O anjo bivalente
Um anjo desceu do lado escuro
da Lua crescente,
e invadiu meu subconsciente
enquanto eu sonhava com as areias do deserto.
Arrebatada perguntei de maneira impertinente:
– Anjo, você acha que no túmulo
acaba a vida como um sol poente?
Sua resposta foi ambivalente:
– Pode ser que a alma continue
ou desapareça no túmulo silente.
Sou um Anjo, nunca esquadrinhei
os meandros da criação divina;
eu não conheço todas as respostas,
mas sou um Anjo e o mundo me fascina.
Depois, apoiou-se no zodíaco de Dendera e falou:
– A vida humana é como uma trilha na selva.
O homem é só um microcosmo e até as paixões
estão escritas com tinta nas estrelas.
São as estrelas as grandes condutoras
deste Universo de papel e fantasia
que ancora sonhos e esperança e amor e ódio e poesia.
É preciso ser um leitor das estrelas muito atento,
perscrutar o céu, contemplar auroras,
compreender os relatos mitológicos,
pensar no zodíaco, nos quadrantes,
analisar as sinastrias e os círculos astrológicos.
É preciso avançar com cautela
(calmamente)
e perseguir o rasto da sincronicidade
entre os gestos humanos e as estrelas.
Isabel Furini
isabelfurini@yahoo.com.br
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Natural de Avellaneda, cidade portuária da Província de Buenos Aires – Argentina, e radicada em Curitiba/PR, é escritora, poetisa e educadora. Publicou 35 livros, entre eles, ‘Os Corvos de Van Gogh’. Recebeu Comenda Ordem de Figueiró (RJ); Embaixadora da Palavra pela Fundação César E. Serrano (Espanha, 2017). Tem poemas premiados no Brasil, Espanha e Portugal. Realizou recitais poéticos na 36ª Semana Literária do SESC, 2017, PR, e na Biblioteca Pública de Burlingame, Califórnia, USA (2018). É Conselheira da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia).