Entre cristais e muranos
Há 16 anos atrás nascia meu filho caçula, e eu ainda era casada. O pai desempregado e eu recebendo Seguro-Desemprego do contrato que havia terminado.
Meu menino nasceu grande, com 51 cm e 3,400 kg. Mamava bastante. Eu sempre fui totalmente favorável à amamentação exclusiva, e nisso felizmente minha filha também é igual, segue meus passos em relação aos meus netos.
No último mês do seguro, começou a bater o desespero! O que seria de nós com três crianças, sem dinheiro?
Um amigo meu me ofereceu a gerência do seu comércio. Embora eu jamais tenha compreendido a dinâmica de um comércio e, muito menos, gerenciá-lo, abriu-se essa porta e eu entrei. Na verdade, a função que eu exercia estava longe de ser a de gerente; estava mais para um ‘faz-tudo’.
A responsabilidade da casa ficou para o pai dos meus filhos, e eu, com as contas. Os papéis se inverteram por muito tempo. Fiquei feliz em parte, pois o problema financeiro estaria resolvido, mas o que me afligia mesmo era ter que dar fórmula ao meu filho durante as minhas horas trabalhadas. O organismo dele, que era habituado somente com o leite materno, não se adaptou bem; passou a ter constipação intestinal e a emagrecer.
Sentamos, eu e o pai dele, para tentamos resolver toda essa problemática. Quem sabe, de alguma forma, sermos nossos próprios patrões, fazermos nossos horários, a fim de não privar nosso bebê de ser amamentado. Resolvemos então assistir a um curso de artesanato em bijuterias. Compramos alguns materiais e as peças ficaram boas. Pedi demissão do comércio e a sorte foi lançada.
Nós produzirmos colares, pulseiras, brincos, chaveiros e eu ia vender de casa em casa, de loja em loja. Lembro que uma vez até alugamos um stand numa galeria, mas a coisa era boa mesmo na rua, ir até o cliente. Passamos a viver de nossas vendas e tínhamos muitas encomendas. Eu buscava material na Capital, coisas lindas, que não se via aqui no interior. Virávamos a noite, vendíamos de dia. Participei de feiras de artesanato. Realmente a arte, de uma ou de outra forma, sempre foi a minha praia.
E assim as crianças foram crescendo. Entre contas e miçangas; correntes e alfinetes; entre cristais e muranos; argolas e tulipas. Sem jamais colocarem uma bolinha sequer na boca ou no nariz, pois, para eles, aquela montoeira de material era rotineira, e meu quarto, um ateliê. Sem ter que privar meu filho de ser amamentado. Eu saía para vender, mas de três em três horas eu estava ali para alimentá-lo.
Depois surgiram as lojas de R$ 3,99; as bijuterias industrializadas deram lugar às artesanais. Mas, felizmente, nessa fase eu já havia sido aprovada em um concurso público, e lá estou até hoje.
Agora, dedicando-me à literatura como ofício, perguntei: “O que poderia eu fazer para presentear os leitores que, amorosamente, acreditam no meu trabalho literário? Afinal, quem não gosta de um mimo? O que, além da poesia, eu teria de melhor para oferecer?” Aquele amontoado de cores e formas, o dourado e o prateado, o brilho e o fosco bateram à minha porta! “- Estamos aqui!”
E eis-me aqui, novamente, e nostalgicamente, revivendo momentos da minha história e produzindo peças do meu presente. E como dizia Beethoven: “A arte me amparou.”
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com
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Claudia Lundgren, natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.