novembro 21, 2024
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Artigo de Celso Lungaretti: 'Celso Lungaretti e a fase terminal do capitalismo. Apollo Natali e a fase monstruosa de Alckmin'

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Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia: “A GRANDE CRISE DO CAPITALISMO VIRÁ QUANDO CHEGAR A CATÁSTROFE AMBIENTAL”

 

 
Os pesadelos da ficção-científica virarão realidade?

A grande crise do capitalismo virá quando chegar a catástrofe ambiental. Penso que haverá desastres cada vez mais frequentes e profundos. Haverá um momento de virada na história, uma espécie de barbárie ou alguma forma de regulação global dos mercados. (…)

Não sei quando isso acontecerá, mas essa será a crise de fundo do capitalismo: destruir as condições de sua própria existência, destruindo o ambiente, modificando condições que nunca deveriam ter sido modificadas.

A previsão é de Michael Burawoy, presidente da Associação Internacional de Sociologia.

Fez-me lembrar a tese soturna de Friedrich Engels: se uma classe dominante consegue perpetuar relações de produção condenadas, que estão travando o desenvolvimento das forças produtivas, acaba ensejando o advento da barbárie.

Assim, quando a escravidão se tornou anacrônica e contraproducente, era Spartacus e seus gladiadores que encarnavam a possibilidade de, mediante sua erradicação, o Império Romano ascender a um degrau superior de civilização. Ao derrotá-los, Roma tirou de cena os únicos sujeitos históricos capazes de darem uma resposta positiva à contradição existente.

 
A estagnação ensejou a barbárie

Detida a revolução que a transformaria  por dentro, fazendo-a evoluir, sobreveio a estagnação, o enfraquecimento e, finalmente, a destruição por parte dos que vinham  de fora  e expressavam um estágio de desenvolvimento há muito superado por Roma. O relógio da História andou para trás.

Agora, podemos estar diante de uma situação semelhante. O capitalismo se torna cada vez mais pernicioso e destrutivo, porque esgotou seu papel histórico e tem sobrevida parasitária.

Desenvolveu enormemente as forças produtivas, permitindo que a humanidade finalmente ultrapassasse a barreira da necessidade; hoje estão dadas as condições para a produção de tudo aquilo de que cada habitante do planeta necessita para uma existência digna.

Mas, tendo como prioridade máxima o lucro e não o atendimento das necessidades humanas, desperdiça criminosamente tal potencial, impõe uma desnecessária e embrutecedora penúria a parcela considerável da humanidade, provoca turbulências econômicas cada vez mais frequentes, multiplica as agressões ambientais e malbarata os recursos naturais finitos dos quais depende a sobrevivência de nossa espécie.

 
Sopa dos pobres na Grande Depressão

Por enquanto, graças aos mimos que proporciona aos que participam do sistema (ao preço da exclusão de tantos outros seres humanos), à avassaladora eficiência tecnológica e à manipulação científica das consciências por parte de sua nefanda indústria cultural, tem conseguido evitar a revolução — cada vez mais necessária e premente. Até quando?

Marcuse acreditava numa resposta provinda de quem estivesse fora do sistema, não submetido à sua lógica unidimensional, que exclui alternativas e veda o espírito crítico.

É exatamente o que começa a suceder, como, aliás, está bem caracterizado nestas outras afirmações do sociólogo Burawoy:

Estive em Barcelona e vi os indignados. Agora também em Wall Street. São muito similares. Resistem a se engajar no sistema político, em levantar temas políticos…

 
Burawoy: momento de virada da História.

Todos esses movimentos refletem uma era de exclusão. (…) O centro de gravidade desses movimentos são os excluídos, os desempregados, estudantes semi-empregados, juventude desempregada, até membros precários da classe média. É um conglomerado de grupos diferentes todos vivendo um estado de precariedade porque foram excluídos da possibilidade de ter uma posição estável [dentro do sistema, pois esta se tornou] um privilégio para poucos.

…É um movimento muito fluido e flexível. (…) Há espontaneidade, flexibilidade. É fascinante. Aparecer, desaparecer. É parte de sua força e de sua fraqueza.

…os participantes são de esquerda, são radicais democratas participativos, que preferem estruturas horizontais a verticais. Protestam contra o capitalismo que enxergam ao seu redor.

Mas, esses pequenos Davis serão suficientes para derrotar o terrível Golias dos dias atuais? Provavelmente, não.

 
Catástrofes levarão seres humanos a se unirem

No entanto, a barbárie também ronda as fronteiras do império –não mais na forma de contingentes humanos, mas sim das forças de destruição que o capitalismo engendrou contra si, mas se abaterão sobre nós todos.

As catástrofes ambientais que assolarão o planeta nas próximas décadas certamente levarão os seres humanos a unirem-se na luta pela sobrevivência.

Isto para não citarmos outros pesadelos, como os terroristas islâmicos, que em tudo e por tudo lembram as invasões bárbaras, pois corporificam o retrocesso histórico, a volta a um estágio inferior da evolução da humanidade. E poderão causar imenso dano se, p. ex., voltarem seus ataques suicidas contra instalações nucleares. Em se tratando de fanáticos religiosos, tudo é possível.

O certo é que, se escaparmos da destruição total, será o momento em que os seres humanos remanescentes, obrigados a tomar seu destino nas mãos, poderão dar um novo rumo à economia e à sociedade, que vão ser obrigados a reconstruir.

Por enquanto, o futuro é uma completa incógnita –inclusive a existência ou não de um futuro para a humanidade. A única certeza: assim como na canção célebre de Neil Young, estamos saindo do azul e entrando nas trevas.

Quiçá saiamos delas regenerados.

 

 

 

CRIANÇADA ILUMINADA

 

Por Apollo Natali

Que instantâneo emocionante de uma democracia!

Meninas estudantes nas ruas de São Paulo -meninas!-, que coragem a de vocês, enfrentando de peito aberto temíveis policiais militares encarregados de desencorajarem com brutalidade sua luta pacífica pelo não fechamento de suas escolas. Do alto dos meus 80 anos nunca fui assim iluminado e proclamoque inveja dessa coragem que eu nunca tive! Confessar covardia, esta coragem eu tenho…

Gatinha, olha essa bomba de efeito moral que explodiu ao seu lado! Essa bomba de gás lacrimogênio! Esse gás de pimenta nos seus olhinhos! Você não tem medo, garotinha?

(Não tem medo não, a danadinha!)

Que inveja da coragem daqueles meninos e meninas a teimar que uma democracia não é lugar para posturas autoritárias. Que lição de democracia essa, dos pequeninos e pequeninas! São de boa estatura, alguns, mas na idade e na cabeça são estudantes crianças. A polícia já constata que foram bandidos, alguns até mascarados, que aproveitaram a oportunidade para depredar escolas e furtar bens. E tem de concordar que só em democracia se faz festas.

 
Trajetória negativa: de médico bonachão a aprendiz de ditador.

Na história de Alice no Pais das Maravilhas, a menininha enfrenta uma rainha ditatorial que esbraveja repetidamente durante toda a historinha infantil de terror sua deixa de morte: cortem-lhe a cabeça!

As menininhas e menininhos nos protestos da Avenida Paulista enfrentam um duque absolutista que, durante toda essa sua historinha adulta de terror, dá vazão à sua sanha ditatorial contra crianças, a esbravejar, espumando de ódio: reprima-se!

A rainha ordena, sem mais nem menos, que um tal gatinho, bichinho querido das crianças, seja decapitado, por pertencer à Duquesa, que ela odeia. O governador Geraldo Alckmin, com seu ódio a uma duquesa chamada democracia, põe na rua policiais militares para derrubar, algemar crianças e levá-las para a delegacia.

Crianças! Que instantâneo nauseante das sobras da última ditadura brasileira! Mais algumas lufadas de despotismo como esse e a nossa esganada democracia vai perder o fôlego de vez.

Para justificar a suspensão do seu projeto de alcance medíocre em favor da educação Alckmin se escudou nas palavras do papa Francisco que recomenda diálogo para resolver diferenças.  Para dizer o nada que disse, Alckmin fez um  solene, espetaculoso discurso de meio minuto diante de uma selva de microfones. Falou pouco, virou as costas e fugiu de perguntas dos jornalistas.

Ora, governador Geraldo Alckmin, faz tempo, faz 6 mil anos, surgiu na região onde se situa hoje o Irã, a Síria e o Iraque, o movimento para opor o diálogo à opinião única dos tiranos, movimento esse então chamado de democracia de assembleia. Não precisava esperar tanto tempo e se agarrar em Francisco para deixar sua ficha cair. [Não, a democracia não surgiu na Grécia. Lá ela se fanatizou.]

Até agora só deu PM de Alckmin em cima de estudantes que protestam na USP,  PM de Alckmin em cima de professores grevistas,  PM de Alckmin em cima de qualquer um que protesta nas ruas. Tudo bem, dá-lhe, PM! é a rotina do governo Alckmin. Mas agora, o que acontece?

Tudo bem, todos sabem que o PSDB, há 21 anos no governo, é o responsável pelo fracasso da educação em São Paulo; e também já se tornou de domínio público que os estudantes não aceitam agora a falácia de sua chamada reestruturação do ensino. No entanto, encurralado, fingindo-se de democrata, Alckmin se oferece para o diálogo com os estudantes e seus pais durante todo 2016.

Cuidado, o inimigo da Duquesa nos dá o direito de suspeitar que ele vá desferir sem dó em 2017 o golpe de misericórdia para executar ditatorialmente, sem a concordância dos alunos, seu insignificante e predador projeto de reduzir custos para a educação.

Ou antes até, passo a passo, em doses homeopáticas em meio às férias escolares, um pouco aqui, outro ali. De grão em grão a galinha acaba na panela. Alerta!

Em todo caso, quando vocês, menininhos e menininhas iluminados, e seu papais, não vislumbrarem a mínima possibilidade de salvação e a vontade absoluta de Geraldo Alckmin vencer, aí é que vocês deverão apelar para todas as suas forças, erguer a cabeça orgulhosamente e gritar bem alto, com voz possante, segura, para que o mundo inteiro os escute: socooooooooorrrrrrooo!!!

 

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