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Artigo de Marcelo Paiva Pereira: 'Arquitetura moderna: a modernidade do tempo'

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘ARQUITETURA MODERNA: A MODERNIDADE DO TEMPO’

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A arquitetura moderna surgiu das transformações do pensamento artístico, tecnológico e científico, cujas fontes remotas são do período do Neoclassicismo, e próximas do início do século XX, configurando-a com as características que a instruíram. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, o percurso efetuado.

Do Neoclassicismo em oposição ao Renascimento

O Neoclassicismo foi um movimento artístico (e historicista) que surgiu no século XVIII fundamentado na teoria do Iluminismo e junto à descoberta dos novos materiais concreto e aço, com a finalidade de combater o princípio da autoridade, que não acolhia o método científico e legitimava a representação (cópia, reprodução) dos objetos.

Aludido movimento se opôs à intensa religiosidade da estética dos movimentos anteriores (Renascimento, Maneirismo e Barroco), dos quais o mais influente foi o Renascimento, que se fundamentava na teoria do Humanismo, pela qual o ser humano é a medida de todas as coisas, mas subserviente ao Criador (Deus fez o homem à sua imagem e semelhança).

No Renascimento acolheu-se as relações de proporção da harmonia musical de intervalos consonantes, de Pitágoras. Era um sistema matemático de intervalos proporcionais, que justificavam a harmonia universal, inclusive a alma humana. Eram:

  1. Oitava: relação de 1:2;
  2. Quinta: relação de 2:3;
  3. Quarta: relação de 3:4.

Alberti, no século XV, acolheu esse sistema, constituído dos números fundamentais definidos por Platão (1:2:4:8 e 1:3:9:27). No século XVI, Palladio criou o sistema harmônico de intervalos dissonantes, os quais não se restringiam à sequência dos números fundamentais.

Ambos os sistemas harmônicos – de intervalos consonantes e dissonantes – eram modelos apriorísticos, estáticos e externos às artes, porque fixavam regras pré-concebidas, imutáveis e oriundas da força divina, as quais eram utilizadas pelos artistas para mensurarem os objetos em conformidade com as proporções (das almas) humanas. Como resultado, as partes se uniam e formavam o todo, dele se tornando inseparáveis (assim como as almas pertencem a Deus).

O Neoclassicismo combateu e abandonou esses dogmas, acolhendo novos entendimentos para justificar suas obras, como seguem:

  1. Eliminou os modelos apriorísticos e conferiu autonomia às artes, permitindo conceber os edifícios e outras obras com princípios próprios das disciplinas;
  2. A natureza deixou de ser copiada (ou reproduzida) para ser examinada com critérios técnicos das disciplinas e dela extrair suas elementares;
  3. Em seguida, criou os tipos, formas a posteriori definidos por elementares, que se modificavam no tempo e no espaço;
  4. O projeto de cada edifício passou a ser composto pelos tipos e ter destinação própria, definida pela tipologia a ele conferido.

Com esse arcabouço principiológico, a proporção deixou de ser fixada pela matemática da harmonia universal e passou a sê-la pela sensibilidade individual do artista; as partes componentes se tornaram independentes e permitiram manipular a composição entre elas; a independência e a manipulação permitiram atribuir a cada obra o caráter e a monumentalidade (destinação); a arquitetura ganhou autonomia; a ornamentação, valiosa no Renascimento (também no Maneirismo e no Barroco), tornou-se equipamento acessório, decorativo.

Para desenhar os edifícios, porém, utilizava-se de dois eixos perpendiculares de simetria e dividia-se o edifício – preferencialmente – em quatro partes iguais e os espaços eram hierarquizados. No Neoclassicismo ainda havia muita rigidez (estética) compositiva.

O princípio compositivo – independência das partes – foi inaugurado pelos franceses Etiénne-Louis Boullée (1728-1799) e Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806) e sistematizado por Jean-Nicolas-Louis Durand, que foi aluno de Boullée (este priorizou os aspectos estéticos).

Durand quebrou a rigidez compositiva do Neoclassicismo para fazer uso de outro método, formado por um eixo principal cortado por diversos outros, perpendiculares a ele, e organizou os edifícios com simetria bilateral mais flexível. A ele o edifício era mais do que a composição das partes; era um conjunto de partes articuladas entre si (não se submetiam à rigidez compositiva, mas ainda se submetiam à hierarquia).

A ele a adequação e a estética do edifício resultavam – eram consequências – da correta aplicação dos princípios econômicos e funcionais ao projeto de cada edifício e priorizou os aspectos utilitários do edifício. Sua concepção estética ainda era acadêmica, mas como resultado.

O método de projeto de Durand fez uso de princípios analíticos, com os quais atribuiu utilidade aos espaços; este método não determinava – a priori – o aspecto final da composição. As lições de arquitetura de Durand, lecionadas na École Polytechnique de Paris, foram publicadas em 1801 e 1805, aperfeiçoadas em 1821 e difundidas por todo o século XIX e pelo início do século XX.

Posteriormente, ao final do século XIX, o professor Julien Guadet, da École de Beaux-Arts de Paris, foi o elo entre o método de Durand e o sistema compositivo empregado no século XX. Assim como Durand, Guadet dedicou-se ao exame da composição do edifício, que para ele era o modo de organizar espacialmente os elementos funcionais e estruturais, os quais estariam previamente estabelecidos pelas características dos materiais e pela análise do programa.

Guadet eliminou os eixos de referência que Durand usava para projetar e deixou de ser hierarquizado. Sua teoria vinculava-se à estética acadêmica, porém, como resultado, efeito. Ele fez a transição para a Arquitetura Moderna.

Da Arquitetura Moderna e Le Corbusier

A Arquitetura Moderna tem sua gênese técnica oriunda dos estudos do neoclassicista Julien Guadet, mas sua gênese etimológica encontra-se nas palavras gregas “arkhein” (primazia, superioridade ou preferência) e “tektonikos” (construtor ou carpinteiro) e na palavra latina “modernus” (modo + hodiernus), das quais se extraiu a gênese conceitual.

No período medieval o latim daquela época cunhou a palavra “modernus” (modo + hodiernus) com o significado de presente ou corrente. No século XVII a palavra “moderno” adquiriu o significado “novo” em oposição a “antigo” e, no século XIX passou a significar momentâneo, transitório.  Ao longo dos séculos a palavra “moderno” adquiriu o significado de tempo atual, do momento presente, em alusão à contemporaneidade da própria existência.

Derivada de moderno, a palavra “modernidade” indica as qualidades específicas do tempo presente que o distinguem do passado. São: novo, corrente, momentâneo e atual.

A palavra “modernismo” surgiu em meados do século XIX para identificar o pensamento, ideia, teoria, corrente ou movimento literário, artístico e técnico que aflorava. Visava abarcar os novos princípios e atuais propostas, do momento presente, em oposição a tudo o quanto fosse antigo.

A arquitetura moderna é a obra primaz atual, contemporânea, e os princípios que a informam conferem autonomia. Eliminou as proporções matemáticas, os eixos de referência, a hierarquia dos ambientes, a estética acadêmica e o historicismo.

Ela surgiu com o propósito de criar estilos novos, sem resgatá-los do passado. A ideia que se exteriorizava era criar obras inéditas, sem lastro com o passado, num processo criativo sempre presente, atual e contemporâneo. Tornou-se dominante no cenário das artes e das construções no início do século XX, após afastar os movimentos historicistas contra os quais concorria.

Os movimentos (ou correntes) historicistas surgiram no século XVIII e visavam resgatar e recriar a arquitetura dos tempos passados, acrescida das técnicas modernas de construção (aço e concreto). Foram historicistas (ou revivalistas) o Neoclassicismo, o Neogótico, o Ecletismo e o “Art Nouveau”.

Le Corbusier (1887-1965), apelido de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, é considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, junto a Frank Lloyd Wright, Ludwig Mies van der Rohe, Alvar Aalto e Oscar Niemeyer. A importância dada a ele está no enorme poder de síntese em abstrair a essência das obras visitadas e na influência doutrinária à Arquitetura Moderna.

Ele veio ao mundo por ocasião da Segunda Revolução Industrial (ocorrida na Alemanha ao final do século XIX) e conheceu a importância da indústria para a realização do conforto às pessoas na medida da condição econômica de cada, e também as transformações e as inovações tecnológicas do período, como são exemplos a invenção do automóvel de combustão interna, o telégrafo, o telefone, a lâmpada elétrica, o rádio, o avião, a televisão e a produção de veículos em série iniciada por Henry Ford.

Em muitas foram as contribuições de Le Corbusier para a formação doutrinária (teórica e principiológica) da Arquitetura Moderna, das quais três se destacam: a Casa Dominó, os Cinco Pontos da Arquitetura Moderna e o Modulor.

No período de 1914 a 1917 ele desenvolveu a Casa Dominó (ou “Dom-ino House”), sistema construtivo constituído de lajes planas, pilares e fundações em concreto armado com vistas a permear os edifícios de elementos formais, que abaixo seguem:

  1. Elementos formais abstratos: padronização (ou universalidade), redução de custos, rapidez, rigor técnico e precisão na construção;
  2. Elementos formais concretos: plantas e fachadas livres, uso de pilotis, pisos em balanço, etc;

No ano de 1926 foi publicada a síntese dos estudos que fez no início da carreira sobre as elementares que deveriam instruir a arquitetura de vanguarda – a arquitetura moderna – e o resultado foi os cinco pontos que abaixo seguem:

  1. Pilotis: colunas de sustentação do edifício recuadas das bordas, permitem no espaço urbano outra perspectiva entre o observador e o morador, também oferecem a oportunidade de redesenhar o espaço urbano, integrando os edifícios por outro enfoque urbanístico;
  2. Terraço-jardim (ou teto-jardim): espaço de lazer sobre a laje do último pavimento, simboliza a conquista da tecnologia industrial, capacitada a suportar as intempéries climáticas (chuva, neve e umidade);
  3. Planta livre: permite a elaboração de espaços divididos por paredes sem função estrutural, diminuindo custos e emprego de materiais;
  4. Fachada livre: a ausência de obstáculos permite o desenho de fachadas desimpedidas, com projetos flexíveis de aberturas para as janelas;
  5. Janela em fita: desenhada de um ponto a outro da fachada, orientada pela melhor orientação solar à iluminação dos ambientes do edifício.

Ao tempo da Segunda Guerra Mundial ele criou o Modulor, sistema de medidas baseada no módulo (unidade de medida) e na seção áurea, em que a divisão de uma reta deve ser efetuada de modo a ser a mesma razão entre o segmento menor para o maior e o segmento maior para o todo.

O Modulor está fundado da proporção áurea, com a qual fez duas séries de medidas, quais sejam a azul (composta de dois quadrados de 1,10 m de aresta cada) e a vermelha (um só quadrado, cuja aresta – 1,10 m – atinge o umbigo da pessoa). Delas se desdobraram medidas proporcionais, de 27 a 226 cm, distribuídas em degraus de 16 e 27 cm.

O Modulor nunca foi produzido industrialmente nem aceito comercialmente. Foi alvo de várias críticas, dentre elas as de Ernst Neufert. Serviu, entretanto, para estudos doutrinários e desenvolver as ideias de proporção, simetria (ou comodulação), harmonia e euritmia (ritmo equilibrado).

O modelo da casa Dominó e os cinco pontos da arquitetura moderna, entretanto, preponderaram nas suas obras. Seu projeto mais significativo, da Villa Savoye, localizada na cidade francesa de Poissy-sur-Seine, reproduziu-os inteiramente, expondo a funcionalidade dos espaços, fundada nas necessidades das pessoas.

A funcionalidade – realizada nas obras de Le Corbusier – não é exclusiva dele. Foi consolidada na frase “A forma segue a função”, de Louis Sullivan (1856-1924), arquiteto americano, pai dos edifícios “arranha-céus” de Chicago, E.U.A., que por primeiro defendeu essa ideia ainda na segunda metade do século XIX. Sua célebre frase foi acolhida pelos arquitetos e movimentos modernistas, dos quais Le Corbusier a e BAUHAUS eram dois deles.

A diferença entre Le Corbusier e Louis Sullivan está na aplicação da mencionada frase na elaboração dos projetos: enquanto para o autor da frase a arquitetura deveria ser orgânica (como efeito da função ou funcionalidade), para Le Corbusier deveria ser geométrica, sem contornos recortados ou detalhados (ele acolhia a arte ou movimento purista no desenho arquitetônico, em que as formas tinham contorno geométrico proporcional e todos os adornos e excessos deviam ser eliminados).

A BAUHAUS, escola de artes e ofícios criada por Walter Gropius em 1919 na cidade alemã de Weimar, também acolheu a frase “A forma segue a função” para justificar a oposição à ornamentação, por vezes exagerada, dos movimentos artísticos contra os quais ainda concorria – o “Art Nouveau” e o Ecletismo.

Na esteira da funcionalidade da célebre frase, Le Corbusier criou a frase “Máquina de Morar” em alusão à forma dada a cada elemento segue a função a que se destina. A ele a casa era uma máquina de morar porque a função de habitar – suprir necessidades – definia a forma de cada elemento (mobiliário e equipamentos domésticos, por exemplo).

Ao lado da funcionalidade, Le Corbusier também acolheu a ideia de monumentalidade às suas obras, tanto para os edifícios habitacionais quanto aos institucionais. Ele, entretanto, não a entendeu como causa determinante (suntuosidade memorial), mas como efeito ou resultado do projeto. São exemplos os projetos em grande escala de edifícios habitacionais sob autoestradas para a cidade do Rio de Janeiro (1929) e para a cidade de Algiers (1933). A realização dessa monumentalidade ocorreu com a construção do capitólio de Chandigard (1951) capital do novo Estado indiano do Punjab e, posteriormente, a “Unité d’habitation” de Marselha (1952), na França.

Em razão das teorias, princípios e projetos de Le Corbusier e de outros arquitetos e escolas de arquitetura, a Arquitetura Moderna adquiriu arcabouço doutrinário (teórico e principiológico) que a ela conferiu autonomia.

DA CONCLUSÃO

A Arquitetura Moderna tem origem remota no Neoclassicismo do século XVIII (ao tempo do Iluminismo) e origem próxima nas doutrinas de Le Corbusier e outros arquitetos contemporâneos a ele, no início do século XX.

Caracterizou-se a Arquitetura Moderna por ser autônoma, ter princípios próprios, ser contemporânea, visar à funcionalidade dos espaços e mobiliários, ter liberdade de criação, estética purista, monumentalidade e representação.

Distingue-se dos movimentos anteriores porque não se prende ao passado como fonte – ou causa determinante – dos projetos, não tem interesse de resgatar o passado para atualizá-lo com os modernos materiais de construção. A Arquitetura Moderna não é historicista; ela é contemporânea, por estar sempre pensando nos projetos do tempo presente.

A tipologia adotada também difere da existente no Neoclassicismo, porque enquanto no movimento mais antigo ela não se destinava à funcionalidade, no movimento moderno ela se destina à funcionalidade (do projeto).

Também se distingue dos movimentos anteriores em relação ao purismo, funcionalidade, monumentalidade e representação, pelos motivos que abaixo seguem:

  1. Em relação à estética purista (ou purismo), tem causa na racionalidade do projeto (precisão, simplicidade e harmonia proporcional ao desenho ou ao objeto) com vistas à funcionalidade do projeto, e não ao caráter dele;
  2. Em relação à funcionalidade, esta tem causa nas necessidades humanas, e não na destinação (caráter) dada ao projeto ou ao edifício;
  3. Em relação à monumentalidade, esta é efeito, resultado do projeto, que adquire a dimensão dos espaços destinados às necessidades humanas e na medida do projeto final; ela existe a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo);
  4. Em relação à representação, esta representa a industrialização dos materiais utilizados na construção dos edifícios, mas como efeito ou resultado do projeto, e não como causa determinante; a representação surge a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo).

Comparativamente, enquanto os valores pré-estabelecidos no Renascimento eram a ordem natural e divina e no Neoclassicismo (ou Iluminismo) eram a ordem racional e tipológica, no Modernismo (ou Arquitetura Moderna) são a ordem racional e funcional.

Finalmente, a Arquitetura Moderna é a modernidade do tempo porque ela é contemporânea do momento em que cada projeto é desenhado e realizado, e se prolonga no tempo pelo tempo com que se atualiza. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira.

(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)

 

FONTES DE PESQUISA

  1. OBRAS:

AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. 4. Ed. Rio de Janeiro: Delta, 1958. 5 v.

 

  1. SITES:

 

 

Helio Rubens
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