A grande festa
Em um determinado fim de tarde de primavera no Paraíso, Jesus se encontrava muito preocupado, abatido com o que poderia, nos próximos dias, acontecer com seu imenso rebanho na Terra, porque havia feito uma aposta com o diabo, que estava convencido que faria com que Deus destruísse o Planeta.
O Altíssimo estava por demais aborrecido com as atitudes, não apenas dos governantes, que só pensavam em guerras e corrupção, bem como a maioria dos seus filhos, principalmente os da 12 tribos de Judá, que só tinham ódio no coração e com os demais povos do nosso mundo, que estavam vivendo em grande parte para a luxúria, licenciosidade, perversão e principalmente em sexo.
Eles haviam por completo se afastado dos ensinamentos divinos.
Então, Deus estava com a séria intenção de destruir a Terra com todos os seus habitantes; conversando com Seu amado Filho (Jesus), lhe explicou o Seu intuito.
Retrucou Jesus: “Pai! Será que não há nada que Eu possa fazer para lhe persuadir a mudar de ideia, afinal, há tantos gênios no mundo e também o nosso Céu está repleto de pessoas que ainda serão lembradas na Terra por mais de vários séculos.
Deus, então lhe disse: “Você tem somente 24h para me fazer mudar de opinião, caso contrário, se tal coisa não acontecer nesse período, aí os destruirei sem qualquer compaixão.”.
Jesus mandou chamar Pedro e o Arcanjo Gabriel, lhes comunicando o desejo do Altíssimo e solicitou que eles reunissem todos os cantores existentes no Céu, avisando-os que desejava persuadi-Lo em Seu propósito.
Pedro então reuniu todos os cantores existentes no Céu e lhes falou do propósito do Altíssimo e lhes recomendou dar o máximo deles para alegrar a Deus.
Logo no horário marcado, lá estavam reunidos: Nelson Gonçalves, Gonzaguinha, o grande Luiz Gonzaga, Orlando Dias, Candeias, Pixinguinha, Ary Barroso, Lamartine Babo, Noite Ilustrada, Chiquinha Gonzaga e tantos e tantos cantores e cantoras que deixaram o seu nome na história do mundo.
Aí eles pegaram seus instrumentos de trabalho, que estavam disponíveis no Céu, e se prepararam para dar início. Jesus, então chamou o Pai, que ficou logo preocupado com tantos boêmios reunidos na Praça da Paz Celestial.
Deus mandou chamar os Elohins, Serafins, Querubins, Arcanjos, Trono, Anjos e Devas, que dariam o veredicto final após a apresentação dos cantores.
Quando Jesus deu o sinal para o início, o grande Ataulfo Alves iniciou com ‘Amélia’. Cantou tão divinamente bem e enquanto ele cantava, Jesus colocava a imagem de todas as mulheres: africanas, árabes, bem como as nordestinas, chinesas e tantas outras que sofrem diariamente por este mundo de Deus.
Então, Silvio Caldas começou com o seu ‘Chão de estrelas’ e cantou com tanta maestria que Jesus sorriu no Céu.
Em seguida, veio Anísio Silva com uma de suas pérolas: “Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora…”.
Anísio fez Jesus sorrir novamente; Ele olhou para o Altíssimo, que com Sua infinita sapiência concordou que ele era realmente muito bom.
Cartola se apresentou a seguir com sua ‘As rosas não falam’; Candeia fez todos relembrarem sua ‘Madureira chorou, Madureira chorou de dor’; veio também Altemar Dutra com uma de suas belas canções que todos cantaram ao longo dos anos de sua vida: ‘Amor, guarda bem este amor que é teu’.
Aí, Luiz Gonzaga cantou ‘Asa branca’ e Jesus aproveitou a oportunidade para mostrar ao Pai o sofrimento do povo nordestino por causa da falta de trabalho no interior e, principalmente, de água, e logicamente, pelo descaso de alguns governantes.
Ari Barroso veio homenagear o Brasil com ‘Canta Brasil’ e ‘Aquarela do Brasil’.
Jesus aproveitou a oportunidade e mostrou ao Pai Celestial toda a beleza do nosso imenso Brasil; Deus sorria e disse: “Filho, você tem mesmo razão. Quando fiz o Brasil, foi com muito carinho, por isso que ele é muito belo!
Nara Leão pegou o microfone e começou: “Estava à toa na vida; o meu amor me chamou pra ver a banda passar, cantando coisas de amor.”.
A grande Elis Regina chegou e logo abafou com ‘Como nossos pais’, ‘Águas de março’ e outras pérolas divinas das quais era intérprete. Cantou tão bem que todos os anjos a aplaudiram de pé. Clara Nunes com sua ‘Morena de Angola’ deixou a todos emocionados, não só pela beleza de sua voz, como também pela sua forma de dançar.
Veio Chiquinha Gonzaga cantando um dos seus grandes sucessos, ‘Lua branca’. Jesus olhou para o Pai Celestial e disse: “Ela teve que lutar bastante para que seu nome fosse reconhecido. Foi uma grande vencedora e percussora da mulher moderna.”.
Então, Pixinguinha começou com “Meu coração não sei porque bate feliz quando te vê…”. Deus olhou para Jesus e comentou: “Esse aí, sem sombra de dúvida, soube transmitir o amor para os da sua geração, e outras futuras, com suas canções. Jesus sorriu e disse: “Ele soube como ninguém transmitir o sentido do amor em suas canções.”.
Aí, Lupicínio Rodrigues começou a cantar a sua “Felicidade foi se embora e a saudade no meu peito ‘inda mora; e é por isso que eu gosto lá de fora, porque sei que a falsidade não vigora.”.
Logo em seguida, Dalva de Oliveira pegou o seu ‘Lenço branco’ e fez todos recordarem a sua linda voz; não só com esta canção, mas, também com a ‘Ave Maria no morro’..
Linda e Dircinha Batista emocionaram a todos com suas lindas canções; “Risque meu nome do seu caderno, pois não suporto o inferno do nosso amor fracassado…”.
O grande Lamartine Babo olhou para a Terra e lembrou de sua ‘Serra da Boa Esperança”; e de todos os hinos dos grandes clubes do Rio de Janeiro; quando ele cantou os do Flamengo e do Vasco, o Céu se dividiu, porque haviam muitos vascaínos e flamenguistas reunidos. Jesus então falou: ‘Ele foi um dos maiores compositores, mas por ser boêmio, chegou mais cedo aqui.”.
Noel Rosa puxou a viola e lançou o seu ‘Ultimo desejo’.
Catulo da Paixão Cearense olhou para o seu Ceará e cantou o seu ‘Luar do sertão’; todos ficaram pasmados com tanta beleza e com a ternura de sua voz.
Logo em seguida, Herivelto Martins começou a cantar ‘Pensando em ti’; mal ele acabou de soltar a sua bela voz, Dolores Duran iniciou com sua pérola ‘Castigo’.
Sérgio Bittencourt, pensando que ainda estava na Terra, olhou para um recinto da Praça da Paz Celestial e começou: ”Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor.”.
Vinicius de Moraes lembrou-se de uma de suas pérolas e iniciou ‘Apelo’; e até o Altíssimo ficou emocionado com ele.
Já passava da meia-noite e ainda faltavam muitas celebridades a se apresentarem, como por exemplo, Tim Maia, que, quando soltou a voz, toda a praça estremeceu e vibrou de felicidade e emoção com sua potência vocal.
Em seguida, veio Paulo Sérgio cantando a sua ‘Última canção’; Carmem Costa lhes brindou com ‘Você roubou meu sossego’; o niteroiense Jessé cantou o seu ‘Porto Solidão’ e o Céu quase chorou de emoção!
Jesus falou para o Pai Celestial: “Vamos dar uma caminhada por outras regiões da praça!”; e passaram a desfilar… Gilberto Becaud, Edith Piaf, Louis Armstrong, Frank Sinatra, Nat King Cole, Elvis Presley – que tinha um imenso prestígio no Céu – John Lennon, Franco Caruso, Carlos Gardel, Pedro Vargas e tantas outras celebridades que brindaram o mundo com suas vozes, e que, ao se apresentarem na praça, fizeram com que os Anjos e Arcanjos tivessem o desejo de serem também humanos. Então, Jesus olhou para Deus e disse: “Pai, todos eles formam uma equipe de grandes gênios que já povoaram a terra, algumas de Suas obras máximas, e Você ficava muito feliz quando eles criavam Suas pérolas, pois milhões de pessoas iriam ficar felizes cantando suas canções; Você também ficou feliz quando eles vieram para cá, pois deixariam o Paraíso mais feliz com as canções que eles entoariam diariamente. Eles fizeram e deixaram uma obra musical, e seus nomes serão lembrados por todos enquanto existir a Terra, e penso que não há necessidade de destruí-la, certo?”.
Em seguida, Jesus passou a mostrar ao Criador o que de melhor e mais belo havia no mundo, não somente na arte, mas também na natureza, e a harmonia existente entre os animais.
Deus, então olhou para seu amado Filho e disse: “Filho! Já li os Seus pensamentos e sei o que Você deseja. Em vez de acabar com a Terra vou fazer essas músicas serem lembradas por mais cinco mil anos e vou enviar todo esses cantores de volta para que eles possam compor e criarem suas pérolas, a fim de que meu povo possa viver em paz e feliz. Quanto aos que me desagradam, vou de vez em quando reuni-los em um avião, ônibus, shopping etc, e darei um jeito de trazê-los todos de uma só vez. Não há necessidade do julgamento dos Anjos, Arcanjos, Tronos, Querubins, Serafins, Devas e Elohins; porque já me decidi a favor da Terra.
Então Jesus chamou o Arcanjo Gabriel, seu auxiliar imediato, e mandou que todos os cantores se preparassem, pois eles iriam ter uma nova oportunidade na Terra; além disso, cada um deles deveria escolher o local aonde iriam nascer.
A única exigência do Altíssimo era que eles teriam que fazer uma composição que fizessem as pessoas felizes e que ela fosse voltada para a paz
Jesus ficou imensamente feliz porque conseguira mais uma vez salvar o mundo e dessa vez sem qualquer sofrimento de sua parte.
Enquanto isso, do outro lado do Paraíso, bem lá na Terra dos perdidos, o diabo chorava, chorava e chorava copiosamente; porque mais uma vez fora derrotado e teria que esperar mais cinco mil anos para tentar novamente uma investida de ter todas as almas do mundo em suas terras.
Ele chorava em desespero, pois sabia que um dia para Deus representava mil dias do homem e cinco mil anos de Deus levaria uma eternidade para passar.
Estava mais uma vez derrotado. A luz, mais uma vez, se sobressairia sobre as trevas!
Francisco Evandro de Oliveira (Farick)
jjkk@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro (RJ), é escritor e poeta, se apresentando sob o pseudônimo Farick; membro de várias academias nacionais e três internacionais e membro fundador da Academia Luminescente de Letra de Paris-França; vencedor de diversos certames literário nacionais e internacionais e foi agraciado com diversas comendas nacionais e internacionais. É autor de 24 livros, dentre os quais: Momentos Poéticos (2001), Reflexões do Amanhã (2002); A Voz do Coração (2004); O Galo de Bombaim (2008); O Pavão Ioe Queria Ser rei (infantojuvenil) e O ganso era verde (infantil), ambos de 2020. E tem mais 34 títulos para publicações vindouras. Em 2016 recebeu o Prêmio Destaque Brasil, em Taubaté. E no mesmo ano, a Medalha Luiz Vaz de Camões, pela Editora Mágico de Oz, por ter sido considerado um dos melhores escritores da língua portuguesa de 2015. Em 2017 foi agraciado pela OMDDH com vários títulos, dentre os quais: Embaixador da Paz, Prêmio Machado de Assis, Doutor Honoris Causa em Direitos Humanos e a Medalha Ruy Barbosa. No mesmo ano, recebeu a Comenda Pablo Neruda, em Santiago do Chile, por ser destaque na cultura nacional literária. Em 2020 recebeu troféu da Editora Mágico de Oz por ter sido considerado um dos 100 melhor poetas e contistas de 2019.