avencas

Lírios, rosas, dálias

Pelos campos verdes

Que você batiza

De jardins do céu

Mas pode ficar tranquila

Minha poesia

Pois nós voltaremos

Numa estrela-guia

Num clarão de lua

Quando serenar

Ou, talvez, até quem sabe

Nós só voltaremos

No cavalo baio

No alazão da noite

Cujo nome é raio

Raio de luar.

(Paulo César Pinheiro – João de Aquino)

 

Márcia

A canção Viagem foi, inicialmente, gravada de forma instrumental, por Baden Powell. E, em 1968, pela cantora Márcia, mas quem a imortalizou foi Marisa Gata Mansa.

João de Aquino apresentou Paulo César ao seu primo, Baden Powell, que, vislumbrando a capacidade do garoto, depois de algum tempo, propôs parceria ao mesmo.

Marisa Gata Mansa

Inicialmente, Paulo ficou assustado, pois Baden tinha por letrista nada mais, nada menos, que Vinicius de Moraes, consagradíssimo poeta brasileiro, mas acabou aceitando a proposta. Compuseram, então, a primeira música em dupla: “Lapinha”. Inscrita na I Bienal do Samba, um festival realizado pela TV Record de São Paulo, em 1968. “Lapinha” acabou se tornando um grande sucesso nacional, na voz de Elis Regina.

Elis Regina

De tal forma multiplicaram-se os sucessos da dupla e, com o tempo, também, as parcerias de Paulo César: Francis Hime, Eduardo Gudin, Dori Caymmi, Edu Lobo, João Nogueira, Maurício Tapajós e até mesmo Tom Jobim.

                                                                                Gonçalves Viana

 

Sergio Diniz da Costa
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