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Andreia Caires: 'Borboletas na barriga'

Andreia Caires

Borboletas na barriga

Passei as mão nos cabelos e senti os fios desidratados e opacos! Fui a um salão que ouvia falar muito na loja que eu trabalhava e parecia estar vazio apesar de ser um horário de bastante movimentação.

Nunca fui do tipo ‘frequentadora assídua de salões de beleza’ acho que porque sempre me cansou o falatório e o barulhão dos secadores. Mas o choque que eu estava vivendo me empurrava a fazer coisas no impulso mesmo e me deu a louca naquele momento. Uma espécie de fuga, sei lá, mas decidi mudar radicalmente a cor e fazer uma hidratação.

E lá fui eu, enfrentando as mesmas conversas de salão com manicures tagarelas que falavam sem pausa para respirar. Como conseguiam? Nem o fato de ficarem abaixadas e corcundas lhes impediam de falar sem parar. Pareciam ter pulmões de aço!

Mas eu enfrentaria tudo aquilo para, enfim, fazer as luzes. Ele sempre pedira que eu as fizesse e também a hidratação. Encarei assim, aqueles papelotes de alumínio e o cheiro de produtos que atacavam em cheio minha rinite. Enquanto a cabeleireira comentava o capítulo da novela.

Depois, ela me esqueceu na cadeira. Aliás, elas sempre fazem isso. Esquecem as clientes na cadeira e vão almoçar, tomar café até dar tempo para o produto agir. Senti o cabelo esquentar mais do que o normal e, preocupei-me.

– Não acredito que ela me esqueceu aqui! Mas que vida, que inferno! Até aqui sou traída? Será que estes papelotes não estão pegando fogo, pelo tempo?

Depois, a cabeleireira veio rápido e mastigando alguma coisa, disse:

– Acho que já deu o tempo. Vamos lavar?

Tem gente que ama passar horas com produtos, cremes e óleo na cabeça. Eu não, e quando decido fazer o procedimento, não vejo a hora de terminar. Quando ela me disse ‘vamos lavar’ quase chorei de emoção. Tiraria aquele alumínio todo, enfim. Pena que era naquele desastre de lavatório. Realmente, ficar bonita não era fácil.  Os homens desejam uma mulher bonita, com cabelos, unhas impecáveis, mas, não fazem a menor ideia do trabalho que dá tudo isso! E lá estava eu, encaixando o pescoço naquela meia-lua, toda torta, escutando a cabeleireira impaciente me dizer:

– Mais pra cima, mais pra baixo; sobe mais na cadeira, querida!

Não sei como minhas colegas de trabalho amavam aquilo. A cabeleireira puxava meu cabelo para um lado, depois puxava para o outro;  eu tinha que segurar-me muito bem na cadeira ou voaria longe, sem contar que ela usava suas unhas enormes e afiadas, fazendo massagens no meu couro cabeludo com tanta força, que saiam lágrimas dos meus olhos. Era uma verdadeira ‘tortura chinesa’.

Depois de seco o cabelo… “Noooooossaaaa, que lindo! Fulana, vem ver o cabelo dela!”.

Daí, ao invés de uma, várias se juntaram em minha volta na cadeira, constrangendo-me, olhando-me, como se eu fosse o ‘ET de Varginha’.

– Não falei, que as luzes iriam realçar seus olhos claros?

– Vai fazer as unhas também, querida? Já viu esse esmalte azul com glitter? Tua cara!

– Conselho: queratina e muita hidratação nesse cabelo, hein? As luzes ressecam que é uma beleza!

De cabelos lindos, louros, brilhosos e ainda ouvindo ecos no meu ouvido dos gritos da cabeleireira e da manicure, fui pra casa; mas o coração não deixava eu esquecer que estava aos frangalhos…

 

Andreia Caires

andreiacairesrodrigues@gmail.com

 

 

Sergio Diniz da Costa
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