Ivan Fortunato – Trocar refrigerante por suco “valle” a pena?
Eu sempre acreditei ser elegante
Não beber água só beber refrigerante
O padre disse: "Não é pecado"
Mas eu sei que coisa boa não me sobra
Bebendo essas gororobas…”
Nos final dos anos 1990, um dos cantores que mais aprecio e admiro, Marcondes Falcão Maia, incluía no seu álbum “Quanto pior, melhor” a canção “Veneno também mata”.
Em versos, o artista conseguiu capturar o que hoje já é amplamente divulgado: refrigerantes e bebidas sintéticas fazem mal à saúde.
Confesso que não sei muito sobre isso e, particularmente, gosto de refrigerantes.
Assim, diante dessa ideia de que bebidas coloridas artificialmente, muito doces e carbonadas faziam mal ao organismo, começou a se popularizar a ideia de que substituir refrigerantes por sucos seria uma saída saudável para quem não abre mão de uma bebida doce para acompanhar sua refeição, um tira-gosto, ou mesmo para se refrescar.
A indústria não ficou para trás, e logo conseguiu popularizar os sucos naturalmente artificiais, vendidos em caixinhas longa vida.
Como tomar suco seria melhor, muitos e muitos litros de água com açúcar, misturados a uma pasta colorida, aromatizada e saborizada artificialmente com algumas gramas de polpa de fruta passaram a fazer bastante sucesso nos supermercados.
Suco faz bem à saúde.
Não obstante, o segredo foi descoberto: não se vende suco em caixinhas, mas algo que se assemelha a suco.
A indústria não se incomodou, pois logo descobriu uma mina de ouro: vender suco natural em garrafas de poli tereftalato de etileno, as famosas “pet” (prefiro dizer garrafas de plástico), e/ou caixinhas longa vida. Estes, muito mais caros, obviamente, pois o conteúdo não poderia ser completado com água, corantes, estabilizantes, adoçantes etc.
Recentemente, ao passear pelo supermercado, vi, de relance, o que parecia ter sido a solução ideal para quem gostaria de consumir sucos naturais e pagar um preço bastante razoável.
Uma garrafa de um litro e meio, com um belo rótulo anunciando 100% de suco, por quatro reais. E de uma conceituada indústria.
Parecia valer muito a pena. De fato, ouvi muita gente falando muito bem e quanto era saudável.
Mas, a indústria é muito criativa: é incrível o quanto ela consegue enganar seus consumidores com uma mínima vírgula, e com o famoso “zero à direita”, que não possui valor algum.
Dessa forma, ao colocar no rótulo um número a mais, desnecessário, a famosa companhia de bebidas pretende apenas iludir seu cliente, fazendo-o crer que está comprando 1500 mililitros de suco natural, ao invés de 150 misturados com 1350 mililitros de água, açúcar, reguladores de acidez, espessantes, conservantes, sequestrantes, estabilizantes e corantes artificiais.
Isso sem falar que o suco utilizado na composição é concentrado, ou seja, um preparado industrial com vários “antes” artificiais também.
Vamos olhar de perto?
“Bebi cada veneno desgraçado!
Que acabei com a massa do meu sangue
Mirinda, crush, seven-up, gini e tang
Gatorade, guaraná, pepsi e grapete
Meu bucho cada dia mais se esfola
E eu não largo a Coca-cola”
O que dizer desse lamentável rótulo? Parece que faz sentido recuperar o que Marcondes cantou quase vinte anos atrás…
Ao final, espera-se que, enquanto a centenária firma de bebidas não reconsidere seu rótulo embusteiro, as pessoas lembrem-se de ler cuidadosamente as informações dos produtos antes de comprá-los.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.