Celso Lungaretti: EDUARDO RODRIGUES VIANNA: O QUE MUDOU NO BRASIL FOI ISTO: ACABOU A CONCILIAÇÃO DE CLASSES
Os governos de Lula corresponderam a um momento da história do neoliberalismo no Brasil em que foi possível a conciliação entre as classes sociais: um período de prosperidade econômica, que provia crédito e benefícios aos trabalhadores, assim como dividendos astronômicos aos banqueiros, de uma maneira bastante funcional, com todo o mundo ficando satisfeito.
A economia do País parecia extremamente sólida, mas isto não passava de ilusão, como todos agora sabemos.
Com a crise internacional (queda dos preços de matérias primas), associada à deficiência produtiva que um país subdesenvolvido como o Brasil tem e terá durante muito tempo ainda, a conciliação entre as classes sociais deixou de ser viável; então, a burguesia financeira reconstitui o poder executivo da República, que jamais deixou de pertencer a ela, de um jeito ou de outro.
Em outras palavras, no ano de 2002 a burguesia financeira permitiu que o PT gerenciasse os seus negócios, com lucros para ela própria e com benefícios para os despossuídos, num momento favorável do ponto de vista econômico, viabilizado em grande parte pelo comércio internacional.
Os banqueiros enriqueceram como nunca dantes neste país, até que as vacas emagreceram e a fonte secou; chegara a crise.
Então a burguesia financeira pegou a bola (que era sua) e o jogo da conciliação de classes acabou. Quem jogou, jogou. Para quem não jogou, resta aquela ridícula Doutrina Temer: “Não fale em crise; trabalhe!”
Por estes tão essenciais motivos, e por outros além destes, devemos assumir que o que houve por aqui, com a substituição de Dilma por Temer, não foi um golpe de estado, mas tão somente um ajuste, um dos muitos ajustes neoliberais, para que o sistema propriamente dito (incluído o seu aspecto político, é claro) não sofresse nenhuma alteração significativa, nem mesmo um arranhão.
Tal empreitada conta, como seria de esperar-se, com os préstimos do medíocre Temer e sua incomparável trupe de ministros. O neoliberalismo, todos sabemos, é feito de ajustes, efetuados sempre que há necessidade de adequação a novas condições econômicas, administrativas, geopolíticas, etc.
O PT compreendeu desde cedo as regras do jogo político da burguesia, nesta democracia de barganhas e enganações; e a elas aderiu como coadjuvante solícito, chegando ao ponto de gerir os interesses daqueles que conduzem o poder financeiro, certamente o maior e mais pesado poder que se tem visto.
De 2002 em diante, é como se os banqueiros tivessem dito: “Vocês, petistas, podem exercer a presidência, mas a vice-presidência será sempre nossa, sempre de direita”, como um dispositivo de segurança à disposição dos reais donos do País.
Uma olhada nos vice-presidentes de Lula e Dilma confirmará isto. Homens de direita, mas não muito —o suficiente para restabelecerem a normalidade caso o velho PT tentasse extravagâncias como reforma agrária, reforma urbana, revitalização educacional, essas coisas de comunista…
Portanto, por mais que em alguns aspectos a coisa vá piorar bastante para os trabalhadores e para o povo (as vítimas de sempre), o sistema capitalista neoliberal brasileiro, que vigora sem interrupções desde 1990, permanecerá exatamente o mesmo, com a estabilidade de que goza qualquer sistema social vitorioso.
Quanto ao pacote econômico anunciado por Temer em maio, trata-se, real e concretamente, do famoso ajuste fiscal, aquele que o Joaquim Levy tentou mas não conseguiu nos impor, um tanto agudizado para compensar o atraso na sua implementação.
Com desemprego, com violência urbana crescente, com crise política, com todo o subdesenvolvimento do Brasil, o sistema continua vigoroso, voraz, imenso, total, quase sem oposição e, principalmente, sem grandes alterações.
CELSO LUNGARETTI / ANDRÉ MAURO
STILL CRAZY AFTER ALL THESE YEARS
Sou o antigo crítico de rock André Mauro. Quer dizer, o ex-guerrilheiro Celso Lungaretti. Melhor ainda: ambos.
Dupla identidade é um ingrediente fascinante nas artes populares, desde Dr. Jeckyll/Mr. Hide até Clark Kent/Super-Homem. Houve quem dissesse que o George W. Bush era um clone do Hitler com o bigode raspado…
O próprio Maluco Beleza deu uma tacada certeira nessa direção: “Raul Seixas e Raulzito/ Sempre foram o mesmo homem/ Mas pra aprender o jogo dos ratos/ Transou com Deus e com o lobisomem” (As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor).
Mas, não foi por amor à arte que eu, Celso Lungaretti, vivi minha fase André Mauro. Foi por necessidade, mesmo… (continua aqui)
DALTON ROSADO
O FIM DOS FINS DA POLÍTICA
Bastou a descoberta de um instrumento de coerção (prisão) concomitante à possibilidade de anistia parcial da prática de crimes (por meio da delação premiada) para que os políticos demonstrassem duas coisas:
- a podridão generalizada que caracteriza historicamente as relações do poder político;
- o caráter dos delatores.
Como sabemos, o dinheiro do Estado, falaciosamente tido como coisa pública (res publicae), é na verdade tratado como coisa de ninguém (res nullius), desde o império romano, e tem a função estratégica de financiar a manutenção da opressão sistêmica perante aquele que sustenta o próprio Estado: o oprimido contribuinte, já espoliado pela extração de mais-valia capitalista, e ainda chamado ao pagamento dos impostos que financiam a máquina estatal… (continua aqui)
APOLLO NATALI
A VEZ DO TADEUZINHO
A história do Tadeuzinho merece ser contada.
Ele é correspondente do jornal O Estado de S.Paulo na cidade paulista de São Luis do Paraitinga. Mas não faz só isso. O dia dele parece ter 48 horas.
Começa correndo cinco quilômetros. Na sequência, caminha uma légua. Em seguida pedala outro tanto na sua bicicleta enferrujada. Trabalha o dia inteiro numa escola com tempo para fabricar caixões de defunto, exercer a função de agente pastoral dos enfermos, recomendar os mortos velados na igreja, ajudar nas missas e fazer suas reportagens pelas cidades da região.
Tadeuzinho se encaixa em todas essas vivências e contei a história desse brasileiro serelepe em 1981, numa reportagem para o hebdomadário O Estadinho, então o órgão de comunicação dos 7 mil funcionários do jornal O Estado de S.Paulo… (continua aqui)
PEDRO CARDOSO DA COSTA
NUANCES DO IMPEACHMENT
Durante o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff vários vícios de comportamento se repetiram na sociedade, principalmente entre os interessados.
Iniciou-se pela própria presidente e seu bunker de defesa. É comum na política brasileira apontar contradição sempre nos adversários. Com os defensores da presidente não foi diferente, ao sustentarem que o afastamento dela da Presidência da República configuraria um golpe.
Começa a sucessão de equívocos com a alegação de ter havido pecado original, em razão de o deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, ter autorizado a abertura do processo de impeachment por vingança… (continua aqui)
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.