Brás, um Distrito de São Paulo
Na esquina das ruas Santa Rosa e Eurípedes encontro, finalmente, um pequeno bar que prima pela limpeza do recinto em um dos mais sujos, imundos, históricos e mutilados bairros do território paulistano. Estou no dinâmico e comercial Bairro do Brás, em plena Sexta-Feira Santa, e sigo atento as fachadas e anúncios das atividades de negócio aqui existentes: ”Casa do Mel, Empório Diamante, Bela Cerealista Fit, Empório Natural Foods…”
Algumas edificações estão sendo restauradas e seus proprietários buscam salvaguardar as fachadas com semblantes arquitetônicos de antanho.
Passo a sonhar, vislumbro e projeto em minha mente o Brás totalmente revitalizado. Restaurado e recuperado, para que possa ser o futuro Soho Paulista, bairro outrora abandonado, esquecido e deteriorado da rica e pulsante Metrópole Americana, Nova Iorque.
Tenho o privilégio de estar só. Literalmente solitário. Isolado de todos e onipresente na consciência de estar vivendo um momento onde a sensação de pertença é eficaz e total.
Estou no Distrito do Brás, vejo e percebo os passantes, transeuntes imersos em seus pensamentos, afazeres e ansiedades do dia-a-dia. Passa o catador de latas de alumínio desanimado e carregando o saco pesado repleto de sua preciosa mercadoria a ser reciclada.
Passa o catador de papel puxando penosamente a carroça repleta de jornais, de caixas de papelão e de matéria nobre para o reuso. Passa a prostituta com um olhar dengoso e ávida à busca de seus clientes…
Na pequena mesa vermelha de plástico, do outro lado da rua, trabalhadores jogam baralho e os gritos eufóricos anunciam a felicidade espontânea daquele momento de descontração. São risos e gargalhadas do grupo de marmanjos desocupados em um dia de feriado. Sentados na carroceria de uma antiga caminhonete, quatro jovens fumam cigarro e sorvem a cerveja gelada adquirida no bar de esquina onde me encontro.
Presto atenção aos detalhes das sarjetas recém pintadas, dos postes de cimento raramente tesos a 90 graus e a fiação desordenada que transporta a energia, a tecnologia, a telefonia e outras opções por onde passam as informações através da comunicação neste século 21.
Passa, neste efêmero e sublime momento, o tempo. Passam os carrinhos de fruta e seus vendedores. Passa a vida…
Pois o tempo realmente passa e deixa seus rastros, seus testemunhos, manifestações humanas, artísticas; expressão de uma época, de uma mentalidade de cultura que impregnava hábitos, costumes e crenças em momentos da trajetória da cidade de São Paulo.
Sigo caminhado e em meu trajeto encontro a Florêncio de Abreu, certamente a mais bela via pública da Capital Paulista. Os casarões, nem todos restaurados, constituem o charme da rua que representa dignamente a São Paulo de final do século 19, início do Século 20.
A alguns passos, encontro o Mosteiro de São Bento, um espetacular exemplo de espaço de culto cristão e católico que transmite paz a quem busca refúgio na espiritualidade, na religião, na crença, ou simplesmente ao estar dentro de um templo onde impera visualmente a arte sacra.
Converso com o porteiro, ser discreto e educado que não tem informações suficientes para saber do privilégio que tem de estar neste raro templo ainda preservado da Capital Paulista.
Fábio Ávila
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.