Carta: Você ao Papai Noel
Olá, Papai Noel, hoje não vim lhe pedir presentes, apenas lhe fazer uma pergunta: Você realmente existe?
Esses dias eu te vi numa loja, você estava tirando fotos e distribuindo doces. Ao seu redor havia várias crianças… Pensei seriamente em entrar, mas logo em seguida desisti… Todas as vezes que entro numa loja o pessoal de lá começa a me olhar estranho, comentam umas coisas e às vezes até me perseguem disfarçadamente durante o meu percurso… Sei lá, será que é pelo meu chinelo furado ou pelo meu jeans rasgado?… Mamãe sempre diz que é porque eles me acham importante… Eu prefiro acreditar na mamãe. Afinal, ela é minha mãe, ela sabe de tudo.
Outro dia na escola a professora nos passou um filme relacionado ao natal e novamente te vi Papai Noel, mas desta vez na TV… Você estava entregando os presentes de natal e as casas das crianças que recebiam os presentes eram tão bonitas que pareciam ser mágicas. Bem diferente das que vejo em meu bairro… Na verdade, bem diferente da minha.
Em casa, perguntei à mamãe por que você não vinha em casa; ela então me respondeu que é porque não temos chaminé para você descer. Eu concordei com ela, afinal ela é minha mãe; mas pensei assim “Se fosse por esse motivo, por que então os meus amigos recebem presentes no natal? Que eu saiba, nenhum deles tem casa com chaminé”.
Quando converso com meus amigos, a maioria diz que receberam presentes do Papai Noel e ainda enfatizam que mereceram ganhar, pois foram bonzinhos o ano todo… Eu fiquei pensando então se sou um menino ruim por não ter ganhado presente em nenhum natal… Mas então lembro-me de que meu amigo Joãozinho não é um menino bom, porque ele vive a atormentar os colegas da classe e a professora e mesmo assim ganhou um carrinho de presente de natal… Então será que o problema é comigo, Papai Noel?
Resolvi então conversar com o meu pai… Perguntei-lhe o motivo do Papai Noel não vir me visitar e trazer presentes… Neste momento, percebi meu pai se entristecer e uma lágrima cair de seus olhos… Ele estava totalmente calado… Eu então o abracei e disse que estava tudo bem, que eu finalmente havia entendido que o Papai Noel não existe e que meus amigos inventavam tudo aquilo, assim como os filmes que passavam na televisão… Meu pai simplesmente levantou a cabeça e respondeu que a nossa realidade era diferente, mas que um dia o Papai Noel apareceria para mim… Eu simplesmente concordei e disse que precisava dormir porque já era tarde e eu estava com sono, mas a verdade é que eu percebi que ele estava triste, então precisava repousar.
Sabe Papai Noel, outro dia vi no jornal da TV que você estava passeando de trenzinho pelos bairros da cidade. Vi crianças alvoroçadas ao seu redor e você todo feliz a cantar e a entregar presentes junto com seus ajudantes. O trenzinho era lindo, cheio de luzinhas coloridas… Eu queria estar lá… Mas, sabe Papai Noel, pela primeira vez terei que discordar da minha própria palavra falada ao meu pai ontem, porque você realmente existe sim… Mas você só existe nos bairros que tem os padrões de casas parecidas com as que eu vi na TV; você só atende as criancinhas que entram arrumadinhas nas lojas e você só entrega presentes para as crianças que os pais podem comprar… Então, Papai Noel, você existe sim… Você só não existe para mim.
Carta de Lucas, escrita pela mamãe Rose.
Mari Moraes
mary_moraes@hotmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024