Crônica 272 Moradores de rua – Celio Pezza
Um dia destes assisti a um filme chamado O Solista, sobre um músico talentoso, que era morador de rua, por problemas mentais. No final, falaram sobre a existência de 90.000 moradores de rua na cidade de Los Angeles.
Não existem estatísticas seguras em lugar nenhum do mundo e, no Brasil, o IBGE não consegue chegar a um número correto, pois alega que os moradores de rua não possuem endereço fixo.
Os números aproximados mostram que nos Estados Unidos existem mais de 350 mil moradores de rua. Na Inglaterra, são mais de 300 mil. Em Moscou, sabe-se que morrem mais de 400 pessoas nas ruas devido ao extremo frio durante cada inverno, mas não se tem um número certo de quantos são no total. No Brasil, de acordo com um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social, estima-se que perto de 1,5 milhões de brasileiros vivam nas ruas. São pessoas excluídas do sistema por problemas como alcoolismo, drogas, doenças mentais, desavenças com familiares, desemprego, desilusão com a vida e outros.
Este é o nosso mundo real, não aquele da Copa do Mundo.
Também é muito triste saber que, enquanto escrevo este artigo, no aconchego do meu lar, existem pessoas preocupadas em ter um jornal para se cobrir e tentar sobreviver ao frio da noite, muitas vezes de estomago vazio.
Uma pesquisa feita pelo Ministério Social e Combate a Fome entre 32 mil moradores de rua mostrou outro dado surpreendente: 74% sabem ler e escrever, 48% terminaram o ensino fundamental e 2% completaram o curso superior e falam outros idiomas.
Em São Paulo, a prefeitura instalou várias rampas contra estes indesejáveis inquilinos, nas áreas subterrâneas da Av. Paulista, com um piso áspero e incômodo, para evitar que durmam lá, pois não é adequado um cartão postal da cidade cheio de moradores de rua.
A prefeitura também quer acabar com a distribuição gratuita de sopa aos moradores de rua, que é feita por instituições de caridade, a não ser que ela ocorra nos albergues da prefeitura, e enquadrar criminalmente aqueles que insistirem nesta prática de solidariedade humana. As instituições alegam que isto é uma criminalização da caridade e no meio dessa polêmica, lembro que perguntaram a um morador das ruas de São Paulo, sobre o que há de pior em viver nas ruas. Ele coçou a barba, olhou para o vazio, e respondeu:
− O pior… O pior é a chuva!
Enquanto eu escrevo esta crônica, cai uma chuva fina lá fora.
Célio Pezza
Julho, 2015
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.