Macacada antifascista
Desde a decretação do afastamento social, em virtude da pandemia de coronavírus, as ruas de muitas cidades Brasil afora se esvaziaram. Contudo, em meio à aguda crise sanitária, apoiadores(as) de Bolsonaro e seguidores(as) do insano negacionismo científico que ele defende, acostumaram-se a tomar os logradouros para si, sem enfrentar nenhum obstáculo, protegido muitas vezes pela força policial.
Nas ruas, ultimamente com reduzidas manifestações, reacionários(as) de matizes diversas, estimulados(as) pelo “mito”, bradam livremente pautas neofascistas e inconstitucionais, que repercutem nas novas e velhas mídias. Isso porque atuam sem oposição político-ideológica ou represália jurídica dos poderes constituídos, que deveriam cuidar para que preceitos constitucionais do estado democrático de direito e da civilidade não fossem agredidos a cada manifestação bolsonarista.
Contudo, desde o último dia 9 de maio, algo novo surgiu: o enfrentamento ao bolsonarismo nas ruas. E ele emergiu de onde menos se esperava: as torcidas organizadas, largamente malvistas e entendidas, recorrentemente, como baderneiras e despolitizadas. Inicialmente, elas foram às ruas em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e depois se espalharam pelo território nacional. Ineditamente unidas entre si, assumiram a vanguarda ao tomar as ruas para entoar gritos em defesa da democracia e para dizer aos neofascistas: “Recua, fascista, recua! É o poder popular que está nas ruas”.
O grito das torcidas por democracia espantou muitos(as) e acordou outros(as) tantos(as). Um dos resultados desse fenômeno surpreendente foi abrir debate amplo na sociedade sobre se seria o momento ou não de ir às ruas durante a pandemia de COVID-19 para enfrentar o pandemônio, que é o governo de Bolsonaro, acusado de racismo.
A brutal morte de George Floyd em 25 de maio, negro de Minneapolis (EUA), que teve o pescoço pressionado pelo joelho do policial branco Derek Chauvin, levou à agudização da discussão, porque gerou os maiores eventos antirracistas de multidão nos Estados Unidos desde a morte, em 1968, de Martin Luther King Jr., justamente no país que mais mortes registra na pandemia.
Em Campinas, esses fenômenos repercutiram no último dia 07 de junho, com a Macacada Antifascista engrossando o ato que realizado no Largo do Rosário contra o bolsonarismo e contra o racismo. Formada por integrantes da torcida da Ponte Preta, a Macacada Antifascista assumiu a história do time, marcada pela luta social em uma cidade famosa pela crueldade contra escravos(as) e nosso país, que tardou a abolir essa miséria humana.
A Ponte Preta nasceu 01/08/1900 e se orgulha de ser a primeira democracia racial do futebol nacional. A Macaca foi o primeiro time a escalar um jogador negro: Miguel do Carmo, citado em ata de agosto de 1900 como um dos jovens fundadores e atletas do clube, com 16 anos.
De lá para cá, muitos torcedores(as) e jogadores negros da Ponte foram ofendidos(as) racialmente. O xingamento utilizado para tanto era “Macacos”, mas a democracia racial do Clube e o orgulho negro de seus(suas) torcedores(as) os(as) fizeram se apropriar do apelido “Macaca” e, assim, enfrentam o racismo estrutural da sociedade brasileira. Mais recentemente, o enfrentamento ao racismo na Ponte Preta se expressa, também, na presidência do Clube, pois é ocupada por Tiãozinho, único presidente negro entre os clubes das séries A e B do campeonato brasileiro e que assume a negritude e a luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo. Tanto assim que, ao assumir o posto, nomeou três negros e uma mulher para compor a diretoria executiva da Ponte.
Observar a Macacada Antifascista na luta contra os que querem retirar direitos do mais pobres e contra o racismo é apreciar a contínua tradição histórica da Ponte Preta, que se apresenta no Brasil como um dos ícones da luta social por um mundo em que sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e livres.
Marcos Francisco Martins
Professor da UFSCar campus Sorocaba e pesquisador do CNPq
E-mail: marcosfranciscomartins@gmail.com
Vinícius Benedito Martins
Estudante de História (Unicamp)
E-mail: vinibemartins@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024