Marcelo Paiva Pereira: ‘PERMACULTURA: UMA IDEIA À SUSTENTABILIDADE’
A sustentabilidade é o tema em voga na época atual, objeto de discussões e sugestões de métodos para seu alcance. Na década de 70 do século XX dois australianos criaram a Permacultura, com o escopo de atingir a sustentabilidade das sociedades humanas (as cidades) e do meio ambiente natural. O presente texto a abordará, ainda que superficialmente, como abaixo segue.
DA PERMACULTURA
A permacultura surgiu na Austrália, na primeira metade da década de 70 do século XX, criada por Bill Mollison e David Holmgren, e é um conjunto transdisciplinar de diversos conhecimentos que tem por objeto o uso racional do espaço e por finalidade atingir a sustentabilidade do meio ambiente natural e artificial (as cidades). Suas premissas são a progressiva redução do consumo de energia e recursos e a inevitável redução da população humana.
A fonte primária – ou primeira – da permacultura é o Manejo da Terra e da Natureza, da qual a agricultura permanente e sustentável é a elementar que a caracteriza e a expande para seis outras áreas do conhecimento, na sequência, a saber:
- Espaço construído;
- Ferramentas e tecnologia;
- Cultura e educação;
- Saúde e bem-estar espiritual;
- Economia e finanças;
- Posse da terra e comunidade;
Essas sete áreas do conhecimento formam uma espiral progressiva (ou evolutiva) pela qual deverão integrar umas com as outras, ainda que incerto e variável este processo. A permacultura faz caminho evolutivo, que se inicia no nível pessoal e local, segue ao nível coletivo e global e submete aquelas áreas aos princípios éticos e de design oriundos da supra mencionada fonte primária. Referidos princípios tem origens na natureza e nas sociedades sustentáveis da era pré-industrial.
São princípios éticos:
- Do cuidado com a Terra: todos devem zelar pela preservação ou pela diminuição dos danos ao solo, água e florestas;
- Do cuidado com as pessoas: todos devem zelar pela própria saúde e melhorar os relacionamentos com os entes familiares, parentes e outras pessoas;
- Da partilha justa: todos devem estabelecer limites para o consumo, reprodução dos animais para criação e corte e redistribuir o excedente da produção.
Esses princípios são gerais e comuns a todas as “culturas de lugar” (culturas tradicionais e indígenas), as quais integraram as sociedades com a natureza do local ao longo do tempo. São sociedades tribais, aldeãs, camponesas, de vilarejos, vilas e de pequenas cidades.
Os princípios de design são em doze, distribuídos em dois grupos: a) do nível pessoal e local; b) do nível coletivo e social.
São princípios de design do nível pessoal e local:
- Da interação: a interação entre as pessoas e a natureza se faz necessária para se observar os padrões de comportamento (sobrevivência e existência) das espécies, adaptando-os às nossas sociedades e modos de vida locais;
- Da produção do capital natural: deve-se substituir as fontes não renováveis de energia (combustíveis fósseis) por fontes renováveis, úteis e necessárias para reconstruir o capital natural, como são exemplos a energia solar, eólica, reaproveitamento dos resíduos agrícolas, comerciais e industriais, tanques de água, etc., com vistas à sobrevivência das gerações futuras;
- Do rendimento contemporâneo: o capital natural deve ser produzido contemporaneamente, com vistas a assegurar a sobrevivência das gerações presentes;
- Da auto-regulagem: resulta das reações da natureza às ações – e omissões – humanas no meio ambiente artificial (as cidades) e natural; quanto menos reagir, maior será a regulagem dos sistemas humanos de produção; a auto-regulagem, entretanto, não exige a auto-suficiência dos sistemas de produção, mas será favorecida porque aumentará o poder de recuperação (resiliência) do meio ambiente natural;
- Dos recursos renováveis: para assegurar a continuidade dos recursos, deve-se utilizar as fontes da natureza sem consumi-las, ou reduzindo o consumo delas para que possam se reproduzir em tempo hábil, sem prejuízo da fauna e flora; também deverá fazer uso de animais domésticos para serviços agrícolas e de transporte;
- Do reaproveitamento: deve-se evitar o desperdício, de modo a não deixar resíduos, com o reaproveitamento dos bens consumidos.
São princípios de design do nível coletivo e social:
- Da escolha de padrões: as sociedades humanas devem escolher quais padrões obtidos da natureza para seguir, em prol da vida em sociedade e em harmonia com o meio ambiente; são padrões de comportamento que repetem modelos (formas definidas) de vida natural, como são as florestas e a organização vegetal nelas contidas; está relacionado com o princípio da interação;
- Da integração: deve-se realizar a conexão simbiótica ou cooperativa entre a natureza e as sociedades humanas para evitar danos ao meio ambiente e reações austeras contra nossas sociedades; está relacionado com o princípio da auto-regulagem;
- Da menor escala: toda a economia produzida deverá ser local, reduzida às atividades regionais, permitindo a auto-suficiência dessas comunidades; a proporção da produção será dada pela comunidade do local; está relacionado com o princípio da produção do capital natural, do rendimento contemporâneo e dos recursos renováveis;
- Da diversidade: deve-se acolher as mais diversas espécies de vida vegetal, animal e, também, sociocultural das nossas comunidades (distribuídas em aldeias, vilas, cidades e megacidades); a finalidade é garantir a simbiose entre os vegetais, reforçar os sistemas naturais de defesa e resistência às pragas agrícolas, fortalecer as florestas e atribuir a cada comunidade (ou sociedade) humana a biodiversidade regional; está relacionado com o princípio da interação;
- Da faixa de borda: deve-se acolher as porções da natureza que se encontram fora do foco das atenções, como são as bordas ou margens de rios e lagos, que são tratadas como gravames ao desenvolvimento das sociedades humanas; elas devem ser acolhidas e tratadas com a mesma interação, integração e diversidade de outras áreas da natureza; relaciona-se com o princípio da auto-regulagem;
- Do design adaptado: todos os sistemas produtivos das nossas sociedades deverão ser planejados – desenhados – tendo-se como foco a interação e a integração com a natureza e da diversidade de espécies; assim, deverão estar em cooperação com a natureza e sob controle; relaciona-se com o princípio da auto-regulagem.
DA CONCLUSÃO
A permacultura surgiu na época da primeira crise do petróleo, ocorrida em 1973, pondo em xeque o mundo daquela época, que dependia do petróleo como fonte principal de energia. Em razão desse panorama político, econômico, tecnológico e social, eram catastróficas as previsões para o futuro que se aproximava.
A proposta sugerida pelos dois australianos que a criaram tem como premissa esse futuro apocalíptico, sem recursos e entendido como resultado de tecnologias devastadoras, sem conter ou diminuir os danos à natureza. Sobre essas premissas a permacultura desenvolve sua principiologia.
Em relação aos seus princípios, estes atuam em conjunto, reforçam e compõem o suporte da sustentabilidade do meio ambiente. O da interação é o mais valioso, porque influi em outros três (da escolha de padrões, da diversidade e da faixa de borda), que estabelece a necessidade de adaptar às nossas comunidades os padrões de comportamento das espécies na natureza, para garantir a harmonia e o equilíbrio entre o meio ambiente natural e o artificial.
Finalmente, a permacultura é uma ideia à sustentabilidade porque a principiologia dela confere suporte à sustentabilidade, sem perda ou desvio do objeto e da finalidade. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira.
(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)
FONTES DE PESQUISA
FCA.UNESP.BR. Disponível em: http://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/permaculturaFundamentos.pdf. Acessado aos 30.08.2015.
PERMACULTURA.UFSC.BR. Disponível em: http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/. Acessado aos 08.10.2015.
SETELOMBAS.COM.BR. Disponível em: http://www.setelombas.com.br/permacultura/filosofia-da-permacultura/. Acessado aos 03.10.2015.
- Como o jornalista Helio Rubens vê as coisas - 9 de janeiro de 2024
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 27 de dezembro de 2023
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 22 de dezembro de 2023
É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.