setembro 18, 2024
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Marcus Hemerly: 'Giallo, o slasher italiano e as revistas de mistério'

Derivado do sucesso de público e a grande produção dessa modalidade de cinema nos Estados Unidos, criou-se uma roupagem eminentemente italiana denominada Giallo, ou amarelo, na língua de Dante

As antigas revistas de mistério, não raro, são lembradas com aconchegante sentimento saudosista que, inclusive, serviram se inspiração a um subgênero de suspense extremamente popular aos amantes dos sustos e calafrios. Provavelmente, o leitor já se percebeu assistido a um filme italiano, mas com personagens do tipo ‘Jack’, ‘Susan’ ou ‘Mary’, e cujo cenário se descortina em alguma parte do território americano. Derivado do sucesso de público e a grande produção dessa modalidade de cinema nos Estados Unidos, criou-se uma roupagem eminentemente italiana denominada Giallo, ou amarelo, na língua de Dante.

Algumas produções, flagrantemente oportunistas ‘pegando carona’ na popularidade dos filmes de assassinos em seus enlatados estadunidenses, outras, pérolas do gênero nas mãos habilidosas de diretores como Dario Argento, Lucio Fulci, Mario Bava, Lamberto Bava, Sergio Martino, Aldo Lado, entre outros. Inclusive, ao festejado Mario Bava é atribuído o primeiro filme giallo, A Garota que Sabia Demais (1963), que teria inaugurado o estilo. Aliás, desde a década de sessenta, eram populares os faroestes italianos situados em planícies americanas, o chamado western espaguete, contando com futuras superestrelas de Hollywood em seu casting, a exemplo das ótimas criações de Sergio Leone, com Clint Eastwood e Lee Van Cleff.

Comumente unindo o policial/mistério ao sobrenatural, em películas como o aclamado Suspiria (1977), componente da chamada trilogia das mães de Dario Argento, os mestres italianos conduzem o espectador como maestros regendo uma ária sofisticada ressoando os acordes do medo. O sabor da nostalgia se intensifica com cenários muito bem configurados, mormente em histórias ambientadas na Europa – à obviedade, não apenas o cenário do novo mundo era utilizado como pano de fundo – lembrando um pouco as produções da Hammer britânica, famosa por seus filmes de terror nas décadas de 60, 70 e 80.

Afinal, o que é Giallo? O termo deriva da cor das revistas pulp de crime italianas, com primórdios ainda na era fascista, que eram amarelas e delinearam as feições do que posteriormente amealharia o gosto popular, como a famosa   Mondadori, migrando de formato para os romances policiais e cinema. No Brasil, há dois anos a Revista Mystério Retrô faz sucesso entre os leitores do gênero, título baseado no primeiro romance policial brasileiro, “O Mystério”, publicado originalmente no ano de 1920 em formato folhetim, no jornal carioca A Folha, já extinto. Idealizada pelo biógrafo e embaixador de Agatha Christie em nosso país, o romancista Tito Prates, o periódico estimula a publicação de autores nacionais, consagrados e iniciantes, atuando como relevante fomento à leitura e divulgação da literatura nacional.

Nos anos dourados do cinema italiano, algumas produções, de baixo orçamento  e qualidade, não há de se negar, receberiam breve repúdio internacional, mas devido a verdadeiras obras-primas, desenharam o reconhecimento dos Gialli, principalmente no cenário norteamericano. Existem alguns elementos pelos quais o subgênero é caracterizado, tais como o enredo geralmente envolvendo um serial killer à solta, cenas de mutilação explícitas em meio a nudez e erotismo, como em ‘Banho de Sangue’, ‘O Estripador de Nova York’, ‘O Ventre Negro da Tarântula’ e ‘Deliria’. Frequentemente, existe um romance imbuído entre os derramamentos de sangue, exageradamente vermelho e viscoso, (nonsense hiperbólico), facas, cordas e, o que geralmente é citado em qualquer texto sobre o tema, a utilização recorrente de luvas negras quando dos aparecimentos do assassino, apetrechos indispensáveis a um bom giallo.

Alguns filmes dignos de nota ainda gravitam em torno das nuances psicológicas entre uma apunhalada e outra; entre um enforcamento ou uma cena apimentada que desnuda belos contornos corporais que, na sequência, serão trinchados pelo algoz misterioso. Chavões? Clichês? Fórmula imutável? Talvez, no entanto, uma receita apurada para uma boa diversão sem pretensões. Todavia, situações pontuais podem revelar um filme visceral no quesito violência, mas com um cenário periférico denso no plano do suspense psicológico, ou quando da revelação subjacente à motivação do perpetrador, ao passo que sua identidade é revelada.

O tom psicanalítico conjugado ao grafismo e um enredo policial bem construído revelam um bom espécime de apreciação artística em cotejo ao vetor comercial, que até mesmo flerta com eventuais teores hitchcockianos, característica pronunciada em títulos como ‘Síndrome Mortal’, ‘O estranho Vício da Senhora Wardh’, ou ‘Uma Lâmina na Escuridão’. Decerto, a tendência contemporânea à rotulação em constante inovação de nomenclaturas inócuas, tais como folk horror, porn torture, found footage entre outros, não descolore a efetiva importância e solidificação do subgênero como legitima fonte de análise e estudo, revestindo-se de premente autonomia.

Tal fato é validado pelas constantes homenagens materializadas em produções inspiradas no ‘amarelo-escuro’ italiano, inclusive com características facilmente identificáveis, a título de exemplo, no cinema de Brian de Palma, cujas abordagens psíquicas e o erotismo sempre marcaram suas obras, como nos fascinantes ‘Dublê de Corpo’ e ‘Vestida para Matar’. Então, como diferenciar o Giallo do hodierno policial, ou ainda na tendência italiana, o poliziotteschi? Cabe ao espectador analisar. Essa é a beleza das artes e ciências não exatas!

Até mesmo o clássico de Argento ‘Suspiria pode carregar um sustentáculo conceitual bem superficial do subgênero, ao apresentar mais linhas de terror sobrenatural, mas, novamente, é um exercício de interpretação e assimilação. Ao final, apresenta-se uma lista com alguns títulos como sugestão, obras dos principais representantes do giallo que, certamente, mereceriam um artigo individual sobre seus filmes e biografia. Assistam e opinem!

Alguns Títulos Pertinentes: 

A Casa com Janelas que riem.

1976, Pupi Avati.

O Ventre Negro da Tarântula.

Paolo Cavara, 1971

Alerta Vermelho da Loucura.

  1. Mario Bava.

Banho de Sangue

  1. Mario Bava

Cinco Bonecas pela Lua de Agosto.

  1. Mario Bava

Inferno.

  1. Dario Argento.

Nova York – Cidade Violenta (MurderRock).

  1. Lucio Fulci

Nua Para o Assassino.

  1. Andrea Bianchi 

O Assassino Reservou Nove Lugares

  1. Giuseppe Bennati

O Dia Negro

  1. Luigi Bazzoni

O Esquartejador de New York

  1. Lucio Fulci

O Estranho Segredo do Bosque dos Sonhos

  1. Lucio Fulci

O Gato das nove caldas

  1. Dario Argento

O Pássaro das Pluma de Cristal

  1. Dario Argento

Phenomena

  1. Dario Argento

Prelúdio Para Matar

  1. Dario Argento

Seis Mulheres para o Assassino

  1. Mario Bava

Tenebrae

  1. Dario Argento

Terror nas Trevas

  1. Lucio Fulci

Todas as Cores da Escuridão

1972, Sergio Martino

Torso

  1. Sergio Martino.

Uma lagartixa num Corpo de Mulher

  1. Lucio Fulci

Uma Lâmina da Escuridão

  1. Lamberto Bava

Vozes das Profundezas

  1. Lucio Fulci.

A morte Caminha à Meia-noite

  1. Luciano Ercoli

O que Vocês Fizeram à Solange.

  1. Massimo Dallamano.

A Breve Noite das Bonecas de Vidro.

  1. Aldo Lado.

Quem a viu morrer? 

  1. Aldo Lado.

 

 

 

 

 

 

Marcus Hemerly
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