Impiedosa realidade
Em meu peito, por vezes, brotam gritos chorosos. As enxurradas de cobranças exteriores tornaram-me deveras exigente comigo mesma e isso transformou o âmago anteriormente florido num vão absurdamente oprimido. Encaro a janela entreaberta e vislumbro os tímidos raios solares adentrarem vagarosamente o recinto e, ébrios de uma repentina ousadia, beijam os meus pés, roubando a lividez costumeira ao deixá-los ruborizados. Eu enxergo a poesia das eras naquilo e deixo-me ser envolvida pela calidez que embebe o meu ser em sapiência.
Abruptamente, eu sou acometida por náuseas que me conduzem ao banheiro numa rapidez inumana. Sentindo minhas vísceras se contorcerem, ancoro-me na pia gélida e fito o reflexo no espelho que me encara de volta, afrontoso. Eu preciso desviar o olhar daqueles olhos, mas não; há uma força superior que me mantém imóvel, segurando-me com mãos invisíveis. Os lábios fartos riem para mim, sussurrando: “Aproxime-se, por favor, não tema a verdade”. No instante seguinte, sinto-me liberta do aperto voraz e, assombrada, achego-me hesitante, trêmula e, ao mesmo tempo, extasiada.
— Há tantas de nós enfrentando uma peleja diária que sequer posso contabilizar a quantidade exata — a mulher de olhos tristonhos contorna o meu rosto com seu dedo indicador pálido.
— Eu apenas… — tento verbalizar o que me vem à mente e acabo estagnando por receio de falar tolices.
— É um grande erro privar-se de cometer erros, sabia? Desde os primórdios da existência, a nossa classe tem sido inferiorizada por temer o poder que detemos em nossa singularidade. Nossos nêmesis feriram-nos física e emocionalmente durante tanto tempo, que a dor andarilhou os séculos e reverbera em nossos corações até hoje. Se relaxarmos e nos pusermos tão somente a observar o fascismo e a sofrida ignorância trabalharem, não demorará muito para que voltemos a ser lançadas à fogueira.
Agredida pela impiedosa realidade, fecho os olhos e estremeço de satisfação. A força está comigo novamente.
Jeane Tertuliano
jeanetertuliano@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros, Editor-Geral do Jornal Cultural ROL e um dos editores do Internet Jornal. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA. Membro Fundador das seguintes entidades: Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA; Academia Hispano-Brasileña de Ciências, Letras e Artes – AHBLA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALLA e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 7 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Dr. h. c. em Literatura, Dr. h.c. em Comunicação Social, Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro e Honorável Mestre da Literatura Brasileira; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia e Associação Literária de Tarrafal de Santiago, Embaixador Cultural | Brasil África – Adido Cultural Internacional