setembro 21, 2024
Calma
O Manual de Instruções da Humanidade
Palavras sufocadas
Editora Cubile lança livro sobre a história de Sorocaba
Exposição de Artes Janelas do Brasil
Homenagem ao concurso Miss Brasil
O luar e o amor
Últimas Notícias
Calma O Manual de Instruções da Humanidade Palavras sufocadas Editora Cubile lança livro sobre a história de Sorocaba Exposição de Artes Janelas do Brasil Homenagem ao concurso Miss Brasil O luar e o amor

Artigo de Ricardo Hirata Ferreira fala sobre a miséria humana

O SER MISERÁVEL

 

Ricardo Hirata Ferreira
Ricardo Hirata Ferreira

A questão perturbadora é por que a pessoa chega a uma condição de miséria humana. Encontrar-se com alguém assim é o mesmo que encontrar-se com uma criatura viva, porém morta. A amargura e o sofrimento tomaram conta da sua existência. Ela sobrevive em dimensões confusas e paralelas, reais e sombrias da imaginação. Apega-se a um único pensamento e não possui uma visão de horizonte.

Com certeza está aprisionada pela dor e pela angustia. O dia é um martírio e a noite um calvário. Esquecida e rejeitada, ela vaga em um ambiente degradado que reflete o seu próprio interior. É cega e surda. A cegueira e a surdez foram progredindo ao longo da sua jornada inconseqüente. Alguma coisa a empurrou para este estado deplorável de tristeza e de abandono absoluto.

A criatura miserável ainda é obrigada, levada e de alguma maneira deseja aprisionar outros seres que “inocentemente” parecem carregar lá no fundo algum resquício de bondade. O poder do seu rancor e da sua revolta acorrentam a consciência perdida destas aparentes vítimas.

A situação chegou a tal estágio que nem a morte é o portal da libertação. É apenas uma passagem de uma cela para outra, ou de um sistema carcerário para outro (podendo ser ainda pior). Tirar o que se chama de vida como ato de desespero e fuga é, portanto ilusão sem volta. É um tiro no escuro. É como cair eternamente em um abismo infinito. É como nunca conseguir acordar do pesadelo. Nesta queda violenta que pode ser comparada a sensação de estar se afogando a pessoa miserável vai se agarrando naqueles que estão a sua volta (aos que estão mais próximos).

O vazio da miséria suga a energia vital dos outros, alimenta-se insaciavelmente disso. O retrocesso torna-se constante. Em raros momentos brechas de luz se abrem no labirinto escuro onde é o habitat desta criatura, porém a frieza do seu próprio coração acaba por congelar e bloquear qualquer possibilidade de saída deste “não lugar”.

O amor provavelmente nunca tenha existido. A sua mente não conhece a paz, mas sim a loucura. O seu corpo produz, absorve e exala veneno tóxico. A tortura e as vozes do lamento atormentam o seu ser mergulhado em frustrações e decepções. E depois de incontáveis ciclos de desespero e de agonia, o fim destrói o que sobrou da utopia sufocada em meio ao lixo. Algo deve surgir.

 

Ricardo Hirata Ferreira

Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.

Helio Rubens
Últimos posts por Helio Rubens (exibir todos)
Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Pular para o conteúdo