A realidade social dos alunos da educação pública
Ao lidarmos com a educação pública em nosso país encontramos em nossas escolas um número infinito de alunos que vivem em situação de vulnerabilidade sócio econômica, este é um retrato da realidade existente no Brasil. Segundo dados do IBGE (2019) o Brasil possui quase 52 milhões de pessoas que vivem na pobreza, situação que faz com que estas pessoas necessitem de maior amparo das políticas públicas, principalmente no que diz respeito à educação, pois este é um mecanismo de transformação social.
As condições sociais pelas quais muitos alunos vivem no seu cotidiano podem interferir no seu rendimento escolar. Um aluno que não tem o que comer em casa, por exemplo, pode não conseguir concentrar-se bem na escola durante a realização de atividades; um aluno que não tem saneamento básico ou água encanada em sua comunidade, pode sofrer os efeitos disso na escola, pois poderá chegar no colégio sem o asseio devido ou mesmo com o fardamento escolar sem a devida higienização, o que pode levar este aluno a ser motivo de chacota por seus colegas e sofrer bullying; um aluno que não tem recursos disponíveis para aquisição de material escolar, muitas vezes chega na escola apenas com um “caderno surrado” que sobrou do ano passado, que fora doado a ele por algum professor, também poderá ser motivo de exclusão por parte de alguns colegas que não o incluem nas rodas de amigos, durante o intervalo, situações como essas são comuns em escolas públicas em nosso país. Muitos problemas relacionados ao insucesso escolar de alguns alunos se devem a situações como essas. Gentili(2005, p.11) afirma:
A maneira como a escola trata a pobreza constitui uma avaliação importante do êxito de um sistema educacional. Crianças vindas de famílias pobres são, em geral, as que têm menos êxito, se avaliadas através dos procedimentos convencionais de medida e as mais difíceis de serem ensinadas através dos métodos tradicionais. Elas são as que têm menos poder na escola, são as menos capazes de fazer valer suas reivindicações ou de insistir para que suas necessidades sejam satisfeitas, mas são, por outro lado, as que mais dependem da escola para obter sua educação.
Portanto, a forma como lidamos com a pobreza no ambiente escolar pode interferir nos rendimentos dos alunos, pois podemos contribuir para acabar com as discriminações que fazem com que muitos alunos fiquem desmotivados ou mesmo com vergonha de sua condição social e muitas vezes se isolam, o que pode gerar outros problemas.
Como educador, que trabalha há uma década na educação pública, já vi essas e outras situações acontecerem no ambiente escolar, não são apenas suposições, mas fatos que retratam a realidade encontrada nas escolas públicas de educação básica em nosso país. Muitas destas crianças perdem a autoestima e o desejo de permanecerem na escola porque são discriminados por colegas de classe e até mesmo por profissionais da educação que, infelizmente, são indiferentes à realidade social daquele aluno. Por estar mais perto do aluno, o professor, tem maior condições de ser um agente de transformação e motivação dos alunos para que possam superar muitas barreiras e consigam vencer na vida. Não estou, com isso, afirmando que todo aluno em situação de pobreza não terá êxito na escola, mas que fatores sociais podem contribuir para o baixo rendimento escolar.
Aqueles que almejam trabalhar na educação pública em nosso país, precisam nutrir sentimento de compaixão e empatia para com todos os alunos de modo que eles se sintam pertencentes a uma mesma tribo, e assim consigam superar seus desafios com experiências mútuas. É preciso conhecermos a realidade social dos alunos antes de julgarmos sobre a não realização das tarefas escolares, sobre o porquê do baixo rendimento daquele aluno, sobre a ausência rotineira de um determinado aluno, sobre o não uso de um fardamento total por parte de um aluno. São questões que fazem com que muitos alunos até desistam no meio do caminho, por não terem apoio ou quem pudesse dar uma oportunidade para eles.
Aos que desejam ingressar na educação pública, ou nela já se encontram, que não vejam tal situação apenas como usuário fonte de renda própria, mas que vejam a oportunidade de transformação social de vidas, por meio de seus dons, talentos e habilidades.
REFERÊNCIAS
GENTILI, P. Educar na esperança em tempos de desencanto / Pablo Gentili, Chico Alencar. – 7. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007
- Feliz dia dos professores! - 15 de outubro de 2024
- Mulher - 8 de março de 2024
- Educação não é brincadeira, mas brincadeira faz parte da educação - 2 de junho de 2023
Natural de Pedreiras (MA), é servidor público e professor da educação básica e superior. Sua formação acadêmica e área de atuação profissional é ampla: graduado em Letras, bacharel em Teologia, Capelão Cristão, graduando em Pedagogia, Especialista em Língua Portuguesa, com ênfase em Gramática e Literatura; Especialista em Dependência Química; Especialista em Gestão e Governança em Ministério Público e especialista em Educação Especial Inclusiva; Mestre em Ciências da Educação. Publicação de artigo na Revista Brasileira de Educação Básica, Ed. 19 e na Revista Juris Itinera, Ed. 25. É membro do colegiado do programa de Pós-Graduação da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão. Membro da Organização Mundial para Educação Pré-Escolar e membro do conselho municipal de Alimentação Escolar do município de Pedreiras/MA. Na área literária, é escritor e poeta, com 3 livros publicados, coautor em diversas antologias nacionais e internacional, membro das Academias: Pedreirense de Letras; Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil e Academia Intercontinental de Artistas e Poetas, colunista do blog do Joaquim Filho poeta e articulista do Jornal Pensar a Educação em Pauta da UFMG.