Ricardo Hirata Ferreira: ‘PENSAR OUTRA CIDADE’
Qual cidade nós queremos?
Primeiramente cabe perguntar: Quem é esse nós?
A cidade contem diferentes agentes, usuários e grupos.
Uma segunda pergunta se coloca: ‘Quem tem força e poder na cidade?’
O embate se estabelece entre o poder público e o mercado, porém a fusão dos dois e o jogo de interesses parece não ter fronteiras visíveis. A cidade é ao mesmo tempo global e local, vetores de fora interferem na sua dinâmica interna e vice-versa.
A cidade é feita por cidadãos? Mas o que é a cidadania nos tempos de hoje? Se partirmos do pressuposto que os cidadãos existem, então podemos afirmar que temos cidadãos e cidadãos: os de primeira categoria (mais integrados) e os de segunda categoria (integrados de forma precária).
O acesso a cidadania é altamente diferenciado, enquanto uma parcela da população mora em condomínios fechados, outra mora em áreas de riscos, como em encostas de morros sujeitos a desmoronamento ou em várzeas de rios ficando expostos a enchentes. Os rios e córregos, por sua vez, foram transformados em esgotos e impermeabilizados. Isso demonstra a falta de gestores com visão ambiental de longo prazo e a concepção pobre da população sobre a natureza.
Aliás, faltam nas cidades verdadeiros urbanistas, aqueles que sabem olhar a cidade tendo como perspectiva a totalidade, a qualidade de vida e/ou dignidade de vida. Todavia o que é a qualidade de vida na sociedade individualista do consumo? Como pensar a qualidade de vida em um mundo onde ocorre a intensificação das desigualdades sócio-espaciais?
Por décadas as cidades foram moldadas e/ou planejadas para a mobilidade dos automóveis, privilegiando assim o setor empresarial automobilístico, com incentivos e patrocínios dos governos estaduais e federais. Diante do transbordamento dos automóveis (muitos exageradamente avantajados) no espaço urbano e do problema da não circulação, tenta-se inverter esta lógica, propondo-se então uma cidade para a mobilidade do pedestre e do ciclista. Parte dos urbanistas contemporâneos defende um desenho urbano que atendam consumidores e pessoas com algum tipo de deficiência. A acessibilidade para todos parece ser uma palavra-chave no mundo urbanizado.
A questão é que o espaço não pode ser apenas uma mercadoria nas mãos das agencias imobiliárias. Reduzir o espaço urbano a uma relação de compra, de venda e de especulação imobiliária é muito pouco. É preciso romper com isso. A cidade não pode ser mais produzida para e pelo capital. Ela precisa ser pensada e produzida para o movimento do viver de todas as pessoas.
Ricardo Hirata Ferreira
Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.
* Este texto foi pensando a partir dos importantes debates realizados no Simpósio de Mobilidade Urbana, na cidade de Itapetininga, SP, nos dias 15 e 16 de setembro de 2015.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.