Vaso de esquecimento
Boa parte da minha vida, vivi um tanto de situações que até então não tivera parado para refletir sobre o sentido que elas faziam para mim e, aí fui passando por entraves, sem ao menos tentar compreender ou examiná-los cuidadosamente, como fazem, digamos assim, as pessoas sensatas.
O que quisera na verdade, era ignorá-las ou evitar enxergá-las, porque o inverso não me seria cômodo, me causaria uma série, ou até mesmo uma boa dose de inquietação e desconforto.
Aí o tempo foi passando. Fui procurando aproveitar ao máximo as coisas que me traziam alegria e satisfação e, o resto colocava no vaso de esquecimento.
Fui tocando meu barco pra frente, achando que tudo estava em perfeita harmonia, engano, as situações por mim ignoradas, estavam todas lá, no vaso de esquecimento. Não me dei conta de que no fundo do vaso, havia areia boa e, consequentemente as situações lá plantadas cresciam e se transformavam em pé de espinhos, e que hoje as colho sangrando, obviamente.
Se tivesse prestado atenção a elas, (as situações) não as teria plantado, embora que inconscientemente. As plantei e, hoje pago um bom preço por isto, preço este, por ter me deixado levar à inconsequente ilusão, esta que nos mostra um bem-estar enganador.
Vejo que temos obrigação de examinar cada situação a qual possamos estar envolvidos, tirar o máximo de proveito das lições que elas nos apresentam, do contrário, estamos sujeitos a sofrer um tanto de consequências desagradáveis, como as decepções causadas pelas verdades que não queremos enxergar e/ou pelas ilusões que em determinados momentos da vida nos são apresentadas como in(verdades).
Saber conviver com situações difíceis é uma arte; elas são degraus para a elevação e desenvolvimento espiritual, elas nos apontam o caminho certo para o acerto, nos amadurece, nos prepara para uma vida em equilíbrio(dentro do entendimento), pode nos levar à serenidade e a compreensão.
Se as colocamos no vaso do esquecimento, no vaso do esquecimento estaremos, nos transformando em pés de espinhos, dando frutos de espinhos, não desmerecendo os espinhos, na verdade os espinhos nos indicam os perigos, sobretudo, nos mostram a capacidade que temos de nos ferir e ferir o outro, serve-nos também como alerta. O espinho é um paradoxo, diga-se de passagem.
Saber conviver com situações difíceis é sobretudo, ser mestre de si mesmo; é como retirar as traças do armário, limpar o interior da nossa casa, fazer uma faxina completa, sem ter que jogar o lixo pra debaixo do tapete, ou ter que plantar determinadas situações no vaso do esquecimento, achando assim que estamos tapando o sol com a peneira e, que assim seremos felizes.
Ser feliz na verdade é saber lidar com as situações difíceis, sabendo direcioná-las no sentido certo e, aproveitar seus ensinamentos, é não ignorar esta aprendizagem, embarcando numa ilusão, achando que os pássaros pousam todos os dias à nossa janela, afinal de contas, eles tem mais o que fazer, como construírem os seus próprios ninhos, por exemplo.
Vivamos a vida com sabedoria, vigiando sempre, não deixando o tesouro do entendimento fugir à nossa compreensão.
Leila Alves
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros, Editor-Geral do Jornal Cultural ROL e um dos editores do Internet Jornal. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA. Membro Fundador das seguintes entidades: Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA; Academia Hispano-Brasileña de Ciências, Letras e Artes – AHBLA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALLA e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 7 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Dr. h. c. em Literatura, Dr. h.c. em Comunicação Social, Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro e Honorável Mestre da Literatura Brasileira; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia e Associação Literária de Tarrafal de Santiago, Embaixador Cultural | Brasil África – Adido Cultural Internacional