Amar num século de friezas
Nunca saberemos o dia de nossa morte. Há quem acredite em várias vidas – como eu acredito – e há quem não tenha fé alguma; algo digno, pois somos seres ecléticos e únicos num país laico. Entretanto, por vezes me sinto uma poetisa estranha num planeta meu. Amo demais a cada instante, dedico meus sentimentos de forma ultrarromântica sem pensar duas vezes! Ao mesmo tempo, caso precise sofrer, sofro como nunca – e continuo a amar, mesmo que outro alguém.
Sou poeta que pensa e sente; pensa e sente, mas teme sentir mais que pensar. Estamos num século imaturo, incontrolável! Os jovens – e eu também sou jovem – não querem saber do amor verdadeiro. Não anseiam procurar um(a) parceiro(a) que o façam tremer a voz, perceber a maciez do cotidiano, amar sem sofrimento ou pequenas noites vazias. Por que tais noites vazias, meu Deus? Eu quero dias e madrugadas repletas de carinho, afeto, algo que vai além da intimidade que a carne proporciona. Qual seria o sentido da carne pela carne? Eu não consigo, infelizmente ou felizmente, compreender.
Baladas, noitadas, beijos sem sentimento. Essa seria a nova era? Espero que não. Ainda acredito no meu conto de fadas – mesmo que realista – e num beijo que troca energias de almas que se querem verdadeiramente. A minha alma é um ser que deseja, sim, mas que coloca a inocência de mãos dadas em primeiro lugar. Depois que você sente orgasmos apenas com o toque das mãos e a ternura de olhares, bem, aí está na hora de ir além. O sexo pode ser satisfatório, mas o sexo com amor é o que faz a vida valer a pena.
Eu me sinto estranha. Já fui solitária. Já fui sozinha. Já fui solitária acompanhada e achava que sabia o significado de amar. Hoje amo como nunca – às vezes temo tanto amor – e persisto na minha opinião. Dói amar? Não. Já pensei isso. Hoje, momento em que estou amando como uma jovem que dispensa noites vazias – percebo que o amor não nasceu para contracenar com a dor. Os palcos que doem não podem almejar ternuras, pois os atores se cansam após meia hora de espetáculo com platéias ridículas. E a dor, por vezes, está maquiada de pura afeição. Eu necessito amar de forma leve – forte sim – mas levemente pura.
A tristeza é minha. Eu estou triste por parecer a última romântica da Terra. Eu estou assustada e com medo de assustar quem mais amo, medo de me entregar. Mas oras, quem precisa temer a entrega?
Sou a coragem deste século. E quero amar.
Letícia Mariana
leticiamariana2017@gmail.com
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Letícia Mariana é escritora com 5 livros publicados, palestrante, criadora de conteúdo, estudante e jornalista em formação. Diagnosticada com autismo nível 1 de suporte e ativista na causa autista. Já debateu em rádios cariocas e participou de encontros virtuais internacionais.