Sobre a realidade das máscaras
As máscaras se tornaram parte do nosso cotidiano. Eu pergunto: até quando? Talvez seja uma pergunta que envolva certo desespero, mas ao mesmo tempo quando pensamos em máscaras abrimos um leque enorme, pois, ao longo da história da humanidade, as máscaras foram utilizadas para fins distintos, envolvendo religiosidade, festas populares, como o Halloween, Carnaval, bem como para fins de proteção na área da saúde. São tantas as curiosidades sobre elas que procurei fazer uma pequena pesquisa a respeito da origem das máscaras e acabei descobrindo coisas que nem imaginava; talvez, coisas que estavam até ocultas em mim.
Se fosse possível dar uma volta ao mundo agora, assistiríamos várias situações, onde as máscaras estariam presentes de formas completamente diferentes. Contudo, sua necessidade hoje envolve uma proteção e, com certeza, encontraríamos este resguardo que, neste momento, é primordial.
Buscando compreender um pouco mais sobre as máscaras, encontrei fatos marcantes e citarei algumas das várias situações onde foram utilizadas. No Brasil, os nativos, em seus cerimoniais, usavam máscaras simbolizando animais, pássaros e insetos. Os gregos foram pioneiros no uso das máscaras, nas festas dionisíacas, praticadas em homenagem a Dionísio, divindade responsável pelo vinho e pelos rituais de fertilidade, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara. Ainda na Grécia, o ‘Berço do Teatro’, os artistas recorriam ao encantamento das máscaras como uma forma de proteção aos atores que incorporassem os mortos. No Antigo Egito, eles acreditavam que a colocação de uma máscara na face dos mortos ajudava na passagem para a vida eterna. Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos. Em Veneza, na Itália, temos o mais antigo documento sobre as máscaras com a data de 02 de maio de 1268 e ainda outro documento, datado de 22 de fevereiro de 1339, que proibia os mascarados de vaguearem pela noite nas ruas da cidade, mas permitido durante todo Carnaval. Na Itália, os artistas do riso transformaram-se em Arlequim, Pierrot e Colombina, personagens que conduziam o carnaval de Veneza, sendo que as máscaras tinham o poder de revelar ou ocultar sentimentos. Na necessidade do homem de se enfeitar e de se transformar, surge em Veneza, no século XV, o primeiro baile de máscaras. Hoje, o mundo está fantasiado de máscaras, porém não como uma peça de ostentação como era usada nos bailes e sim como uma salvadora de vidas, porquanto são barreiras contra uma peste cruel. São vidas ceifadas sem a chance da despedida, então ficamos com uma tristeza guardada por não poder dar o último adeus; é um pular etapas, pensamos como isso é injusto com os que vão e com os que ficam.
Nossos rostos estão escondidos, nosso semblante, tão importante na comunicação humana está atrás de uma barreira de proteção. Sinceramente não sei dizer até quando isso será suportado, sei que neste momento está sendo necessário. Nosso grande problema é como quebrar essa barreira; talvez, estamos ganhando de presente um ‘puxão de orelhas’. Estranho falar disso como um presente, mas, provavelmente, estávamos sendo aquele filho que a mãe tentou corrigir por inúmeras vezes de forma suave e ele não conseguiu compreender o que a mãe estava tentando ensinar e, assim, ela não teve escolha, foi obrigada a dar um ‘puxão de orelhas’.
Hoje, penso que podemos aprender sobre nossos egoísmos; por mais que negamos isso, eles estão presente em nós; temos sim, dentro de nós esse ‘olhar para o próprio umbigo’ e, talvez, seja isso um dos nossos grandes pecados. Perdemo-nos de nós mesmos neste lugar tão egoísta onde há uma grande disputa de poderes pelo mundo. Vivemos uma ‘grande guerra camuflada, mascarada por um vírus’, onde vidas são ceifadas e nós ainda não compreendemos o que podemos aprender com tudo isso, ou de que devemos nos desprender.
Para alguns, este momento que viemos trouxe a incorporação de novos comportamentos; para outros, mesmo com tudo isso, a ganância continua, estes não entenderam que, ‘não há poder que perdure sem a vida’. Nesta visão sobre as máscaras, neste mundo de disfarces, o puro torna-se confuso e fica difícil distinguir o banal do essencial. E quando tudo isso se for e ninguém mais tiver que usar máscaras para proteger, esconder ou abafar, talvez, teremos um verdadeiro encontro com a verdade e, quem sabe, nos veremos sozinhos, pensando em tudo que deixamos passar e encontraremos o verdadeiro sentido da vida e paremos de flutuar, colocando os pés no chão, onde estaríamos verdadeiramente, seguros e sem máscaras, pois sempre haverá um dia em que elas cairão. Eu nasci para acreditar e a esperança dentro de mim não morre, pois tento alimentá-la todos os dias.
Rejane Nascimento
rejane.d@hotmail.com
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Rejane Luzia do Nascimento Damasceno, mais conhecida como Rejane Nascimento, mineira nascida na cidade de Caratinga (MG), é Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga -UNEC, (2010). Especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC (2012) e Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro Universitário Amparense – UNIFIA (2017). Possui também a Formação em Terapia do Esquema pelo Núcleo de Estudos em Psicologia –NEPSI(2019). Iniciou sua experiência profissional como psicóloga, dentro de uma escola, em 2011, atuando por cinco anos consecutivos nesta área, desenvolvendo um importante trabalho com grupos, enfrentando o desafio da atuação da psicologia na educação. Foi nesse cenário que a autora começou seus afazeres com o escrever, produzindo metáforas e poesias como forma de intervenção. É autora do livro de poesias ‘Para Escrever… Tenho Minhas Razões. Tem participação como coautora nos livros: Além Da Palavra – Volume V, Caratinga 170 anos: Múltiplos Olhares e na obra Rabiscos Confinados, promovida pelo cartunista Edra Amorim. É Acadêmica Correspondente da FEBACLA – Federação Brasileira das Ciências, Letras e Artes.